Cerca das 10h30 de hoje, embora sem quebrar o silêncio
envolvente de uma manhã de Outono, a monotonia da paisagem pedonal da Rua Ferreira
Borges foi invadida pelo volume visual de um grupo de cerca de uma dúzia de pessoas
paradas, como que em sentido e a fazer formatura, em frente à porta da Coimbra
Editora. Nas suas mãos vários cartazes mostravam a motivação que os levara junto
da mais antiga livraria em actividade na cidade Coimbra. Encostado à parede e
junto a uma bandeira do Fiequimetal, Federação Intersindical das Indústrias
Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica,
Imprensa, Energia e Minas – CGTP-IN, um cartaz plasmava a razão da
concentração: “Coimbra Editora trabalhadores em greve pelos salários em atraso”.
UM POUCO DE HISTÓRIA (TRISTE) NUM FOLHETO
Um dos panfletos distribuídos aos transeuntes
pelos manifestantes plasmava o seguinte: “A
Coimbra Editora foi constituída em Agosto de 1920 e ganhou prestígio na
publicação de obras jurídicas. São seus administradores José da Ponte e João
Salgado, também responsáveis da distribuidora CE Sodilivros, falida em 2012, e
da Livraria Jurídica, cujo PER foi recentemente negado.
Em Julho de 2009, a marca Coimbra Editora foi vendida à Wolters Kluwer
Portugal (WKP), à qual foi readquirida três anos depois, em Julho de 2012, e
uma outra má opção foi a estratégia de aumentar de 4 para 15 o número de
livrarias que estiveram no início das dificuldades. Em 2014, vieram a saber há
pouco os trabalhadores, a marca Coimbra Editora voltou a ser vendida à Quimera
Editores, do Grupo Escolar. Mas do negócio, que terá sido realizado por mais de
um milhão de euros, nada reverteu para pagar a dívida aos trabalhadores, que
continua a aumentar de dia para dia, estando já em valores médios de 10,000.00
euros por trabalhador.”
O DESESPERO DE VITOR SILVA
Nas mãos de
um dos grevistas um dos cartazes chamava a atenção: “João Salgado! Estou desesperado,
o meu filho entrou para a Universidade e o mês de Setembro ainda está por
pagar.”
Dá pelo nome de Vitor Silva e,
por palavras vivas, corrobora o que está no placard.
“Estou a viver uma situação deveras aflitiva. Tenho dois filhos a estudar, um
deles entrou agora no ensino superior, e não sei como dar a volta à minha
carência financeira. Infelizmente não é apenas uma condição só minha, somos 33
funcionários a viver o mesmo problema –já fomos cerca de 80. Ou seja, estamos
sem receber subsídios de férias e de Natal desde 2012. Subsídio de alimentação
desde Outubro de 2014 e 5 salários em atraso deste mesmo ano. E ainda os salários de Setembro
e Outubro deste ano de 2015.
Não se percebe o que estão a fazer connosco. Há muito trabalho para
fazer nas oficinas de Ponte de Eiras –atrás de Vitor Silva, um outro
manifestante e colega emendou: “ainda,
ainda há trabalho! Não há é dinheiro!”
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