sábado, 17 de junho de 2017

A TERESINHA, QUE TODOS CONHECEMOS, MORREU






Durante cerca de vinte e cinco anos a sapataria Teresinha, dando luz, cor e agitação, fez parte activa da Rua Eduardo Coelho. Até há volta de cinco anos, três empregados mal chegavam para dar vazão à clientela. Depois de um deles atingir a idade da reforma, ficaram duas funcionárias. Paulatinamente o negócio em toda a Baixa da cidade, como a líbido de homem velho, foi caindo, caindo e, pelo que se via no movimento da loja, parecia que eram demais. Dizia-se que a sede da empresa, presumivelmente no Norte e que chegou a ter muitas dependências espalhadas no todo nacional, pela crise instalada no país, entrou também em dificuldades económicas e financeiras. Constava-se por aqui que, perante os funcionários, estava em incumprimento com os salários. Uma coisa é verdade, há cerca de um mês as duas funcionárias deixaram o estabelecimento com montras feitas e não voltaram a abrir. Junto das empregadas da sapataria Teresinha, ainda tentei obter a confirmação da falta de pagamento e que estaria na justificação do abandono do posto de trabalho, mas elas, alegando que era um assunto do seu foro privado, não me passaram confiança. O mensageiro é sempre mal-visto. Durante um mês, como corpo sem vida, a loja, com tudo no sítio, ali permaneceu alheia a todas as críticas que pudesse ocasionar. Provavelmente poucos deram por isso. Hoje a morte de um estabelecimento já não é assunto para ninguém. É simplesmente uma montra que se apaga na cidade. É a continuada Marcha fúnebre.
Nesta última quarta-feira, a mostrar que o insucesso não assenta bem a ninguém, quase furtivamente, uma carrinha carregou tudo e, comparando que a história das coisas não difere assim tanto do desaparecimento das pessoas, a montra, como fantasma a pairar na antiga rua dos sapateiros outrora cheia de vida e agora com 8 lojas encerradas, ali ficou abandonada e a desafiar a imaginação de um qualquer escritor.
Uma grande salva de palmas para este estabelecimento que nos deixou. Que descanse em paz.

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