Durante
os últimos anos, entre uma troca de cumprimentos diários e uma
conversa curta a narrar coisas da vida, foi uma confinante presente
a dar substância ao meu largo. Afinal, sem indivíduos, para que
servem os lugares que têm por objecto serem habitados? Como se as
comunidades fossem jardins, o povo, no seu encanto natural, são as
flores silvestres que, na sua diversidade, conferem uma panóplia de
cor, de cheiro e de animação. Tal como as plantas, no imenso
mistério que a natureza carrega ao não se prever o derradeiro, as
pessoas nascem, crescem e morrem. E foi o que aconteceu com a minha
convizinha Elsa Maria Ribeiro Fernandes. Com apenas 57 anos, depois
de um breve período em doença prolongada, foi chamada a prestar
contas. Hoje, depois das cerimónias fúnebres às 15h30, será
sepultada no Cemitério de São Martinho do Bispo.
A
nossa proximidade estreitou-se quando, em Agosto de 2016, sem o
querer, acabei por ser parte integrante num incidente grave, entre
vizinhos, que envolveu um seu filho e quase o mandou também para o
outro lado. Felizmente, tudo correu pelo melhor.
Embora
eu percebesse o definhamento físico da Elsa, por vezes, ela
aparentava não se dar conta e parecia querer prolongar a sua
existência o mais possível. Quando lhe perguntava como se sentia,
respondia-me que “melhorzita, graças a Deus, senhor Luís!”.
Uma ou outra vez, em recortes de catarse existencial, talvez mais
sorumbática e a adivinhar que o comando da sua vida não estava nas
suas mãos, respondia: “quando partir, levo no coração os meus
filhos! Em balanço interior, muito próprio de
nós mais velhos, estabelecemos sempre um conflito moral e
interrogamos: será que fizemos tudo o que devia-mos? Mas, se não
fizemos, os nossos filhos também têm obrigação de nos perdoar,
não acha, senhor Luís? Amanhã também serão pais, não é assim?"
Em
meu nome pessoal e em nome de toda a vizinhança, se posso escrever
assim, os nossos sentidos pêsames a toda a família da Elsa.
Descanse em paz, vizinha!
1 comentário:
Pois é verdade.... nos últimos 7 anos a Elsa foi... foi uma companhia diária!
Assisti ao degradar da sua condição física de à 2 anos para cá.... desde o primeiro sinal... o primeiro sintoma da doença! Assisti às suas alegrias e às suas tristezas diárias! Assisti ao seu esforço descomunal para se manter "à tona"! Olhava para ela diariamente e perguntava: "Então, Elsa? Como estás?" e eu mesma respondia: "Estou a ver: nem bem nem mal.... Uma me***!" Ela olhava me, com um sorriso triste e respondia: "É isso mesmo... Uma m****!"!
Jamais esquecerei a última vez que a vi e as suas últimas palavras, quando lhe disse mais uma das minhas babuseiras e ela com um sorriso, que desta vez adivinhava ser o seu último sorriso, balbuciou: "Só a Leninha, para me fazer rir!"!
Vou guardar apenas os nossos bons momentos! Os nossos passeios! As nossas atividades! Os nossos sorrisos cumplices! Até um dia, Elsa!
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