(Foto desviada do jornal Notícias de Coimbra)
“Basta
olhar para a história recente, das eleições de há seis meses
atrás:
os
Cidadãos por Coimbra (CpC) perderam o único vereador; a CDU
perdeu
cerca de 1500 votos; a coligação dos partidos da direita baixou
a
sua votação e perdeu um vereador; o PS manteve o seu eleitorado de
2013
com cerca de 35%; a abstenção foi de cerca de 44%.”
Quem
acompanha minimamente a política local através da comunicação
escrita e redes sociais, se perder um minuto para pensar, fica
surpreendido com o que se passa na Câmara Municipal de Coimbra.
A
pouco mais de seis meses passados sobre as eleições autárquicas
(Outubro de 2017), a um ano das eleições para o Parlamento Europeu
e a 17 meses das eleições legislativas, vale a pena tentar uma
análise sobre o situacionismo.
Comecemos
pela composição dos vereadores eleitos no executivo: 5 pelo Partido
Socialista (PS) (com pelouro).
Um
eleito pela Coligação Democrática Unitária (CDU, agregando o PCP
e o PEV, (com pelouro).
Pela
Coligação Mais Coimbra, composta pelo PSD/CDS-PP/MPT/PPM, foram
eleitos 3 vereadores (sem pelouro).
Pelo
movimento Somos Coimbra foram eleitos dois vereadores (sem pelouro).
PORTANTO...
Ou
seja: se considerarmos que a CDU é oposição, as forças de
contestação são maioritárias no hemiciclo, isto é, seis contra
cinco. Por conseguinte, o PS é minoritário no executivo.
Como
complemento, lembro que também na Assembleia Municipal de Coimbra o
PS, igualmente, está representado em número inferior de deputados.
MAS...
Aqui
surge uma interrogação: a CDU no executivo, ainda que em parceria,
faz parte integrante da governança PS ou, pelo contrário, faz parte
da oposição? Ou nem uma coisa nem outra?
PASSEMOS
À FRENTE...
Quem
lê as declarações escritas, quer nos jornais locais ou nas redes
sociais, dos representantes da oposição, da Coligação Mais
Coimbra e do movimento Somos Coimbra, e da ambígua CDU o que
apreende?
Avancemos
pela Coligação Mais Coimbra. Comecemos no Facebook, na página
individual de cada um dos seus vereadores:
Madalena
Abreu, com cerca de 3600 amigos, o léxico ideológico de
proximidade vai da CDU ao PS, passando pelo CDS até ao movimento
Somos Coimbra.
Embora
com um trabalho político de embaixadora, com punhos de renda,
nota-se ser a mais atirada em grandes textos de reflexão, quer na
Internet quer no jornal Diário as Beiras.
Lendo
os seus comentários na rede social desta professora universitária,
pressente-se, por um lado, um cuidado em não ofender alguém, por
outro, uma grande necessidade de agradar a gregos e a troianos.
Paulo
Leitão, com 3250 amigos, a variedade ideológica distribui-se
entre todos os partidos, desde correlegionários laranja até à CDU,
passando pelo PS e o CDS.
A
criação escrita na rede social deste engenheiro é pouco profícua.
Sem grandes tiradas criativas, lendo o pouco que plasma, não se
adivinha muito sobre o seu pensamento político.
Paula
Pego, com pouco mais de uma centena de amigos na
Internet, parece apresentar-se muito comedida e pouco a
exposições mediáticas. Sem rasgo ideológico que a cole muito à
Social Democracia, esta professora universitária não mostra o que
vai na sua alma sobre o futuro de Coimbra.
Sobre
os vereadores do movimento Somos Coimbra podemos percepcionar:
José
Manuel Silva, com 5000 amigos no Facebook, esgotando e fechando a
porta a mais amizades, este vereador, nos relacionamentos de
proximidade ideológica, abarca membros locais de todos outros
partidos à esquerda e à direita.
Este
médico e professor universitário no activo é, sem margem para
dúvidas, o “enfant terrible” da oposição regional. Na
página do movimento que preside são constantes as setas envenenadas
e frustração derramada de nada poder fazer contra o líder do
executivo Manuel Machado. Acusa regularmente o autarca do PS lhe
barrar sistematicamente as portas até na consulta de documentos
necessários ao seu trabalho de edil.
