“Como
a vergonha nem o sentido de justiça
nunca
foram qualidades intrínsecas dos políticos
que
governaram, e continuam a governar, esta
terra,
entre o compromisso vazio e o interesse
partidário,
foram enganado os lojistas papalvos
e
manipulando estas pessoas ao sabor da
indignidade
e da mesquinhês.”
Hoje,
durante a manhã, mais uma vez, talvez pela enésima, metade dos
vendedores de etnia cigana, ultimamente instalados no Largo da
Maracha, foi empurrada uns metros mais para a frente. O motivo da
separação do grupo foi o prédio onde funcionou a taberna do Manuel
Vasques, abandonado há cerca de vinte anos, ter entrado em obras.
Tudo
começou com o alojamento temporário (definitivo) destes
comerciantes nos finais de 1970 no espaço hoje ocupado pela Loja do
Cidadão. Em 1998, com Manuel Machado, o actual timoneiro do
município, à frente da Câmara Municipal o terreno foi vendido em
hasta pública à empresa Braga Parques por cerca de um milhão de
contos.
Por volta de 2000,
para início das obras pela firma de Braga, os vendedores de rua
foram acomodados no Largo da Maracha.
Em
2001, Machado perdeu as eleições para Carlos Encarnação, com Pina
Prata como vice-presidente da autarquia e "ex-aequo" presidente da
desaparecida ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra.
Fazendo
parte do caderno eleitoral a promessa de disciplinar a
venda desregulada, para
agradar aos comerciantes tradicionais instalados, o
primeiro passo foi abrir a discussão pública para um novo
Regulamento da Venda ambulante. Através da
deliberação número 1819, entraria em vigor em 10 de Fevereiro de
2003. Esta nova postura, em relação ao anterior, era completamente
vanguardista. Por exemplo, doutrinava que nenhum
vendedor ambulante poderia estar a vender a menos de 50 metros de um
estabelecimento comercial e a 100 de uma igreja. Ora, tal requisito
só existia no meio do Rio Mondego. Como tal, como o
propósito era desonesto e a
intenção era simplesmente
tentar
extinguir um modo de vida e um quadro cénico a todos os níveis
deprimente para uma cidade que,
nesta época, aspirava a ser Património da Humanidade,
fácil foi antever que tudo continuou igual. Mas
falharam num pormenor:
desvalorizaram a resiliência do povo cigano.
Mas, na altura, a
coligação PSD/CDS, com o vereador Pina Prata a arrebanhar as massas
ignorantes,
não desistiu. Com
a desculpa de se reclassificar o empedrado do Largo da Maracha, os
ambulantes-fixos, deslocando-os meia centena de metros, foram jogados
para a frente do extinto Armazéns Amizade. Com
a promessa de atribuição de quiosques, chegaram
a ser marcados os espaços no chão
do Largo da Maracha, onde
estiveram antes, mas, sabe-se lá por quê, com investidas regulares
da ASAE, continuaram a resistir e a oferecer os seus artigos junto ao
falido Armazéns Amizade. Entre
“ó freguês leve por
apenas cinco euros” e um
carisma que ninguém lhes pode negar, passaram a fazer parte
integrante da Baixa da cidade.
NOSSA
SENHORA DAS ELEIÇÕES AJUDE QUEM PRECISA
Esquecidos
e sem qualquer consideração por parte
da Câmara, em 2008, próximo de eleições, e novamente para agradar
aos comerciantes da Baixa, os jornais da cidade anunciavam em
parangonas “PSP (e
autarquia) põe ordem na venda ambulante do Bota Abaixo”.
Clarinho
como a água, como nunca houve vontade de resolver o problema, por lá
continuaram mais uns anos. A contrariar os políticos, que pensavam
vencer pela fadiga, os vendedores transformaram um recanto sujo
numa pequena feira participada por público. É que há um fenómeno
que ninguém pode escamotear: estejam onde estiverem, mesmo que seja
no meio do mar, revitalizando o seu meio por pregão e outras formas
de publicidade, os ciganos resistem sempre.
O
tempo, na sua modorra habitual, transformando o injusto em justo,
naturalmente, foi fazendo a inclusão dos vendedores ciganos. Se no
princípio, eram olhados de soslaio pelos confinantes lojistas -fazendo
com que o espaço ocupado para o seu negócio fosse encarado como uma
ilha -, à medida que o
declínio e a crise
comercial se tornava transversal, porque juntam muita gente à sua
volta, começaram a ser olhados pelos vizinhos com simpatia. A
natureza das coisas, sem recorrer a discursos políticos ocos
de ocasião, encarregou-se de dirimir uma tensão de
muitas décadas.
Como
a vergonha nem o sentido de justiça nunca foram qualidades intrínsecas dos políticos que governaram, e
continuam a governar, esta
terra, entre o compromisso vazio e o interesse partidário, foram
enganando os lojistas papalvos e
manipulando estas pessoas ao
sabor da indignidade e da mesquinhês.
NOSSA
SENHORA DAS ELEIÇÕES NOS VALHA, MAIS UMA VEZ
Um
ano das eleições, em Outubro de 2012, pelo executivo liderado por
Barbosa de Melo, da Coligação por Coimbra, foi anunciado que iriam
ser instalados novos quiosques para
a venda ambulante, na Praça do
Comércio e no Bota Abaixo.
Escusado será dizer que este comprometimento nunca foi levado a
sério. Mas teve um resultado: os vendedores instalados na Praça do
Comércio, fartos de ser destratados por pessoas que
não valem um caracol e que sempre brincaram com a sua humildade,
progressivamente foram desistindo de vender na medieval praça. Hoje,
nem um serve para amostra. A autarquia conseguiu pelo cansaço o que
não logrou alcançar com medidas regulamentares. E isto é digno?
(Não precisa responder!)
Claro
que os vendedores do Bota Abaixo, goste-se ou não deles, como são
diferentes, pela teimosia, não se deixando calcar, lá foram
continuando.
E,
REPETINDO UM VELHO FILME, VIERAM OS SOCIALISTAS
Em
2013, apeando os sociais-democratas do poder, os socialistas ganharam
as eleições autárquicas. Como é óbvio, sendo as diferenças de
procedimentos diminutas entre os dois partidos, não é preciso ser
bruxo para adivinhar que estes novos vencedores, senão piores, serão
iguais. O futuro, que é hoje,
veio mostrar que vindo de um
regime socialista nem bons
lojistas nem bons comunistas.
Em
22 de Junho de 2015, no executivo camarário, foi analisado um novo
Regulamento Municipal das Feiras, Venda Ambulante e da Restauração
ou Bebidas Não Sedentárias. Muito
inovador e radical, com vestes modernaças, como se calcula, foi
feito para “inglês ver”, como quem diz, para os turistas que nos
visitam. Quase a fazer cinco anos
e, para não variar, tudo continua igualzinho.
Há cerca de um ano, invocando a nova Avenida Central, foram mudados novamente para o Largo da Maracha.
Há cerca de um ano, invocando a nova Avenida Central, foram mudados novamente para o Largo da Maracha.
A
semi-transferência de hoje dos
vendedores vai no mesmo sentido. Mas, calma que ainda não vai ficar
assim. Vamos ter eleições para a Câmara Municipal em 2021, não é?
Tenhamos fé! Desta próxima
vez é que vai ser!
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