Como
se sabe, “a Questão Coimbrã (também conhecida
como Questão do Bom Senso e Bom Gosto) foi uma polémica
literária ocorrida em meados do século XIX em Portugal.
Contrapunha os defensores do status quo, do situacionismo,
desactualizados em relação à cultura europeia, e um grupo de
jovens escritores estudantes em Coimbra, que tinham assimilado
as ideias novas.” -retirado da Wikipédia.
Com
a reposição do metro ligeiro de superfície temos aí uma nova
Questão Coimbrã? Tudo indica que sim. A polémica assenta, de um
lado, pelos conservadores do sistema, os defensores do transporte
sobre carril, que argumentam que quando foi retirada a linha
centenária foi com a promessa de substituição pela mesma estrutura.
Dizem ainda que o comboio, enquanto meio de ligação entre as
populações, é mais eficiente e mais sustentável no longo prazo.
No outro lado, com o Governo à cabeça, estão outros que, em face
de vários constrangimentos, financeiros e económicos, pugnam por um
sistema mais moderno e adaptável às variáveis demográficas do
suburbano e urbano, nomeadamente “diminuir a incerteza nos
valores da procura estimada; menor investimento inicial; custos de
manutenção e operação mais baixos dos que já conhecidos”.
Ontem,
no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, em representação
da cidade esteve Manuel Machado. Vindo de Lisboa expressamente para o
efeito, esteve o governante Pedro Marques, Ministro do Planeamento e
Infraestruturas a anunciar o (novo) projecto que substitui a
infraestrutura pesada do carril por pequenos autocarros eléctricos a
rodar sobre pneus, denominado de Metrobus.
Como oradores, estiveram
Ana Abrunhosa, presidente da CCDRC, Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Centro, e Carlos Pina, o presidente do
LNEC, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Tendo em conta os seus
lugares institucionais, político e administrativo, para melhor se
entender, resumidamente, vamos deixar um cheirinho do que cada um
destes representantes disse:
Manuel
Machado, político de longa carreira, aspirante ao segundo mandato à
frente da edilidade e recandidato pelo Partido Socialista (PS), sem
se comprometer em excesso pela palavra do ministro -pressentiu-se
ontem na apresentação que não aposta a sua cabeça-, sabe que a realização desta obra é fundamental para o desenvolvimento da
zona suburbana da cidade, da Baixa e de Coimbra. Sabe também que se
esta promessa for concretizada ficará na história da urbe
estudantil. Pelo contrário, se for mais um prometimento vazio, uma
nuvem de esperança vâ do seu partido, que já vem de longe desde
Guterres até Sócrates -este foi o coveiro da linha-,
inevitavelmente, enquanto autarca, ficará associado a mais um
desaire e como aproveitador barato para ganhar eleições.
Pedro
Marques, político com larga experiência ao serviço do PS, ministro
deste Governo, contido nas palavras mas convincente na argumentação,
demonstrando um raro pragmatismo, ontem, comprometeu-se pessoalmente
pela concretização da obra perante uma vasta assembleia de autarcas
e cidadãos comuns. Foi ao ponto de dizer que já foi adjudicado o
trabalho topográfico (com varrimento por laser) e que já está no
terreno. Se não cumprir, pelo histórico de mentiras no distrito de
Coimbra, compromete ainda mais a já muito debilitada credibilidade
política/partidária e sobretudo o futuro do PS na zona centro.
Resultado de tantos embustes sempre em tempo de eleições, quer do
PS quer do PSD/CDS, é por isto mesmo que a solução agora mostrada
gera desconfiança e demasiado cepticismo no cidadão comum. Era bom
que Pedro Marques tivesse noção de que, com este compromisso
pessoal, está a jogar no pano verde a sorte de toda a classe
política.
Ana
Abrunhosa, líder da CCDRC, para quem foi ontem ao salão da Câmara
Municipal de Coimbra sem aprorismos, sem pré-conceitos, sem ideias
pré-feitas, de espírito aberto para aceitar, se fosse caso disso, o
que se ia ali apresentar vindo de uma entidade que, embora de
nomeação política, é administrativa e de função pública,
conseguiu sem esforço de maior passar a mensagem. Ficou claro que o
anterior projecto, denominado de fase I, assente sobre carris não é
financiado pela Comunidade Europeia. E esta posição de Bruxelas é
determinante na decisão obrigatória de mudar de comboio para
autocarro eléctrico. Abrunhosa foi sucinta e metódica ao declarar
que, se por um lado, não há outra hipótese para obter
financiamento, por outro, as entidades envolvidas no estudo deste
novo plano são competentes, independentes e isentas.
Carlos
Pina, presidente do LNEC, delegando o trabalho de apresentação para
os seus colaboradores, deixou claro que a entidade que dirige é
idónea, autónoma e está ao serviço de Portugal. A mostra feita
através de painéis pelos seus adjuntos deixou bem patente que são
meros técnicos e não políticos a vender um produto.
CIDADANIA
E BAIRRISMO PRECISAM-SE
Não
é preciso ser “expert” na matéria para adivinhar
que quanto maiores divisões houver em torno desta proposta, maior será a probabilidade da obra não se realizar. E mais, quanto
maiores cisões forem criadas, maior é a possibilidade deste Governo
se esquivar à promessa feita e argumentar que não fez o prometido
por não haver acordo nem condições.
Salvando-se
Gouveia Monteiro, candidato do movimento Cidadãos por Coimbra, que
soube antecipar e evitar o tiro no pé, é uma pena -para não dizer
uma desgraça- que os candidatos à autarquia, em vez de, nesta
questão, mostrarem alteridade, galhardia de estadistas, e pugnarem
pelo interesse maior das populações envolvidas, sobretudo Miranda e
Lousã, numa manipulação indecorosa, continuem a vasculhar no lixo
social algum crédito que ainda possam recolher, nem que seja para
manter a sua estúpida teimosia. Era bom que explicassem ao povo onde
vão buscar os cerca de 300 milhões de euros para reporem a
ferrovia. Para além disso, este novo delineamento veio fazer
ressuscitar o traçado do metro dentro do perímetro urbano da
cidade, uma ideia que parecia já morta e enterrada.
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