(Imagem da Web)
Como
é público nas notícias, Manuel Machado, recandidato pelo PS,
ganhou a Câmara Municipal de Coimbra com 35,46% e conseguiu eleger 5
vereadores.
Antes
de prosseguir, parabéns e glória ao vencedor. Durante os quatro
anos que se avizinham, quer se tivesse votado nele ou não, para
todos os efeitos legais e de respeito pela cidadania, Machado é o
nosso presidente.
Continuando,
tentando dar explicação a várias questões, nomeadamente entender
os resultados, comecemos pelo vencedor: Manuel Machado.
E
nada melhor do que formular a primeira pergunta:
Sabendo-se
que, enquanto timoneiro neste últimos quatro anos à frente do
município, o seu desempenho foi tudo menos unânime, porque ganhou
este candidato com tão folgada margem sobre o segundo contendor,
Jaime Ramos, o pleito eleitoral?
Iniciemos
a resposta com uma apreciação geral sobre Manuel Machado. No
tocante à avaliação profissional, pelo pouco que sabe uma pessoa
que nunca trabalhou com ele, este representante do PS é um
economista sério e que coloca o rigor diariamente nas suas contas.
Já no desempenho político, no tocante a concursos directos
atribuídos a correlegionários e apoiantes, muito há a (mal)dizer.
Ainda que tudo dentro da legalidade, a verdade é que os socialistas
de coração, justos e de boa fé, torceram o nariz a esta prática
discutível do ponto de vista ético e a sua nomeação para segundo
mandato não gerou consensos.
Machado,
de semblante carregado e sorriso contido, é um homem apagado. Alheio
a grandes manifestações populares, detesta agrupamentos e, em
recolhimento, abriga-se no silêncio de um gabinete. Como todos os
solitários, é um perfeccionista eficiente. Céptico, só acredita
no que vê, por isso mesmo delega pouco e gosta de examinar tudo
antes da assinatura de despacho.
De
voz grossa e bem colocada, falando pausadamente, usa o timbre como
arma de dominação e tenta impressionar quem o ouve.
Homem
culto e de larga experiência política, conhece Coimbra como poucos.
Apesar de detestar o contraditório, pelo conhecimento global,
facilmente contradiz alguém que contrarie a sua opinião. Embora
tenha perfeita noção da hipocrisia à sua volta, gosta da
subserviência de quem o rodeia. O poder é o seu mundo e sem ele
sente-se um náufrago.
Tal
como em 2013, quando ganhou a edilidade ao PSD/CDS, foi candidato por
exclusão de partes. Ou seja, em Coimbra, o PS não detém grandes
quadros de nome sonante que possam competir com a oposição
laranja. Por isso mesmo, nessa altura e tal como agora, foi um
candidato de recurso, uma reserva para grandes conflitos, já a
acusar algum desgaste e cansaço. Perante o número de votos
contados, ganhou a Câmara mas não conquistou nem seduziu o
eleitorado citadino.
Devido
a um superavit anunciado -lucro do exercício, em que as
receitas são maiores que a despesa-, distribuindo milhões a IPSS´s
e relvados sintéticos a clubes de futebol na área da cidade e
realizando obras de conjuntura, soube cativar o eleitorado suburbano.
Tendo
como principal opositor o médico Jaime Ramos, inteligente,
carismático de obra feita em Miranda do Corvo mas “estrangeiro”
em Coimbra, facilmente fez troar o toque a reunir pelas trompas às
tropas socialistas em torno de Machado.
O
declarado bom desempenho económico do Governo Nacional, mesmo em
espírito de agregação, acabou por influenciar o eleitor e
beneficiar o actual vencedor da cadeira municipal.
E
sobretudo para a Baixa? Foi bom ou mau este resultado eleitoral?
Tendo
em conta a elevadíssima falta de popularidade de Machado na Baixa da
cidade, por incrível que pareça, ganhou o candidato que mais pode
fazer pelo futuro da zona histórica e retirá-la do apagamento
letárgico em que se encontra. Com várias obras estruturantes
iniciadas e prometidas, desassoreamento do rio, abertura total da
denominada Avenida Central, conclusão do metro ligeiro de superfície
sobre pneus, prometido pelo Governo, Machado está preso à conclusão
de pelo menos estas três obras públicas.
E
OUTRO GRANDE VENCEDOR É...?
