(Imagem da Sapo Lifestyle)
Ontem,
no concerto no Meo Arena a favor das vítimas de Pedrógão Grande,
o músico Salvador Sobral, grande vencedor do Festival da Eurovisão,
“durante a interpretação do tema ‘Amar Pelos Dois’,
Salvador Sobral decidiu tocar ‘trompete’ com a boca e, a dada
altura, surpreendeu tudo e todos. “Sinto que posso fazer qualquer
coisa que vocês aplaudem. Vou mandar um peido para ver o que é que
acontece" -retirado da Sapo Lifestyle.
Estalou
a indignação nas redes sociais. Hoje, numa nova versão de
flagelação pública, só falta crucificar o artista numa cruz e ser
cuspido. Como amostra de uma sociedade que vive de flagrantes e está
ávida para despejar veneno, para além da rama da árvore não há
ninguém que se entranhe na floresta e, com equilíbrio e bom senso,
analise então o mundo real.
Quando
vi e ouvi ontem, através da televisão o seu desabafo manifestado
numa graçola, no imediato achei despropositado. Afinal, pelo efeito
do contexto televisivo, o país estava todo sedado e envolto numa
santidade metafísica, a fazer lembrar os paroquianos que participam
numa ordeira procissão da aldeia. Mesmo que o ambiente seja formal e
circunstancial, qualquer manifestação contrária é sempre encarada
como desrespeitosa e herege. E esta forma de estar português é
transmissível a qualquer cerimónia solene, seja ela religiosa ou
profana. A liturgia, seguir o culto, é imperiosa e mais forte que
qualquer revolta.
Nos momentos seguintes,
após o choque inicial, comecei a pensar no quanto aquela pequena
frase funcionou como denúncia de uma hipocrisia reinante. Ou seja, o
que conta para desencadear a ovação é o homem envolto em capa de
notoriedade mediática e não a obra que produz. Poderia não ser o
momento certo para Salvador Sobral dizer o que disse, mas o acto,
para mim, ficará para sempre como o paradigma de mudança de uma
nova realidade para uma diferente sociedade na forma de encarar a
arte.
Parabéns,
Salvador Sobral. Precisamos de bandeiras hasteadas contra a dissimulação no ponto mais alto da montanha social.
2 comentários:
Tanta indignação para um acto que todos cometem tanto em privacidade como em público muitas vezes, até o meu cão e não pede licença.
Aplaudir por aplaudir nem sempre dá satisfação e que o digam os artistas, eu estou com Salvador, menino inteligente e que não faz parte da mediocridade.
Os artistas devem ser ouvidos e vistos até ao final das suas actuações, o aplauso é o agradecimento do público e a sua homenagem, agora bater palmas a torto e a direito mal a rapaz abre a boca, acho que ele fez apenas o que achou melhor para ver se o ouviam apenas na sua arte. Ressabiamentos e hipocrisias é o que mais existe, juntando depois a inveja e ignorância....
Mia Seabra - Facebook
A opinião de um amigo meu, que subscrevo.
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