Tenho dias em que me sinto deslocado deste
tempo sem nexo causal –antes de continuar, convém explicar que nexo de
causalidade significa a relação directa, o vínculo, entre a conduta do agente e
o resultado por ela produzido. É assim um cordão umbilical entre a causa e o
efeito. Depois da ressalva continuemos, parece que nos actos estapafúrdios dos
donos deste mundo real, dos que detêm poder decisório, querem que bata palmas
ao paradoxal.
Para melhor se entender, vamos às notícias de
hoje –que poderia multiplicar por outras idênticas-: “Megafraude nas cartas de condução,
14 detidos”.
A maioria de nós, habituados a
este tipo de operações das autoridades, já nem pensa na sua causa e pensa para
si que ainda bem que as polícias estão alertas para o problema da corrupção. E
a nossa consciência cidadã fica por aí e não se questiona mais. Mas há muito
mais e muitas mais. No caso em análise, vale a pena dissecar a notícia e, num pequeno exercício em reflexão,
formular várias questões. Comecemos pelo básico: o que origina esta corruptela?
Numa resposta rápida poderíamos especular que todo o homem é passível de ser
contagiado nem que seja por um sorriso de uma bela mulher, ou até condoído por
uma situação de miséria que, pela omissão, o pode tornar negligente. Mas não é
esta resposta que procuro alcançar. Voltemos às cartas de condução. Nas últimas
décadas os escândalos em torno do licenciamento para conduzir têm vindo a
multiplicar-se e o que fazem os governos? De cada vez que se descobre uma trafalhulhice aumentam as dificuldades nos
exames para obter o título. Ou seja, em nome de uma segurança que não existe e
que funciona como justificação –os acidentes na estrada continuam, as tramoias idem
aspas-, transformando o simples em absurdo, fazem exactamente o contrário. O
que se deveria procurar era a harmonização entre o resultado de um teste escrito
e a eficiência prática de um candidato. Ora o que se faz é criar uma barreira
intransponível logo no primeiro lance –que, como se sabe, um teste escrito
embora geral, igual, não terá o mesmo entendimento cognoscível para todos os
candidatos. Na percepção, na inteligência, somos todos diferentes –os nossos
legisladores deveriam ler a obra do neurocientista António Damásio. A soma de
toda a ignorância, ou melhor esta estupidez, é uma catástrofe social. É a
destruição de sonhos de gente simples que, por direito, deveriam ter acesso à
sua realização.
Podemos interrogar: afinal, o que
deveria ser feito? Resposta: tornar o acesso mais simplificado. Hoje, a
necessidade de conduzir está no mesmo plano que saber mexer num computador.
Ora, se assim é, porque procedem os governos deste país desta maneira? Porque
há interesses obscuros e outros claros –como o pagar cada vez mais e encher a
barriga deste Estado sôfrego.
Voltando ao nexo causal, pegando
na consequência, na conclusão, fazendo o percurso ao contrário, deveria
analisar-se o que causou o efeito. Depois de identificado o problema deveria
combater-se o gérmen que deu origem à causa.
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