segunda-feira, 16 de outubro de 2017

EDITORIAL: AS MESAS DE VOTO ENTREGUES A QUEM?

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(Imagem da Web)




Ficámos a saber que, após recontagem dos votos por uma Assembleia de Apuramento Geral, foram “detectadas muitas irregularidades nas eleições”, in Diário de Coimbra da última sexta-feira, 13 do corrente.
Prosseguindo a notícia do periódico, “Do apuramento geral de votos, já concluído, resulta desde já a redução de deputados socialistas na Assembleia Municipal de Coimbra – passa dos 13 eleitos directos para 12- e a entrada de mais um da CDU, que fica com seis elementos (quatro eleitos directos e dois autarcas). Mas outras consequências podem advir, tendo em conta que a Assembleia de Apuramento Geral, presidida pela juíza Paula Cristina Pereira, detectou várias irregularidades, que vão constar de acta e denunciadas junto de entidades com competência contra-ordenacional e, se caso disso, criminal.
Sobre este assunto, o movimento Cidadãos por Coimbra (CpC) manifestou repúdio contra este processo, pelos vistos, viciado -e com toda a razão, até porque foi esta agremiação que, pedindo a recontagem de votos, desencadeou a descoberta de manigâncias que, em nome do bom senso, da cidadania e da dignidade dos eleitores, não se admitem nem podem continuar a verificar-se. Em nota de imprensa, alertou o CpC para situações de “desleixo e incompetência”.
Segundo o jornal Campeão das Províncias, “Em 16,50 por cento das 139 mesas do referido acto no concelho de Coimbra foram validados e atribuídos a uma das listas concorrentes votos reconhecidamente nulos, assinala CpC, fazendo notar que, “felizmente, não houve qualquer padrão de favorecimento a uma das forças políticas”.
Neste contexto, Cidadãos por Coimbra lastima que a lei não permita à Assembleia de Apuramento Geral proceder à anulação de tais boletins.”

TUDO IGUAL, COMO DANTES

No início da década de 1990, quando a prestação às mesas era considerado um serviço cívico, como quem diz não remunerado, fui nomeado algumas vezes delegado à mesa. Depois deste desempenho começar a ser pago não mais fui solicitado para estas funções. Ao referir esta mudança de procedimento não quero dizer que tivesse ficado ressabiado. Nada disso. Quero dizer é que a mudança, porventura, pelos resultados obtidos e verificados agora, não teria sido bem sucedida.
Lembro-me também na altura de ter sido nomeado sem qualquer preparação prévia -e esta percepção era extensível aos colegas de mesa. Sempre que surgia um problema de maior, para o resolver, era com recurso a um pequeno livro editado pela Comissão Nacional de Eleições ou pela unanimidade de todos os delegados.
Pelo vistos, passados mais de vinte anos, o processo de nomeação para as mesas continua igual, isto é, sem preparação prévia de todos os escrutinadores. Quero dizer com isto que, nas alegadas falcatruas detectadas, pode estar sobretudo a omissão por desconhecimento e o amadorismo de quem está a supervisionar esta acção de tão grande responsabilidade. É engraçado que os agentes políticos, na generalidade, apenas se preocupam com a abstenção e, durante a campanha eleitoral até à exaustão, apelam ao cidadão para votar. Ou seja, preocupam-se com o acto efectivo e pouco com a logística. Como diria um amigo meu: “é à portuguesa! É cultural e ninguém leva a mal!”
De tal modo parece ser assim que até a lei eleitoral, ao não contemplar a anulação dos votos irregulares após o sufrágio, lhe dá cobertura. Dá para perceber que o legislador está cada vez mais focado no resultado final e cada vez menos atormentado com os meios como são conseguidos. Por outras palavras, se é que alguma vez as eleições tiveram as características da consciencialidade, da espontaneidade, e da liberdade, dá para ver que -numa espécie de vou ali descarregar o caderno eleitoral e volto já- o que conta mesmo é o eleitor lançar o voto numa urna e nada mais. O que vier a seguir já entra num campo obscuro que pouco importa analisar.

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