(Foto retirada do seu mural no Facebook)
“Uma
sociedade que agiganta a valorização de uns
e
desvaloriza abaixo do mínimo outros com passados
similares, na defesa da causa pública, é uma colectividade
despótica,
que, agindo na injustiça, constrói mitos e não heróis”
Segundo
os jornais diários de hoje, Diário de Coimbra e Diário as Beiras,
morreu ontem Santos Cardoso. Hoje, pelas 15h00, no centro Funerário
Nossa Senhora de Lourdes realizou-se o funeral, seguindo o féretro
para o Complexo da Figueira da Foz, onde foi cremado uma hora depois.
Segundo
o Diário de Coimbra (DC), “João José dos Santos Cardoso, que
foi vereador na Câmara Municipal de Coimbra em três mandatos,
faleceu ontem aos 84 anos. Eleito pelo Partido comunista, Santos
Cardoso seria, profissionalmente, um administrador hospitalar de
referência e, como ontem destacaram alguns dos seus amigos nas redes
sociais, um defensor do Serviço Nacional de Saúde.”
Como
ressalva, conheci pessoalmente Santos Cardoso, e falei com ele algumas vezes, aquando do falecimento do seu filho João Cardoso, em
2015, este também uma figura muito grada e interventiva aqui na
Baixa da cidade. Portanto, tendo sido amigo do seu primogénito, para
além de me lembrar muito bem dos mandatos na autarquia, entre 1980 e
90, conhecia mal o agora finado. No entanto, pela pouca convivência
que tive, deu para ver que era uma pessoa assertiva, humilde,
sensata, comedida e justa.
Segundo alguém muito próximo, foi tudo muito breve. Há uma semana
sentiu-se mal e em oito dias tudo acabou. Santos Cardoso, numa
modéstia peculiar e absoluta mesmo até no funeral -que mais abaixo
desenvolverei-, morreu como sempre viveu.
Embora
já tenha dado pessoalmente os meus sentimentos à família enlutada,
volto a reiterar em meu nome e em representação da Baixa, se posso
escrever assim, um pouco da nossa solidariedade neste momento de
sofrimento.
UMA
SOCIEDADE INJUSTA, ATÉ NA MORTE
Alguns
dias depois do desaparecimento de António Arnault -que em traços
sumários o cargo mais relevante que exerceu foi o de ministro dos
Assuntos Sociais do segundo Governo Constitucional, em 1978, e
responsável pela Lei do Serviço Nacional de Saúde em 1979-, em
que foram decretados três dias de Luto Nacional e um em Coimbra e
cujas cerimónias fúnebres foram realizadas no Convento de São
Francisco, a despedida de Santos Cardoso, vereador comunista na
Câmara Municipal de Coimbra durante três mandatos, pela carência de reconhecimento público no acto derradeiro, dá que pensar.
É
certo que no velório, entre as 14h00 e as 15h00, para despedida do
corpo, permaneceram cerca de trinta pessoas no complexo funerário.
É
certo que, em curta visita de condolências, se apresentou Manuel
Machado e Carlos Cidade, presidente e vice-presidente da autarquia.
É
certo que, desde Manuel Rocha, líder da bancada na Assembleia
Municipal pela CDU, até Francisco Queirós, vereador com pelouros no
Executivo pela CDU, passando por Manuel Louzã Henriques e outros filiados no Partido comunista, muitos marcaram presença e se mantiveram até ao
levantamento da urna.
Já
sabemos que nas próximas sessões do Executivo e da Assembleia
Municipal vão ser aclamados votos de pesar pelo desaparecimento
deste edil comunista.
Sabemos
também que, durante dois dias, ontem e hoje, a bandeira do município
estará a meia-haste.
E
pronto! Enquanto munícipes equitativos e de boa justiça, podemos
todos dormir em paz.
Acontece
que, ainda que ninguém me leve a
sério, perante o que vi e constatei na qualidade de munícipe ergo bem alto a bandeira da injustiça social e da
indignação.
Comecemos
pela notícia da sua morte nos dos matutinos conimbricenses. Para
além da foto, a notícia mereceu um pequeno rectângulo igual ao
desaparecimento de um qualquer empresário caído nas teias da morte.
A
seguir, para quem se apercebeu no final das exéquias, ressaltou a
falta da bandeira do município a cobrir a urna. Uma omissão
simplesmente lamentável.
Se
calhar, se não tivesse havido exagero nas exéquias de António
Arnault, provavelmente não estaria agora a fazer a comparação
entre as mesmas cerimónias.
Uma
sociedade que agiganta a valorização de uns e desvaloriza abaixo do
mínimo outros com passados similares, na defesa da causa pública, é
uma colectividade despótica, que, agindo na injustiça, constrói
mitos e não heróis -veja-se o caso recente de um migrante em França
ao salvar uma criança numa varanda de um prédio.
Sem
equilíbrio, não usando a mesma bitola para atribuir a cada um o que
merece, tentado distrair as massas para o acessório e esquecendo o
essencial, está a surfar-se a onda ocasional do mérito. A
consequência é a perda de objectividade do senso comum.
Claro
que nada disto é feito ao acaso. Por trás de grandes homenagens
estão sempre as máquinas partidárias a tentar capitalizar votos.
UM
PRECEDENTE
Não
se pense que esta injustiça agora cometida com Santos Cardoso
aconteceu assim, em caso isolado, por ele seguir a ideologia
comunista. Nada disso! Em Julho de 2013 morreu Mário Nunes, um
ilustre conimbricense e também vereador independente ao serviço da
coligação PSD/CDS, e aconteceu praticamente o mesmo. Chamei-lhe as
exéquias da indignação. E, para tornar o facto mais
incompreensível, salienta-se que o governo local era da sua própria
cor política. O que leva a supor que em questões de homenagens nenhuma outra força política bate o PS.
Há
um porém! Com a morte de Arnault, cedendo o Convento de São
Francisco às exéquias, foi aberto um precedente que, numa igualdade
obrigatória, futuramente deveria ser extensível a todos os servidores do
Estado, entre outros, nomeadamente vereadores e deputados com mais de
um mandato cumprido ao serviço de Coimbra.
1 comentário:
Portanto, a morte do eng. Santos Cardoso, serviu-lhe para apoucar o António Arnaut. Não me parece que seja essa a homenagem que o Eng. Santos Cardoso merece. Para mais, ele teria sabido dar o valor certo ao seu conterrâneo Arnaut. Foi "só" o criador da lei do SNS, o serviço mais importante que este país já teve. Acho que tem idade suficiente para saber a diferença entre o antes e depois. Se não tem, pode perguntar aos mais velhos. O Eng, Santos Cardoso era uma pessoa estimável, assim como foi o dr. Mário Nunes, mas acredito que saiba ver a diferença de impacto para o país de um e outro, não? Portanto, essa de que se o Arnaut merece as exéquias no convento, qualquer servidor do Estado merece, enfim...
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