O
troféu do segundo melhor, sem dúvida, vai para José Manuel Silva,
do movimento independente “Somos Coimbra”. Partindo da
rectaguarda de todos, o ex-bastonário, arguto e inteligente, soube
perceber com facilidade as fragilidades dos dois maiores contendores,
Machado e Ramos, e foi capaz de retirar dividendos da guerra aberta.
Como
diria um conhecido, a vingança serve-se fria. Lembro que Silva
chegou a ser badalado para cabeça-de-lista do movimento Cidadãos
por Coimbra (CpC), que não foi aceite por, alegadamente, ser
social-democrata e que levou a uma série de demissões. Como se
sabe, o movimento escolheu outro candidato: Gouveia Monteiro, que não
foi eleito.
E
OUTRO, NEM VENCEDOR NEM VENCIDO, É...?
A
taça para o “nem sim nem não”, vai para Francisco
Queirós, representante da CDU, e que no anterior mandato, servindo
de muleta ao PS, ocupou a vereação da Habitação no executivo
municipal. Perdendo votos em relação a 2013, sendo agora nomeado
novamente à justa, dá para ver que o eleitorado não gostou muito
do seu desempenho. Que se cuide para 2019. Se continuar na mesma
linha de pouca demarcação partidária, a CDU corre o risco de
perder o assento. Ficou o aviso intercalado entre as cores vermelha e
rosa.
E
OS GRANDE DERROTADOS SÃO...?
O
maior vencido deste pleito eleitoral, sem margem para dúvida, foi
Jaime Ramos, candidato em representação da coligação “Mais
Coimbra”, PSD/CDS/PPM/MPT.
Seguro, confiante, de sorriso
fácil, utilizando o charme como arma de convencimento, Ramos,
médico, empresário e empreendedor social, é um pragmático,
prático e eficiente, que nesta batalha pela conquista do castelo
conimbricense levou uma lição para contar em Miranda do Corvo.
Nunca o título do seu livro “Não basta mudar as moscas”
foi tão a propósito. Deu para ver que antes da mudança vem o
namoro dos apoiantes. E foi o que Ramos não soube fazer. Talvez por
excesso de confiança, usando um parafraseado verbal um pouco para o
truculento, conseguiu hostilizar os seus prováveis eleitores e criar
anticorpos. Para piorar, na abertura de uma creche em São Martinho
do Bispo sem licença de utilização, pareceu mostrar que o
cumprimento da lei é para os outros.
Para complicar ainda mais a sua
caminhada autárquica, aceitou Passos Coelho na campanha sabendo-se
que o actual presidente do PSD, em vez de constituir uma mais-valia,
é um activo tóxico em potência.
Tal
como Machado está para o PS, Ramos serviu o PSD como “última reserva” já que também este grande partido -excluindo Barbosa
de Melo, ex-presidente camarário- não tinha mais ninguém pronto a
ser crucificado na cruz. O médico de Miranda serviu como “carne
para canhão”, infantaria para abater. Passos Coelho usou
Ramos. E com este acto arrumou para sempre a ambição política de
um homem que sonhou um dia conquistar Coimbra.
Especulando,
quem teria ficado com dores de barriga de tanto rir na noite das
eleições, foi Barbosa de Melo, ex-presidente da edilidade por
renúncia de Carlos Encarnação em 2011 e que viria a perder a
cadeira para Machado em 2013.
OUTRA
CAIXA DE LENÇOS VAI PARA...?
Outro
grande perdedor foi o movimento Cidadãos por Coimbra, que largou a
mão do único vereador eleito que detinha no executivo.
Por manobras ideológicas de
controlo do poder e fé numa esquerda identitária que nem sempre
move moinhos, destruiu-se um projecto que poderia ter sido uma grande
alternativa na cidade.
Embora
pareça mal rir perante a desgraça de alguém, em face deste
fracassado plano, com gritos histéricos a ecoar, presumivelmente,
haverá muita gente de sorriso de orelha-a-orelha e, mesmo sendo
ateus, em longa lucubração, adivinha-se, a cogitar que Deus escreve
direito por linhas tortas. Desde o anterior vereador, Ferreira da Silva, passando pelos deputados à Assembleia Municipal, até ao
agora eleito José Manuel Silva, e ainda Norberto Pires, todos, à
sua maneira, alegadamente, renegados e maltratados.
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