terça-feira, 20 de junho de 2017

UM COMENTÁRIO E UMA RESPOSTA DADA...

(Imagem da Web)




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "CARTA ABERTA A PEDRO MACHADO, PRESIDENTE DO TCP":

Bem, eu já visitei outras cidades no estrangeiro e outros postos de turismo e juro que nunca vi nesses postos de turismo folhetos de anúncios de todas as casas comerciais, mesmo só as dos centros históricos. O que lá vi foram informações e folhetos daquilo que distingue a cidade. No caso de Coimbra, foi aquilo que levou à sua classificação como património mundial: o fado, os monumentos, museus, etc. Mas a sua ideia não deixa de ser muito original. Mas, já agora, para que servem as associações comerciais e industriais?
Em relação aos mapas, parece-me que tem razão.


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RESPOSTA DO EDITOR

Começo por lhe agradecer o ter comentado e ter respondido a estas questões, caro anónimo conhecido.
Vou então, ponto por ponto, responder:

Bem, eu já visitei outras cidades no estrangeiro e outros postos de turismo e juro que nunca vi nesses postos de turismo folhetos de anúncios de todas as casas comerciais, mesmo só as dos centros históricos.

RESPOSTA:

Lendo por inteiro e retirando as devidas ilacções ao que escreveu, quando afirma “juro que nunca vi nessses postos de turismo folhetos de anúncios de todas as casas comerciais...”, deve depreender-se que não viu de todas mas viu de algumas.
Meu caro senhor a ideia de que todos os operadores comerciais colocarão cartões no posto de Turismo é uma falácia. Aliás, este mesmo argumento foi-me ontem apresentado pela responsável. Embora a permissão deva ser aberta a todos quantos o requeiram, restaurantes, cafés e lojas comerciais, estou em crer que só alguns se vão dar a esse trabalho. Penso que só os mais interessados optarão por esta via, nomeadamente as galerias de arte da cidade (que se contam pelos dedos de uma mão) as casas de velharias e antiguidades da cidade (que se contam pelos dedos das duas mãos), as lojas de artesanato da cidade (que, contrariamente ao que se pensa, são pouco mais do que os dedos de duas mãos), os estabelecimentos antigos e de relevância municipal (que neste momento nem me lembro de nenhum, por já terem encerrado todos) e alguns cafés e restaurantes de renome.
Embora eu já o referisse na carta aberta, não deixa de ser interessante a obsessão pela neutralidade. Ou seja, há uma preocupação intensiva em não aconselhar alguém para não ser acusado de favorecimento, mas depois, no oposto, enveredando pela indiferença, desconhece-se completamente sobre o que faz parte do comércio, o que existe e o estado em que se encontra. Tem-se uma ideia algo baseada em dogmas e mitos. Assim numa espécie de balanço entre culpados e inocentes -que, aliás, segue o mesmo pensamento igual ao cidadão comum. Naturalmente que os inocentes são os monumentos, muitos deles encerrados, e o fado local que, pelos vistos, só agora se abriu ao mundo e merece respeito e consideração. Não entendem que perseguindo um escrupuloso dever de isenção, têm (deveriam ter) outro de maior amplitude: o cumprimento de um dever de lastro social. O facto de encerrarem casas históricas na Baixa de Coimbra isso não diz respeito ao Turismo de Portugal? O encerramento de um estabelecimento numa aldeia que servia de motor de revitalização ao lugar não diz nada ao Turismo de Portugal? No fundo e contrário ao que deveriam desenvolver no país, com este alheamento e, especulando, secreto prazer ante a desgraça alheia do desmoronamento comercial, procedem como as multidões humanas perante os espectáculos de miséria e tragédia: nada fazem para o evitar e quando acontecem, ou correm a doar um euro para uma conta especial de ajuda ou carpem lágrimas de crocodilo.
É lamentável que certas instituições, que são pagas para dinamizar, se tornem ortodoxas, fechadas hermeticamente na sua concha de impunidade, e não percebam que um lugar habitado está todo encadeado entre coisas e pessoas. Olhando o Céu e com a fé em Deus, fecham-se na sua capelinha e, dormindo descansados na paz dos anjos, seguem os mandamentos da sua cartilha doutrinal. Parafraseando Anatole France, para certas instituições “a justiça é a administração da força”, apenas isto e nada mais, e ponto final e parágrafo. Para além da lei escrita não há mais mundo. Não existe interpretação, reflexão, consoante as variáveis. Num novo positivismo jurídico, tudo é seguido com a mesma régua e esquadro, tomando tudo e todos por igual.

O que lá vi foram informações e folhetos daquilo que distingue a cidade.

