(IMAGEM DA WEB)
Na
última sexta-feira, o jornal Público, pela pena do jornalista
Camilo Soldado, noticiava que a APBC, Agência para a Promoção da
Baixa de Coimbra, vai implementar um mapa de estacionamentos para
dinamizar a Baixa e um plano em que os comerciantes vão dar senhas
de estacionamento aos seus clientes de modo a que estes tenham uma
hora gratuita para fazerem compras.
Ora
vamos lá por partes, primeiro, o facto de se apresentar um mapa de
estacionamentos disponíveis, teoricamente, pode ser uma boa
iniciativa. Ou seja, se é certo que vai identificar os sítios
disponíveis, também é certo que os parques privados já são
mostrados nos mapas distribuídos pelo posto de Turismo. Isto é, não
traz nada de novo, a não ser substituir os donos dos parques
privados na publicidade que deveria ser sua, e é chover no molhado.
Eu gostava era de ouvir,
ou ler, a direcção da APBC a reivindicar, com voz grossa junto da
Câmara Municipal de Coimbra, áreas gratuitas dentro da malha
urbana. Ou que todo o espaço público vigiado com parquímetros
tivesse um custo de dez cêntimos na primeira hora, para permitir que
qualquer visitante pudesse fazer compras e tratar de um assunto
rápido na Loja do Cidadão, por exemplo.
Gostava de ver também a
APBC a reivindicar que, de uma vez por todas, se clarificasse o
estacionamento ao Sábado. No tempo do “defunto” PSD -que Deus
tenha em boa guarda e que só na cor era diferente deste executivo
PS-, foi anunciado que o estacionamento no penúltimo dia da semana
seria gratuito. Acontece que nunca programaram os parquímetros
-parece-me que é da responsabilidade dos SMTUC, Serviços Municipais
de Transportes Urbanos. Então uns pagavam outros não. Para piorar a
confusão, a Polícia Municipal algumas vezes aplicou multas a quem
não pagou.
É evidente que a APBC
não está em condições de reivindicar nada à autarquia. Em
aforismo, diz o povo que não se morde a mão que estende o pão.
E, como sempre aconteceu, para o bem e para o mal -mais em baixo
explico os conceitos-, a edilidade é que estende a manta à agência
para esta se poder deitar e dormir aconchegada, e apresentar trabalho
junto dos cerca de sete dezenas de associados. Assim vamos alguma vez
a algum lado? Pode ser que sim...
E PORQUE É QUE OS
COMERCIANTES NÃO ADORMECEM COM A CANÇÃO DE EMBALAR?
A
medida agora publicitada pelo jornal Público, desta direcção da
APBC, como sendo uma ideia inovadora, já foi apresentada há mais de
meia dúzia de anos pela anterior gerência desta entidade de
promoção e festas para a Baixa de Coimbra e nunca funcionou. E como
se fosse o meu neto a interrogar ao telefone: e porque é que não
funcionou? E eu, como um avô distante por milhares de quilómetros,
responderia: meu neto, querido, qualquer medida, seja lei,
regulamento ou costume, só se consegue implantar se tiver acoplada
uma imanente carga de justeza. Se for injusta, demore pouco ou alguns
anos, acabará por nunca ser implementada, nunca funcionará e será
revogada pelo tempo. Por outras palavras, meu adorado netinho,
os comerciantes desde há mais de década e meia que vivem na “red
line”, linha vermelha. Quero dizer que as margens de
comercialização, o lucro, tem vindo a diminuir. Por outro lado, os
custos operacionais, obrigatórios para a realização do negócio,
todos os anos aumentam exponencialmente. Quero dizer-te, meu
pequenino, que os comerciantes -salvo excepções porque as
há- estão exangues, sem sangue, exauridos, esgotados, sem fôlego.
Bem sei que perguntas se cinquenta e cinco cêntimos, que é o
custo do pagamento da primeira hora, não é uma parcela ínfima? É
sim! O problema é, por um lado, o anátema do custo/obrigação, no
sentido de que é injusto. Por outro, é como pedir a um comatoso,
que está mais para lá que para cá, que cante o Vira de Coimbra.
O TEMPO DO FAZ DE
CONTA
Já
há muito tempo que tudo o que diga respeito à Baixa -e não é só
de agora, embora continue com tendência para se agravar- que o que
interessa é (a)parecer. O ser,
o mostrar de facto trabalho que desenvolva o comércio, isso é
assunto que fica adiado -para ser honesto, também não vejo qualquer
motivação nos profissionais de comércio para alterar seja o que
for. O que importa é que a Baixa seja notícia nos jornais -desde
que não seja por crime. E então se for circo, venha lá que o povo
adora e os jornais diários dão uma mãozinha. Tudo é noticiado
como belo, bem cheiroso e muito bem sucedido. Caiu-se no facilitismo
de qualquer acto, mesmo idiota e com cheiro a refugado,
ou completamente vazio de conteúdo, aparecer como uma nova
descoberta. Estamos atolados em política -não a da polis,
mas numa espécie de acção orquestrada, que nos surge sem rede de
contraditório, como uma bonita embalagem em papel multicolor
carregada de nada, e em que é ovacionada por todos, essencialmente
os que estão de fora e assistem à passagem da banda. Como há
vários interessados que (sobre)vivem do propalado bem-sucedido, o
que conta é arte do convencimento de que estamos em face de um
grande espectáculo. Perdeu-se completamente a vergonha e a massa
crítica. É tudo em perdendo.
Como afirmar que o rei vai nu
implica coragem -que não há, porque dá aborrecimentos e fecha
portas-, estamos a lavrar no terreno fértil em que a hipocrisia
alastra e campeia. Um exemplo do que afirmo? O Museu Temporário da
Memória. Esta iniciativa foi apresentada como um truque de magia.
