(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Os
jornais diários de ontem, Diário de Coimbra (DC) e Diário as
Beiras (DB), em primeira página, faziam referência à reunião de
terça-feira promovida pela APBC, Agência de Promoção da Baixa de
Coimbra, entre comerciantes e em que estiveram presentes dezena e
meia de interessados.
Na
sua liberdade editorial cada um salientava o que considerava mais
paradoxal. O DB chamava a atenção para “Som exterior no
Natal só com comerciantes a pagar metade” - “A
Agência de Promoção da Baixa pede ajuda para financiar animação
natalícia”. Prosseguindo o desenvolvimento da notícia no
DB, “Sem a comparticipação directa dos comerciantes não
haverá sonorização das ruas da Baixa de Coimbra durante o Natal. O
orçamento para a animação no período natalício vai forçosamente
descer, em relação ao ano passado, em detrimento de outros
projectos estruturais, como a criação de novas empresas culturais e
criativas. O presidente da APBC, Vitor Marques, chamou os
comerciantes para lhe prestar contas e orçamento para as actividades
da sempre aguardada quadra natalícia. Enquanto, em 2016, foram
gastos cerca de 19 mil euros, este ano há apenas disponível cerca
de 7.000, assegurado pela APBC. (…) “Como tivemos de fazer
opções, deixámos de fora a sonorização das ruas, que tem um
custo de 4.300 euros, e que propomos repartir pelos comerciantes”.
Sem essa comparticipação dos comerciantes, “não haverá
sonorização, porque a APBC não se vai endividar”, garante Vitor
Marques. A Agência recebeu um financiamento da Câmara Municipal de
Coimbra de 35 mil euros para 2017, sendo que “cerca de 26 mil estão
executados até à data, à média de uma actividade por mês”.
“20
NOVAS EMPRESAS CULTURAIS E CRIATIVAS”
Continuando
a citar o DB, “O “projecto do ano” para 2018 chama-se
“Indústrias culturais como alavanca do território” e tem “como
objectivo final a criação de 20 novas empresas no centro histórico
dentro deste sector”. Com uma comparticipação de 85 por cento, o
projecto custa 300 mil euros, o que quer dizer que a APBC tem de
encontrar “cerca de 45.000 euros para este projecto, que a direcção
entende que é estrutural para a Baixa. (...)”
PARAR
PARA RESPIRAR
Comecemos
por elencar o “Artigo Terceiro” -Objecto” do
Regulamento da APBC:
1-
A Agência tem como objecto social a promoção e modernização da
zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o
desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de
interesse comum;
2-
Para a prossecução do seu objecto social a Agência propõe-se
realizar, entre outras, as seguintes actividades:
a)
Realizar e gerir um plano de marketing e comunicação;
b)
Promover e publicitar o conjunto comercial;
c)
Definição dos horários dos estabelecimentos;
d)
Promover a uniformização da época de campanha comerciais;
e)
Garantir a animação da baixa;
f)
Fazer estudos de mercado e estudar os hábitos de compra;
g)
Editar um boletim informativo;
h)
Instalar postos de informação aos consumidores.
INTERVALO
PARA PERGUNTAS
Depois
de em cima consultarmos o objecto social da APBC, isto é, o seu
propósito, a finalidade da sua sua acção, surgem questões:
Pergunta:
Terá a APBC vocação para desenvolver o conceito de incubadora de
empresas na Baixa?
Resposta:
Salvo melhor opinião, não tem. Lendo o ponto 1 verifica-se que o
seu âmbito é “a promoção e modernização da zona da
baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o
desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de
interesse comum”.
(Requalificar:
“conjunto de atividades que visam melhorar uma zona pública a
nível urbanístico, ambiental, paisagístico, etc.; revitalização”)
(Desenvolvimento
da gestão unitária e integrada: “Desenvolvimento
de uma administração visando o (mais baixo) custo unitário (ao
conjunto de custos, fixos e variáveis) e integrada (combinação de
partes ou etapas que funcionam de forma completa) de serviços de
interesse comum.”
E
se dúvidas houver sobre a interpretação da sua acção vejamos as
alíneas a) b) c) d) e) f) g) h). Todas elas remetem para a
prossecução e desenvolvimento da actividade comercial na Baixa,
incluindo a animação.
Mas
imaginemos que, com outra leitura mais avalizada, até podia mesmo
explorar o conceito de incubação de empresas:
Pergunta:
É legítimo a direcção de uma entidade que visa a promoção de um
sector de actividade afirmar que ““Como tivemos de
fazer opções, deixámos de fora a sonorização das ruas, que tem
um custo de 4.300 euros, e que propomos repartir pelos comerciantes”.
Sem essa comparticipação dos comerciantes, “não haverá
sonorização, porque a APBC não se vai endividar”.
Constatação:
A APBC não se vai endividar por 4.300 euros para animar as ruas.
Constatação:
Vão ser gastos 300 mil euros na incubação de empresas. Esta verba
total está assegurada em 85 por cento -255.000 euros- por
financiamento europeu. Faltam 45.000 euros. Onde se vão buscar? Para
os obter a APBC não precisa de se endividar?
Pergunta
tola: Será que a verba que falta não virá directamente dos cofres
do município? Em 24 de Julho de 2017 -Deliberação n.º 3076/2017 (Processo 27313)- foi aprovado um subsídio de 55.000 euros para a APBC.
Pergunta
tola: A APBC não está a ser utilizada para um serviço que caberá
por inteiro à Câmara Municipal?
Pergunta
tola: Com esta prestação servilista, canalizando forças e verbas indevidamente, não estará a prejudicar as
suas dezenas de associados e toda a Baixa no seu conjunto?
Pergunta
tola: É legítimo estar a financiar pequenas empresas “startups”
quando a maioria de operadores comerciais está de corda ao pescoço,
afogado em dívidas?
Haveria
muito mais perguntas mas, para não ser demasiado longo, fico por
aqui.
Valerá
a pena pensar nisto?
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