Escrevi
este texto em 2013. Ainda que seja feio a
auto-citação,
decidi voltar a postar a crónica dos
tempos
passados mas tão presente na actualidade.
Há
cerca de vinte anos encerrou a primeira mercearia no meu bairro. Eu
não me importei com isso. Para além de não ser merceeiro, em
boa verdade eu julgava haver demasiadas vendas do género. E mais, de
vez em quando o senhor Mendes, o tendeiro, até embirrava comigo
quando lhe pedia um quilo de açúcar fiado. Isto para mais de já
estar farto daqueles móveis antigos e sempre acompanhados daquele
cheiro intenso a bacalhau. A seguir foi a loja de ferragens do
Ganilho, do Augusto Neves e outras. Também não quis saber. De certo
modo até me senti vingado. Os filhos da mãe abusavam no preço do
quilo dos pregos e, para mim, eram antipáticos. Não me importei.
Afinal até havia outras lojas de ferro cá na zona. Depois foi o
supermercado Colmeia que eu frequentava, ali na rua principal. Não
me deu grande abalo. Aliás, até interiormente fiquei contente, os
gajos carregavam à bruta no custo da fruta. Outros seguiram o
fenéreo. E depois? Tivesse eu dinheiro, que não faltava onde
o gastar e pequenos mercados para fazer compras.
Passado
um tempo, na rua dos bazares, uns a seguir aos outros, começaram a
fechar todos os estabelecimentos de brinquedos. Sei lá, o Bazar do
Porto, de Lisboa, de Coimbra. Foi tudo à vida. E que me importava
isso a mim? Ora, ora! Era certo que lá comprei quase todos os
divertimentos para os meus filhos mas agora eles já estavam
crescidos. Aqueles museus interactivos de brincadeira infantil não
faziam falta nenhuma, e não me importei.
O
velho café, aquele das tertúlias, o Arcádia, encerrou e passou
para um pronto-a-vestir. Não deixei de dormir por causa disso. Eu
nem lá ia! Até digo mais, com o seu desaparecimento até fiquei
aliviado. Nunca fui à bola com os tipos que o frequentavam. Tinham a
mania da superioridade. Até pareço estar a vê-los: erectos, pêra
e barbicha, grandes bigodaças e pêlo na benta. Sempre me irritou
aquela maneira altiva dos doutores. Já antes tinham fechado os cafés
Internacional, a Brasileira, a Central e outros ainda. Eu tinha
alguma coisa com isso? O tempo foi passando e reparei que o quiosque
onde comprava o jornal diariamente encerrou. Não dei grande
importância ao assunto. Sinceramente até andava a pensar em deixar
de comprar periódicos. Para que ando eu a encher o cu aos tipos da
imprensa que, em pagamento de martírio, estão sempre a
bombardear-me com más notícias? Além de mais, se esta tabacaria
fechou havia outras certamente. Aquilo não me causou dores na
carapinha.
Soube depois que claudicou a mais importante livraria cá do burgo, a Atlântida. Não sei bem, mas creio que já durava há uma catrafada de décadas. Não me importei nada. Raramente compro um livro! Para quê? São caríssimos! E depois é cada tijolo que até me apetece mandá-los à cabeça da minha sogra. Cerrou portas aquela e outras que foram na fila? Não liguei patavina. Não me faziam falta nenhuma. Há sempre outras e outras ainda que, depois da morte desta, nascerão. Fechou o estabelecimento de artigos decorativos o Neves & Companhia, na rua de cima. Eu nem perdi um segundo a pensar nisso. Depois foram atrás a Crislex, o Saul Morgado e a Casa Bonjardim. Não me faziam falta nenhuma. Havia comércio a mais! Eu queria lá saber disso?! Até era bom para os que ficavam. Começaram a desaparecer as casas de artigos eléctricos cá do bairro e eu comecei a ter alguma dificuldade em encontrar um componente para o meu computador. Mas também não me causou engulho. Em qualquer altura pego no meu popó e vou comprar ao centro comercial mais próximo.
Soube depois que claudicou a mais importante livraria cá do burgo, a Atlântida. Não sei bem, mas creio que já durava há uma catrafada de décadas. Não me importei nada. Raramente compro um livro! Para quê? São caríssimos! E depois é cada tijolo que até me apetece mandá-los à cabeça da minha sogra. Cerrou portas aquela e outras que foram na fila? Não liguei patavina. Não me faziam falta nenhuma. Há sempre outras e outras ainda que, depois da morte desta, nascerão. Fechou o estabelecimento de artigos decorativos o Neves & Companhia, na rua de cima. Eu nem perdi um segundo a pensar nisso. Depois foram atrás a Crislex, o Saul Morgado e a Casa Bonjardim. Não me faziam falta nenhuma. Havia comércio a mais! Eu queria lá saber disso?! Até era bom para os que ficavam. Começaram a desaparecer as casas de artigos eléctricos cá do bairro e eu comecei a ter alguma dificuldade em encontrar um componente para o meu computador. Mas também não me causou engulho. Em qualquer altura pego no meu popó e vou comprar ao centro comercial mais próximo.
Reparei
que começaram progressivamente a encerrar todas as casas de música,
que vendiam discos e cd’s. Não quis saber. Eu até fazia uns
download’s gratuitos na Internet. Que tinha eu a ver com isso?
Esta
semana encerrou o meu café, aquele onde ia beber a bica todos os
dias. Era lá que ia comer e saborear o meu bolinho ao lanche e ler o
jornal à borliú. Era o café da rua estreita, não sei se
conheciam este pequeno estabelecimento... Se calhar não! Quase de
certeza de que não! Foi então que comecei a ficar preocupado. De
repente, constatei que não tenho mais nenhum bar com aquelas
condições familiares na minha zona. Mas agora é tarde para começar
a ralar-me. O proprietário já lá vai e nem quer que lhe falem da
sua (má) experiência na hotelaria.
Será que ainda vou a tempo de evitar que encerrem outras casas comerciais cá no meu bairro? Sim, o melhor é começar já. É que lembrei-me agora: eu também sou comerciante e provavelmente irei a seguir.
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