(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Há cerca de um ano, um meu conhecido
presidente de uma emérita associação de beneficência e apoio aos desabrigados
da sorte, em Coimbra, apresentou-se no meu estabelecimento para levar uns
artigos, alegadamente, para a entidade que representava. A importância era
cerca de 150,00 euros. Na hora do pagamento, apalpando o bolso interior,
atirou: “ora bolas, senhor Luís! Não
trago a carteira!”. Como o conhecia há vários anos, na minha melhor
simpatia, remeti que não havia problema nenhum e que mais tarde, quando
passasse, pagaria.
O tempo foi passando. O Inverno deu lugar à
Primavera, veio o Verão, chegou o Outono e do meu “amigo” –pensava eu- nem dinheiro,
nem recado, nem presença física. Perante o seu “esquecimento” notório, comecei
por lhe ligar para o telemóvel. Nunca me atendeu apesar de repetir a operação.
A seguir enviei mensagens de cobrador que apenas quer receber e absolutamente
mais nada: senhor presidente, tenho a
certeza de que se esqueceu da sua dívida. Peço-lhe que, quando puder, passe na
minha loja. Depois de enviar várias mensagens nunca me respondeu.
Para quem já passou por estes problemas sabe que o credor, sobretudo quando se trata de uma relação de conhecimento próximo, sente-se inibido na acção legítima de receber e, numa esperança bacoca, vai adiando a cobrança compulsiva. No meu caso, não tinha dúvida, estava perante um reiterado abuso de confiança e falta de respeito. Como nunca me deu uma explicação, a seguir comecei a telefonar para a associação que representava e para ver se o apanhava. Como não consegui, comecei por deixar recados: por favor, transmita ao presidente que o Luís, da Baixa, ligou e pede para ele entrar em contacto com urgência.
Para quem já passou por estes problemas sabe que o credor, sobretudo quando se trata de uma relação de conhecimento próximo, sente-se inibido na acção legítima de receber e, numa esperança bacoca, vai adiando a cobrança compulsiva. No meu caso, não tinha dúvida, estava perante um reiterado abuso de confiança e falta de respeito. Como nunca me deu uma explicação, a seguir comecei a telefonar para a associação que representava e para ver se o apanhava. Como não consegui, comecei por deixar recados: por favor, transmita ao presidente que o Luís, da Baixa, ligou e pede para ele entrar em contacto com urgência.
As folhas secas continuaram a cair das árvores
neste Outono de clima de veraneio e nem sombra do meu devedor. Comecei a “passar-me dos carretos” –e quando isto
acontece não se esperem beijinhos nem abraços. Comecei a pensar no meu habitual
plano de contingência e nos dois passos subsequentes: contacto e resistência pronta
para o que der e vier. Primeiro, tentar a aproximação ao relapso e obrigá-lo
marcar a data de pagamento. Segundo, no caso de incumprimento, apresentar-se na
morada ou no seu trabalho e passar lá o dia a perguntar aos vizinhos e colegas se
conhecem o devedor e, em conversa assim sem quê nem porquê, vai-se falando do
motivo de estar ali. Posso garantir que é uma medida pacífica e que,
normalmente, gera bons resultados.
Nesta última segunda-feira apresentei-me na
sede da associação e pedi para falar com o presidente. Não estava, foi-me dito.
Então precisava de comunicar com alguém responsável e pertencente à direcção.
Estava o tesoureiro. Veio e, perante algumas pessoas, interrogou acerca da
minha presença. Pedi para conversar em privado. Contei o que se estava a verificar
e expliquei a minha estada ali. O presidente, ao apresentar-se na minha loja,
invocou a sua qualidade institucional o que, por direito e em princípio, dividia a obrigação
entre a sua instituição e o seu acto privado. Embora tentando disfarçar o transtorno,
o tesoureiro sentiu algum incómodo e, titubeando, lá foi argumentando que “não era possível acontecer uma coisa destas.
A instituição não tinha necessidade de estar a dever fosse o que fosse a alguém”.
No entanto, disse, iria apresentar o assunto em reunião de direcção no dia
seguinte.
Menos de uma hora depois deste
diálogo ocorrido na última segunda-feira, recebi uma mensagem do presidente e devedor: “Senhor Luís, bom dia. Eu peço desculpa pelo
incómodo que lhe tenho causado. Eu, entre o esquecimento, o trabalho e saúde,
deixei passar o tempo. Quinta-feira ou vou aí ou se me mandar o seu NIB faço a
transferência. Para mim era mais cómodo. Ando com gripe e quanto menos andar na
rua melhor. Abraço amigo”.
Enviei-lhe os caracteres do NIB,
Número de Identificação Bancária. Passados minutos replicou: “Obrigado. Está no seu nome? E o Banco? É só
para não errar. Obrigado”.
Como fiquei na ideia de que me
iria transferir o dinheiro até hoje e não aconteceu, durante esta manhã,
liguei-lhe várias vezes. Não atendeu. Enviei-lhe uma mensagem: Bom dia, presidente. Como não me atende e
como ainda não fez a prometida transferência bancária, amanhã vou receber à
associação. Obrigado.
Passados minutos enviou uma
mensagem: “Eu disse ao Senhor Luís que
faria hoje. Estou a ir ao Multibanco fazer.”
Como uma transferência bancária, segundo sei,
demora 24 horas, ainda não sei se, de facto, a realizou ou não. Amanhã saberei.
O que é que estará a acontecer com estas pessoas,
como este dirigente que ocupa um cargo de grande responsabilidade, que deveriam
dar o exemplo à colectividade? A culpada deste procedimento é a crise? Mas que
crise?
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