Como
se sabe, e conforme foi notícia em tudo o que é jornal, rádio e
televisão, na madrugada do último Sábado o fogo consumiu
completamente um edifício desabitado de pessoas no Largo das
Olarias, de frente para a Loja do Cidadão e paralelo à Rua da
Moeda.
Vamos
analisar
este
incêndio a dois níveis: origem e consequência. Comecemos
pelo primeiro nível, ao
que tudo indica a origem é criminosa. Segundo declarações de uma
comerciante de etnia cigana que faz parte do grupo que ganha a vida a
vender roupas e sapatos no Largo da Maracha desde Julho, do ano
passado, “Foi
fogo posto! Embora tenhamos aí algumas pessoas que ajudam a arrumar
a tenda todos os dias, só nós, os vendedores, é que tínhamos a
chave de ingresso ao armazém. Tanto é assim que os bombeiros
encontraram o cadeado fechado”.
Continuando
a citar a senhora, “Nós
ocupávamos o depósito com permissão da senhora, a proprietária,
e, porque já estava estabelecido, até íamos sair daqui
proximamente”.
Ou
seja, se em tempos lá dormiu um desabrigado – e que, alegadamente, se encontra alojado na Casa Abrigo de Coimbra,
agora não se acolhia lá qualquer pessoa. Portanto, juntando os prós
e contras, tudo indica que o fogo no armazém foi premeditado.
Sem
pretender
lançar
mais achas para a fogueira, e para que não caiam suspeitas ao
desbarato na
concorrência,
é preciso, obrigatoriamente, que a Polícia Judiciária, dando-lhe
alguma prioridade, descubra
o(s)
criminoso(s).
Até
para prevenir futuros casos análogos, é preciso não remeter este
assunto para as calendas do arquivamento por falta de provas. Mais,
se o(s) causador(es) da tragédia tinha(m) por objectivo prejudicar
amplamente os ambulantes, vai haver repetição em outros prédios
das redondezas.
Sabe-se
pouco mas,
sem
sermos investigadores,
consegue
apreender-se
alguma coisa. Levando as declarações da vendedora como verdadeiras,
dá para ver que o desastre não teve por fim
desocupar o espaço a toda a força. Naturalmente,
caindo esta premissa por terra, dá para apreender que a intenção
era arrasar a
a
venda do grupo
cigano – claro
que não se exclui
também a hipótese de se tratar de conflitos
internos,
entre eles.
E
vamos avaliar o segundo nível. Acompanhado
de 28
fotos, fomos
confrontados hoje na Internet com um pedido de ajuda de António
Madeira, proprietário
da Hospedaria Moeda, estabelecimento em prédio contíguo ao edifício
onde deflagrou a ignição. Escreveu Madeira no Facebook:
“A
"MENINA DOS MEUS OLHOS" ESTÁ GRAVEMENTE FERIDA E CASO A
INTERVENÇÃO CIRÚRGICA NÃO SEJA EFETUADA RAPIDAMENTE, PODERÁ
MESMO SER-LHE DECLARADO O ÓBITO.
Dos 16 quartos existentes, apenas quatro estão aptos a funcionar. (1 de casal, 2 triplos e 1 familiar).
Boa vontade dos intervenientes não chega, é preciso actuar JÁ SEM DEMORAS.”
Dos 16 quartos existentes, apenas quatro estão aptos a funcionar. (1 de casal, 2 triplos e 1 familiar).
Boa vontade dos intervenientes não chega, é preciso actuar JÁ SEM DEMORAS.”
Com
vários andamentos, e
começando pelo primeiro, é
deste apelo sentido que vamos partir.
Sem
saber detalhes, é
de supor que o meu amigo Madeira está atado de pés e mãos por,
presumidamente, a companhia de seguros que cobre os seus estragos
não pagar enquanto
não houver conclusão do processo. Por
conseguinte,
provavelmente,
sem ter qualquer culpa no cartório, foi apanhado pela onda
obrigacional e burocrática que não se compadece com quem tem de
ganhar a vida.
Segundo
andamento: sem saber pormenores, é de pressupor que alguns
vendedores ciganos ficaram desprotegidos pela fatalidade. Uma
desgraça é sempre uma calamidade seja lá para quem for.
Terceiro
andamento: a maioria das edificações centenárias da Baixa, tal
como esta agora tocada pelo infortúnio, são constituídas por pisos
assentes em sobrado de madeira e
paredes separadoras em enxaimel – técnica de construção antiga
onde a madeira entrelaçada predomina. Em resultado desta combustão
que perpassa facilmente a outras divisões e outros prédios
contíguos, as seguradoras não aceitam dar cobertura. Como tal,
talvez dois terços da construção existente na Zona Histórica está
entregue à sua sorte.
Quarto
andamento: é urgente o executivo municipal chamar a si a
resolução deste premente problema de elevada gravidade. E como é
que se pode resolver? Contactar uma companhia de seguros que, contra
um prémio razoável para os inscritos, aceite criar um seguro
colectivo de indemnização rápida, uma espécie de fundo-segurador
de garantia que vise acudir aos mais débeis. Dividido entre
pequenos e médios operadores comerciais, proprietários e
inquilinos, era uma forma de evitar futuras adversidades como a que
parece estar a verificar-se.
DEIXEMOS
O ESPÚRIO E VAMOS AO QUE INTERESSA
Como
se sabe, partindo
deste fogo na Baixa, está
no ar uma guerra entre as
Concelhias do
CDS/PP
e do
PS. Sem
pretender faltar ao respeito aos intervenientes, como quem diz, um
desaguisado entre
comadres em
ano de eleições, o que discutem eles? Com base nesta conflagração,
trocam galhardetes em torno dos Bombeiros Sapadores de
Coimbra.
Uma das representações, o CDS, afirma que a corporação não está
adequada às exigências da cidade, a outra, a
do
PS, como se estivesse a jogar ténis, passa a bola da
responsabilidade para o seu opositor por
ter sido governo local entre 2001 e 2013.
Enjeitando
as espadas, não seria melhor discutirem o futuro, emendando
os erros e evitando
mandar pequenos comerciantes e outros operadores para o charco, e
arrumarem o passado negro
que assombra os dois partidos?
Será
que não vêem que estamos todos fartos de querelas vazias de
conteúdo? Será que não vislumbram que é preciso argumentar
o essencial e deixar de fora o acessório?
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