Durante
cerca de vinte e cinco anos a sapataria Teresinha, dando luz, cor e agitação, fez parte activa da Rua Eduardo Coelho. Até há volta de
cinco anos, três empregados mal chegavam para dar vazão à
clientela. Depois de um deles atingir a idade da reforma, ficaram
duas funcionárias. Paulatinamente o negócio em toda a Baixa da
cidade, como a líbido de homem velho, foi caindo, caindo e, pelo que
se via no movimento da loja, parecia que eram demais. Dizia-se que a
sede da empresa, presumivelmente no Norte e que chegou a ter
muitas dependências espalhadas no todo nacional, pela crise
instalada no país, entrou também em dificuldades económicas e
financeiras. Constava-se por aqui que, perante os funcionários,
estava em incumprimento com os salários. Uma coisa é verdade, há
cerca de um mês as duas funcionárias deixaram o estabelecimento com
montras feitas e não voltaram a abrir. Junto das empregadas da
sapataria Teresinha, ainda tentei obter a confirmação da falta de
pagamento e que estaria na justificação do abandono do posto de
trabalho, mas elas, alegando que era um assunto do seu foro privado,
não me passaram confiança. O mensageiro é sempre mal-visto. Durante um mês, como corpo sem vida, a
loja, com tudo no sítio, ali permaneceu alheia a todas as críticas
que pudesse ocasionar. Provavelmente poucos deram por isso. Hoje a
morte de um estabelecimento já não é assunto para ninguém. É
simplesmente uma montra que se apaga na cidade. É a continuada Marcha fúnebre.
Nesta
última quarta-feira, a mostrar que o insucesso não assenta bem a
ninguém, quase furtivamente, uma carrinha carregou tudo e,
comparando que a história das coisas não difere assim tanto do
desaparecimento das pessoas, a montra, como fantasma a pairar na
antiga rua dos sapateiros outrora cheia de vida e agora com 8 lojas
encerradas, ali ficou abandonada e a desafiar a imaginação de um
qualquer escritor.
Uma
grande salva de palmas para este estabelecimento que nos deixou. Que
descanse em paz.
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