Em
nome do movimento a que preside, os adejectivos de “déspota”,
“autocrático”, surdo, mudo são repetidos. É também
recorrente a acusação a Machado de ostracizar as propostas do
agrupamento político.
Como
um superdotado sempre em acção, uma espécie de sempre-em-pé,
é notória a sua capacidade de resistência e ambição de tentar
aglutinar apoios na cidade que lhe venham a garantir a reeleição no
próximo mandato.
Ana
Bastos, sem se poder contabilizar o número de amigos no
Facebook, adivinha-se que esta vereadora e professora universitária
contabilize muitas centenas senão milhares.
Na
sua página não se vislumbra um pensamento político pessoal. O que
aparece em copy-paste são textos prolixos do movimento Somos
Coimbra.
Sobre
a CDU podemos perceber o seguinte:
Francisco
Queirós, o vereador eleito pela Coligação Democrática Unitária e
na Câmara com pelouros desde 2009, na sua página do Facebook a
cerca do número de amizades não deixa muito a descoberto. Nas
largas dezenas que dão para ver, desde a esquerda à direita é
abrangente o léxico ideológico.
Percorrendo
o site, é recorrente a criação literária e a defesa dos ideais
comunistas. Na sua página raramente responde a interpelações.
Nos
seus artigos de opinião no Diário as Beiras -como o desta última
Segunda-feira, 21 de Maio, em que aflorava o estado degradado da
Baixa- é manifesta a demarcação averbada das políticas
socialistas no concelho de Coimbra.
MAS,
AFINAL, TANTO PALEIO PARA QUÊ?
Correndo
o risco de nem um leitor chegar ao fim, alonguei-me nesta crónica.
De modo aborrecido, com uma intenção deliberada, mostrei o que me
pareceu de relevante nas suas páginas do Facebook. E porquê? Por
três motivos:
No
primeiro, foi tentar mostrar que a ideia de total incapacidade na
governação conimbricense que os partidos da oposição, incluindo a
CDU, passam aos munícipes é falsa.
Perfazendo
a coligação Mais Coimbra, o movimento Somos Coimbra e a CDU uma
maioria de seis vereadores é muito fácil, acordando entre si, de
fazerem aprovar qualquer moção, proposta e tomadas de posição.
Na
segunda justificação, tendo em conta as relações transversais
entre a esquerda e a direita por parte de cada vereador da oposição
na rede social, dá para constatar que não se unem no parlamento
camarário porque não querem. Em especulação, provavelmente, pela
lógica partidária egoísta, dá mais jeito continuar a choramingar e a fazer dos socialistas no poder uma espécie de muro de
lamentações.
No
terceiro fundamento, valendo o que valer este escrito, é alertar
para as três forças em presença que continuar a seguir o mesmo
procedimento político de desunião, que já vem desde 2013, mais que
certo, vai ter custos elevados.
Basta
olhar para a história recente, das eleições de há seis meses
atrás: os Cidadãos por Coimbra (CpC) perderam o único vereador; a
CDU perdeu cerca de 1500 votos; a coligação dos partidos da direita
baixou a sua votação e perdeu um vereador; o PS manteve o seu
eleitorado de 2013 com cerca de 35%; a abstenção foi de cerca de
44%.
É
preciso fazer um desenho?
Se
a CDU não mostrar ao longo destes três anos e meio a descolagem do
PS corre o sério risco de nas próximas eleições para a Câmara de
Coimbra perder o seu único vereador.
Se
a coligação Mais Coimbra não mostrar mais empenho, está de ver,
os resultados da próxima eleição vão ser catastrófico, sobretudo
para o PSD.
Se
o movimento Somos Coimbra não for muito mais além do que parece ir
e não surpreender, pode acontecer o mesmo que ao CpC, que elegeu
apenas deputados para a Assembleia Municipal.
Era
bom pensar que, contrariamente ao que se diz, estes movimentos
independentes de cidadãos são efémeros. As pessoas votam neles
como experiência na novidade e na esperança de serem diferentes dos
partidos. O passado recente já mostrou que não são. E quando assim
acontece, depois de uma tentativa vã, os eleitores regressam aos
agrupamentos partidários, que, apesar de todos os vícios já
descritos e apesar de tudo, oferecem mais segurança e liberdade
democrática.
E fico-me por aqui. Não fui muito longo, pois não?
E fico-me por aqui. Não fui muito longo, pois não?
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