quarta-feira, 28 de junho de 2017

SALVADOR SOBRAL: HUMOR OU DENÚNCIA PÚBLICA?

(Imagem da Sapo Lifestyle)




Ontem, no concerto no Meo Arena a favor das vítimas de Pedrógão Grande, o músico Salvador Sobral, grande vencedor do Festival da Eurovisão, “durante a interpretação do tema ‘Amar Pelos Dois’, Salvador Sobral decidiu tocar ‘trompete’ com a boca e, a dada altura, surpreendeu tudo e todos. “Sinto que posso fazer qualquer coisa que vocês aplaudem. Vou mandar um peido para ver o que é que acontece" -retirado da Sapo Lifestyle.
Estalou a indignação nas redes sociais. Hoje, numa nova versão de flagelação pública, só falta crucificar o artista numa cruz e ser cuspido. Como amostra de uma sociedade que vive de flagrantes e está ávida para despejar veneno, para além da rama da árvore não há ninguém que se entranhe na floresta e, com equilíbrio e bom senso, analise então o mundo real.
Quando vi e ouvi ontem, através da televisão o seu desabafo manifestado numa graçola, no imediato achei despropositado. Afinal, pelo efeito do contexto televisivo, o país estava todo sedado e envolto numa santidade metafísica, a fazer lembrar os paroquianos que participam numa ordeira procissão da aldeia. Mesmo que o ambiente seja formal e circunstancial, qualquer manifestação contrária é sempre encarada como desrespeitosa e herege. E esta forma de estar português é transmissível a qualquer cerimónia solene, seja ela religiosa ou profana. A liturgia, seguir o culto, é imperiosa e mais forte que qualquer revolta.
Nos momentos seguintes, após o choque inicial, comecei a pensar no quanto aquela pequena frase funcionou como denúncia de uma hipocrisia reinante. Ou seja, o que conta para desencadear a ovação é o homem envolto em capa de notoriedade mediática e não a obra que produz. Poderia não ser o momento certo para Salvador Sobral dizer o que disse, mas o acto, para mim, ficará para sempre como o paradigma de mudança de uma nova realidade para uma diferente sociedade na forma de encarar a arte.
Parabéns, Salvador Sobral. Precisamos de bandeiras hasteadas contra a dissimulação no ponto mais alto da montanha social.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tanta indignação para um acto que todos cometem tanto em privacidade como em público muitas vezes, até o meu cão e não pede licença.
Aplaudir por aplaudir nem sempre dá satisfação e que o digam os artistas, eu estou com Salvador, menino inteligente e que não faz parte da mediocridade.
Os artistas devem ser ouvidos e vistos até ao final das suas actuações, o aplauso é o agradecimento do público e a sua homenagem, agora bater palmas a torto e a direito mal a rapaz abre a boca, acho que ele fez apenas o que achou melhor para ver se o ouviam apenas na sua arte. Ressabiamentos e hipocrisias é o que mais existe, juntando depois a inveja e ignorância....
Mia Seabra - Facebook

São Rosas disse...

A opinião de um amigo meu, que subscrevo.