Em
Julho de 2015, a Baixa, no seu
caminho ascensional em direcção ao futuro, assistiu à boa morte do
A. Loureiro, uma loja com 45 anos cujo ciclo chegava ao fim, como
escrevi na altura – engraçado, parece que foi ontem que assisti às
lágrimas contidas em sorriso simpático da Maria da Boa Morte Vieira
da Costa Loureiro, mais conhecida por “Mariazinha” entre
colegas. Nesta dupla
entrevista, escrita que lhe fiz e falada nas imagens captadas em
vídeo pelo Márcio Ramos, está lá tudo. A alegria sentida no abrir
portas de
um estabelecimento - noutra
época, no tempo em que um comerciante sabia que trabalhando
arduamente ganharia a sua independência financeira e, como
suplemento social, ganharia o respeito da comunidade. Nestes anos que
não voltam mais, o estabelecimento era a extensão do seu
proprietário, em identidade, na seriedade e como marco social -
e a
nostalgia manifestada em tristeza e dor, duplo
desgosto, por
um lado, por ver a degradação em que caiu a actividade comercial,
por outro, constatar a impotência para alterar seja o que for. Para
piorar, a idade não perdoa, e, como tal, numa avaliação necessária, verificar
que é chegada a hora de
encerrar a porta pela última vez. E,
como se ao deixar a rotina de muitas décadas, se
ficasse despido de um grande
sobretudo de uma
responsabilidade que deixou de ser.
Sentindo o vazio como
incapacitante, carregasse o
anátema do inválido no resto
de existência até ao último suspiro.
E aqui, como numa peça de teatro em que se descerra o pano sobre o palco, tudo termina.
Ontem
a Mariazinha, na sua última viagem entre nós, foi cremada no
Crematório Municipal de Taveiro. É um dos
nossos que se vai. Escrever que
o nosso meio, o nosso centro comercial, que é a Baixa, fica mais
pobre, pretendendo ser uma singela homenagem, é pouquíssimo. Ainda
que não sejam
reconhecidos,
os alicerces desta zona comercial, como
estrutura, estão implantados em pessoas como a Mariazinha e o seu
desaparecido marido, o senhor António Manuel Loureiro. Foi graças ao seu empenho e
dedicação que a Baixa, com todos os altos e baixos, é o que é
hoje.
Para
a sua família, nesta hora difícil, em nome de todos nós colegas
comerciantes, os nossos sentidos pêsames. Para a extinta agora
desaparecida uma salva de palmas.
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