Uma ideia genial que não passa de um pouco de nada. Um barracão
velho, com alguns artefactos e fotografias sem identificação, que
só dá para salientar o lado decrépito e abandonado da Baixa. Se
essa era mesmo a ideia, confesso, está muito bem conseguida. Na
primeira fase, até 4 de Julho, esteve quase sempre encerrado. Foram
muitos os visitantes que, tomados pela curiosidade despoletada pelos
jornais, chegavam à Rua Velha e davam com o nariz na porta.
É
muito provável que não consiga disfarçar o meu azedume para com os
organizadores deste pseudo-museu, mas quem não se sente
não é filho de boa gente. Fui
enganado de forma pouco ortodoxa, para não dizer de forma
acriançada. Começaram
por me convidar a participar. Anuí. Apresentei a ideia de com as
muitas dezenas de fotos de pessoas “diferentes” que detenho neste
blogue, que passaram e continuam a calcorrear as pedras milenares do
centro Histórico, se fazer uma exposição. De quatro dezenas que
enviei, escolheram uma vintena. Foi combinado que a cada fotografia
caberia uma resenha da sua história de vida. Concordaram que seria
assim. Durante um dia, quase sem fazer mais nada, estive a concluir o
trabalho.
Fui
visitar a exposição no dia a seguir à inauguração e verifiquei
que o combinado não estava a ser cumprido. No chão estavam meia
dúzia de folhas dobradas em papel reciclado onde se contava quem
eram os “Rostos Nossos (Des)conhecidos”.
Como não tinham número não era possível saber a quem pertencia o
arrazoado. Chamei a
atenção para o facto à direcção do “museu”.
Foi-me dito que em seguida iria ser concluído. Não houvera tempo
para fazer melhor, disseram-me. Nunca cumpriram. Escrevi um texto,
parti a louça, e
distribui-o até onde a Internet nos leva, incluindo a Universidade,
que é a entidade que paga os gastos. O link colocado na página do
Museu Temporário da Memória desapareceu em seguida. Compreende-se.
Um aborrecimento, pode lá ser uma coisa destas? Um sucesso enorme e
aparecer um parvo qualquer a manchar o brilho celeste.
Já
passaram quase dois meses e as fotos lá continuam perdidas sem
qualquer comentário. Para além disso, como era de prever, na menção
distribuída de agradecimentos a todos os colaboradores não consta o
meu nome. E onde está admiração? É lógico, quem diz a verdade,
como no tempo da Idade Média e princípio da Idade Moderna, é
colocado no Index. Para esta gente, o Sol é que gira em torno da
Terra, quem afirmar o contrário, no mínimo, é condenado ao
obscurantismo.
Resta
uma pergunta: pessoas sem memória, sem palavra e sem compromisso,
podem estar à frente de um espaço onde se procura revitalizar a
memória colectiva?
MAS
CONTINUANDO...
Continua-se
a insistir nas denominadas “Noites Brancas”.
Na última, chamada de temática e onde foram apresentados os “djs”,
em 29 de Julho, estiveram abertas 14 lojas comerciais. Num evento,
aparentemente destinado à revitalização do comércio tradicional,
faz sentido continuar a gastar energias e dinheiro público quando os
membros, os comerciantes, se desligam completamente?
Faz
sentido sim, ou melhor, deve fazer. A não ser assim, como justificar
os 35 mil euros atribuídos pela Câmara Municipal de Coimbra, na
semana passada? Não era mais limpo, de uma vez por todas, juntando
todas as festas e festinhas que se realizam na cidade, a edilidade
criar um departamento de eventos ligado ao pelouro da Cultura?
Tem
lógica continuarmos neste situacionismo? Sim, sobretudo pela
hotelaria, que é quem beneficia das “noites brancas”.
Mas a ser assim, de uma vez por todas, mostre-se se falamos de carne
ou peixe, já que o presente é uma confusão, elabore-se novos
estatutos da APBC. Vejamos o seu objecto:
“1 -A Agência tem como objecto social a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum;
2 -Para a prossecução
do seu objecto social a Agência propõe-se realizar, entre outras,
as seguintes actividades:
a) Realizar e gerir um
plano de marketing e comunicação;
b) Promover e
publicitar o conjunto comercial;
c) Definição dos
horários dos estabelecimentos;
d) Promover a
uniformização da época de campanha comerciais;
e) Garantir a animação
da baixa;
f) Fazer estudos de
mercado e estudar os hábitos de compra;
g) Editar um boletim
informativo;
h) Instalar postos de
informação aos consumidores.”
Depois
de ler o doutrinado nos estatutos da APBC, o que inferimos? No meu
entender e salvo melhor opinião, dá para ver que, em face das 8
alíneas do articulado –ainda que seja pouco claro e muito dúbio-
e pelo costume, visando o labor comercial, surge uma interrogação:
afinal o que é a APBC? É uma agência de desenvolvimento que visa
promover e modernizar a zona baixa de Coimbra –que é o ratificado
no “Objecto” do “Artigo primeiro”- ou é uma
agência que visa acompanhar o desenvolvimento da actividade
comercial?
A resposta não será tão
óbvia quanto parece. Perante o “Artigo primeiro” é
conclusiva. Mas acontece que pelas actividades descritas, e pelo que
tem sido desenvolvido nos últimos anos, o seu campo de acção é
inconclusiva e visará o segundo, o comércio. Então, chegados aqui,
somos obrigados a perguntar e o que é que vale mais, a primeira ou a
segunda questão? Ou é preciso clarificar o seu campo de acção,
sobretudo com o desaparecimento da ACIC, Associação Comercial e
Industrial de Coimbra, que foi o útero onde foi gerada a APBC?
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