Uma cidade, ou qualquer outro lugar habitado, do ponto de vista turístico, é (deve ser) apresentada (ou vendida) ao visitante sempre sobre duas premissas: história e cultura. História: mostrando o passado, através da sua universalidade de séculos, falando de todos quantos contribuíram para a sua construção e o seu enriquecimento, da monumentalidade, da arquitectura, das vias de comunicação (ruas, becos e ruelas), do paisagismo natural e construido. Cultura: mostrando os hábitos e costumes das gentes, a sua música autóctone, no caso fado e folclore, o seu comércio local, sem esquecer os estabelecimentos antigos, as profissões e artes desaparecidas, falando de uma outra cidade comercial que antecedeu a actual, pequenas indústrias de tradição, a agricultura, não esquecendo que o Mondego continua a ser um celeiro agriculturado.
De forma ligeira e sintética, meu caro, a cidade, enquanto pólo de pessoas a interagir, é muito mais do que defende. Ou por outra ainda, a urbe deve e pode ser muito mais do que se pensa através de ideias pré-concebidas e feitas. Se (todos) queremos salvar a Baixa socialmente, habitacional, comercial e industrial, temos todos de criar um contrato social com urgência, e, deixando cair as ideias sem contestação, experienciar novas valências, rumo a um ordenamento que urge fazer.

No caso de Coimbra, foi aquilo que levou à sua classificação como património mundial: o fado, os monumentos, museus, etc.

Sem ser especialista na matéria, permita-me discordar completamente. O que escreveu é um completo absurdo. Os critérios de classificação da UNESCO assentam sobre várias alçadas, sobretudo o factor humano, na sua heterogeneidade, que envolve os edifícios distinguidos. O que está por detrás desta escolha é a preocupação em preservar para o futuro, mas sem perder de vista a humanidade.
Os museus não precisam de ser classificados porque contêm já uma mística, uma apologia de conservação a servir de ponte entre o passado e o presente e a projecção no futuro. Embora, em Coimbra, os museus também se abatem.
O fado, a canção de Coimbra, enquanto espécime regional e local, não foi personalizado como Património Imaterial da Humanidade. O que foi classificado foi o Fado Nacional. Isto é, creio, considerou-se que o fado de Lisboa é, em amostragem, representativo de Portugal. Embora diferente, esta diferença não chega para o singularizar. É muito parecido com o de Coimbra e Porto.
Não posso deixar de dizer que essa sua forma maniqueísta de ver não é exclusivo da sua pessoa. Há cerca de dois meses, em Abril, o Diário de Notícias, na rubrica “país positivo”, acerca da efeméride de 727 anos de existência da nossa universidade, como uma das mais antigas do mundo, entrevistou Luís Menezes, vice-reitor para o turismo da Universidade de Coimbra. Foram duas páginas de reportagem sobre os últimos quatro anos de turismo em Coimbra. Adivinhe quantas vezes este vice-reitor referiu a cidade na entrevista? Quantas é que disse? Engano seu: zero. Este senhor, num descarado umbiguismo e auto-elogiamento apenas falou na Universidade de Coimbra, no aumento de visitantes, e todos os seus monumentos. A transversalidade da riqueza turística para a cidade, no seu todo, não interessa nada. Aliás, já o tinha feito num debate sobre turismo em Coimbra e em que estive presente.

Mas, já agora, para que servem as associações comerciais e industriais?

Meu caro arguente, vejo que desconhece completamente o que se passa na cidade. Mas, como não é único, perdoo-lhe. Com passado na defesa das suas aspirações, os comerciantes não têm nenhuma associação representativa de defesa dos seus interesses. A única que existiu na cidade foi a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, que, a simbolizar o respeito pela nossa história, com cerca de 170 anos, entrou em insolvência e desapareceu.
Embora, refira-se, nos últimos anos surgiu o NERC, Associação Empresarial da Região de Coimbra, com Horácio Pina Prata, ex-presidente da ACIC, como líder. Que representatividade terá entre o universo de comerciantes? Isso não sei. Porque não consegue entrar no ramo? Estou em querer que haverá várias razões, entre elas a crise financeira que os operadores comerciais atravessam.

Em relação aos mapas, parece-me que tem razão.

Como raramente tenho razão, já me dou por satisfeito estar apenas certo aqui, na questão identificativa dos mapas. Se está mal, quanto antes, a bem da Baixa, a bem da cidade, altere-se!

2 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Luís, não é preciso tanto. Sabe que os postos de turismo não servem para fazer publicidade das casas comerciais, não sabe? Pronto, é só isso. Quanto às associações, os comerciantes que se organizem. Ninguém o faz por eles. E sei o que se passa na cidade, sei, talvez há mais anos que o senhor Luis, por acaso, nasci na Rua da Moeda. E estou bem ciente da incapacidade de os comerciantes se organizarem, se unirem e chamarem clientes. Pensa que isso começou com a crise? Quem é que não conhece a cidade?

Tó Martins disse...

Meu Caro Luís Quintãs

O tema que abordou tem pano para mangas e não me vou pronunciar aqui.
Estranhei, isso sim, o seu comentário relativamente à ACIC, ao NERC e ao seu presidente.
Não o reconheci nessa análise.
Será que também já virou "político" '
Um abraço.

António Martins