sábado, 3 de junho de 2017

METRO: UMA NOVA QUESTÃO COIMBRÃ? (2)





Como se sabe, “a Questão Coimbrã (também conhecida como Questão do Bom Senso e Bom Gosto) foi uma polémica literária ocorrida em meados do século XIX em Portugal. Contrapunha os defensores do status quo, do situacionismo, desactualizados em relação à cultura europeia, e um grupo de jovens escritores estudantes em Coimbra, que tinham assimilado as ideias novas.” -retirado da Wikipédia.
Com a reposição do metro ligeiro de superfície temos aí uma nova Questão Coimbrã? Tudo indica que sim. A polémica assenta, de um lado, pelos conservadores do sistema, os defensores do transporte sobre carril, que argumentam que quando foi retirada a linha centenária foi com a promessa de substituição pela mesma estrutura. Dizem ainda que o comboio, enquanto meio de ligação entre as populações, é mais eficiente e mais sustentável no longo prazo. No outro lado, com o Governo à cabeça, estão outros que, em face de vários constrangimentos, financeiros e económicos, pugnam por um sistema mais moderno e adaptável às variáveis demográficas do suburbano e urbano, nomeadamente “diminuir a incerteza nos valores da procura estimada; menor investimento inicial; custos de manutenção e operação mais baixos dos que já conhecidos”.
Ontem, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, em representação da cidade esteve Manuel Machado. Vindo de Lisboa expressamente para o efeito, esteve o governante Pedro Marques, Ministro do Planeamento e Infraestruturas a anunciar o (novo) projecto que substitui a infraestrutura pesada do carril por pequenos autocarros eléctricos a rodar sobre pneus, denominado de Metrobus.
Como oradores, estiveram Ana Abrunhosa, presidente da CCDRC, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, e Carlos Pina, o presidente do LNEC, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Tendo em conta os seus lugares institucionais, político e administrativo, para melhor se entender, resumidamente, vamos deixar um cheirinho do que cada um destes representantes disse:
Manuel Machado, político de longa carreira, aspirante ao segundo mandato à frente da edilidade e recandidato pelo Partido Socialista (PS), sem se comprometer em excesso pela palavra do ministro -pressentiu-se ontem na apresentação que não aposta a sua cabeça-, sabe que a realização desta obra é fundamental para o desenvolvimento da zona suburbana da cidade, da Baixa e de Coimbra. Sabe também que se esta promessa for concretizada ficará na história da urbe estudantil. Pelo contrário, se for mais um prometimento vazio, uma nuvem de esperança vâ do seu partido, que já vem de longe desde Guterres até Sócrates -este foi o coveiro da linha-, inevitavelmente, enquanto autarca, ficará associado a mais um desaire e como aproveitador barato para ganhar eleições.
Pedro Marques, político com larga experiência ao serviço do PS, ministro deste Governo, contido nas palavras mas convincente na argumentação, demonstrando um raro pragmatismo, ontem, comprometeu-se pessoalmente pela concretização da obra perante uma vasta assembleia de autarcas e cidadãos comuns. Foi ao ponto de dizer que já foi adjudicado o trabalho topográfico (com varrimento por laser) e que já está no terreno. Se não cumprir, pelo histórico de mentiras no distrito de Coimbra, compromete ainda mais a já muito debilitada credibilidade política/partidária e sobretudo o futuro do PS na zona centro. Resultado de tantos embustes sempre em tempo de eleições, quer do PS quer do PSD/CDS, é por isto mesmo que a solução agora mostrada gera desconfiança e demasiado cepticismo no cidadão comum. Era bom que Pedro Marques tivesse noção de que, com este compromisso pessoal, está a jogar no pano verde a sorte de toda a classe política.
Ana Abrunhosa, líder da CCDRC, para quem foi ontem ao salão da Câmara Municipal de Coimbra sem aprorismos, sem pré-conceitos, sem ideias pré-feitas, de espírito aberto para aceitar, se fosse caso disso, o que se ia ali apresentar vindo de uma entidade que, embora de nomeação política, é administrativa e de função pública, conseguiu sem esforço de maior passar a mensagem. Ficou claro que o anterior projecto, denominado de fase I, assente sobre carris não é financiado pela Comunidade Europeia. E esta posição de Bruxelas é determinante na decisão obrigatória de mudar de comboio para autocarro eléctrico. Abrunhosa foi sucinta e metódica ao declarar que, se por um lado, não há outra hipótese para obter financiamento, por outro, as entidades envolvidas no estudo deste novo plano são competentes, independentes e isentas.
Carlos Pina, presidente do LNEC, delegando o trabalho de apresentação para os seus colaboradores, deixou claro que a entidade que dirige é idónea, autónoma e está ao serviço de Portugal. A mostra feita através de painéis pelos seus adjuntos deixou bem patente que são meros técnicos e não políticos a vender um produto.

CIDADANIA E BAIRRISMO PRECISAM-SE

Não é preciso ser “expert” na matéria para adivinhar que quanto maiores divisões houver em torno desta proposta, maior será a probabilidade da obra não se realizar. E mais, quanto maiores cisões forem criadas, maior é a possibilidade deste Governo se esquivar à promessa feita e argumentar que não fez o prometido por não haver acordo nem condições.
Salvando-se Gouveia Monteiro, candidato do movimento Cidadãos por Coimbra, que soube antecipar e evitar o tiro no pé, é uma pena -para não dizer uma desgraça- que os candidatos à autarquia, em vez de, nesta questão, mostrarem alteridade, galhardia de estadistas, e pugnarem pelo interesse maior das populações envolvidas, sobretudo Miranda e Lousã, numa manipulação indecorosa, continuem a vasculhar no lixo social algum crédito que ainda possam recolher, nem que seja para manter a sua estúpida teimosia. Era bom que explicassem ao povo onde vão buscar os cerca de 300 milhões de euros para reporem a ferrovia. Para além disso, este novo delineamento veio fazer ressuscitar o traçado do metro dentro do perímetro urbano da cidade, uma ideia que parecia já morta e enterrada.


ARTIGOS RELACIONADOS (PARA LER CLIQUE EM CIMA)

"Editorial: Metro-autocarro ligeiro vai agora?"
"Os interesseiros do metro"

Sem comentários: