segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA




POR ALEX RAMOS


"Há uns meses,  numa reportagem da “Página da Baixa”,  ouvimos os responsáveis da APAEME, Associação Para o Apoio ao Empreendedorismo da Margem Esquerda, dizerem que havia um plano para a requalificação da Praça das Cortes, um parque de estacionamento ao fundo da Ponte de Santa Clara.  A agremiação empresarial reclamava por a Câmara  não os ouvir enquanto representante de vários empresários. Por outro lado, acho mal que nesta cidade tudo que seja público, como é o caso do estacionamento, tenha um custo associado. A meu ver a edilidade só melhorou aquele espaço degradado porque sabe que vai obter lucro dele, caso contrário adivinho que aquele espaço nunca seria revitalizado. A meu ver, onerando a paragem de automóveis, creio que vai desertificar ainda mais a Baixa. Encaro este encargo quase como uma portagem. É como se transmitisse: quer vir à Baixa ver  uma das igrejas mais antigas senão  a mais antiga do país? Quer tomar um cafézinho  num estabelecimento emblemático?  Quer fazer compras  em ruas históricas e em lojas antigas e tradicionais? Venha, mas antes pague os direitos de passagem, exactamente como há mais de um século se praticava para transpor o rio através da ponte.
Entendo que a autarquia tenha que obter meios de financiamento, mas será que tem que afectar sempre os mesmos? Não pode captar receita através de poupança? Querem exemplos? Um exemplo simples e eficaz: a iluminação pública na cidade. Houve um projecto para Coimbra com luminárias led. O que aconteceu a esse projecto? Tanto quanto sei, as luzes  nocturnas de mercúrio gastam rios de dinheiro  e desperdiçam muita energia a alumiar  Coimbra. Essa poupança podia ser  canalizada para obras que a urbe precisa como, por exemplo, na Rua da Sofia, na Baixa e até à Alta,  onde há prédios, muitos camarários, a cair aos bocados.
Por outro lado, poderiam ser aliviadas as taxas e taxinhas que a Câmara aplica aos comerciantes como,  por exemplo, isentar a publicidade e toldos nos estabelecimentos. Continuo a ver muitos prédios a precisar de recuperação, alguns urgentes. Vejo um Centro histórico, Alta e Baixa, esventrado, esquartejado  na sua alma  e com sinais de insegurança. Repare-se no escândalo da futura Avenida Central –que deveria ser chamado de “Buraco dos Pobres”- para passar o malfadado Metro Ligeiro de Superfície.
Em relação à rotunda anunciada para servir o Continente na Auto Industrial, vamos por partes:
Sempre achei  uma confusão o trânsito naquela zona da Avenida Fernão de Magalhães. Em hora de ponta geram-se filas  enormes; depois há ruas  que a meu ver até podiam ser  pedonais , como a Simões de Castro  pois  esta rua, em parte, realiza o que outra já faz. Acho que parte da zona do Largo do Arnado poderia ser pedonal e com zonas ajardinadas  e dava-se um outro aspecto a esta área.
A rotunda, a meu ver, vem escoar mais rapidamente o trânsito,  vai haver menos confusão no tráfego automóvel.  Pergunto: o que vão instalar no meio dessa rotunda? Por que não aproveitar e mostrar algo bonito? Por que não uma estátua de alguém que lutou por esta cidade? Deveria ser algo grandioso para essa rotunda para que o visitante que demanda a Lusa Atenas sinta que esta a entrar numa cidade  grandiosa,  mítica, romântica. 
Depois, na continuação, não entendo a razão dos lojistas estarem contra a abertura do Continente. Acho que devem encarar a sua vinda como uma concorrência saudável –entre médias áreas de consumo-, que vai trazer mais pessoas à  Baixa.
Depois,  sinto que esta parte velha da cidade estagnou no tempo, ficou parada nos anos de 1980. Não se desenvolveu. Ora o que não progride morre. A meu ver, houve muitos motivos para este denominado centro comercial a céu-aberto ter chegado ao ponto a que se chegou mas um dos principais  foi os comerciantes não se adaptarem a uma nova  realidade e não terem evoluído. Hoje, penso, muitos tomam noção desta realidade e começam a  ver novas possibilidades neste novo contexto de dinâmica.
A Baixa tem que evoluir e acompanhar novas tendências, não pode ficar encalhada. É certo, os comerciantes não têm culpa na sua totalidade, a câmara também tem responsabilidade, porque  não promove, através de incentivos  fiscais e outros, a habitação. Porque, está de ver, não se atingem objectivos oferecendo baldes de tinta e para os obter é preciso assinar 200 papéis e estar meses à espera da ordem.
Se a edilidade não se pode fazer substituir aos proprietários e comerciantes, pelo menos, tem obrigação de constituir um parceiro no desenvolvimento e não (mais um) cobrador de impostos."

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