quinta-feira, 7 de abril de 2022

PÓVOA DA MEALHADA: SÃO JOSÉ AGRADECIDO

 

(FOTOS DE HUGO SANTOS)



Nos últimos dois anos, São José entristeceu no largo com o mesmo nome, na Póvoa da Mealhada. Como se fosse uma sombra do antigamente, o aspecto era macilento, olhos encovados e rodeados de acentuadas olheiras, cabelos desgrenhados e barba hirsuta, mal cuidada, e até os braços, outrora fortes que seguravam o menino, estavam agora flácidos e muito magrinhos.

Pelos crentes pelo seu bom trabalho ao longo dos séculos, agora prostrado em descrédito pela população, tudo indicava ser mais um fazedor de milagres caído em desgraça na comunhão dos mais de vinte mil nomeados pela igreja.

Os transeuntes, olhando para dentro do pequeno altar instalado nas “Alminhas”, mandado erigir por um grupo de moradores em 1967, a propósito muito escanzelado e com as paredes a largar a tinta em farrapos como pingos de suor, no terreiro com o nome do Santo, dividiam-se em duas classes, uma que desculpava o seu deplorável estado anímico com uma lamúria: “Coitadinho, está esgotado, isto tem a ver com a pandemia. Nem os eleitos por Deus escapam”. E faziam o sinal da cruz.

Outros, sem qualquer respeito pelo esforçado labor histórico da entidade, numa espécie de “se não trabalhas não levas nada”, já nem se davam ao trabalho de fazer contratos. Com o maior despautério, despropósito, mandavam um olhar de desprezo e, espiritualmente mais vazios do que nunca, continuavam a passo largo em direcção a nenhures.

Foi então que, apercebendo-se da tragédia anunciada no Largo de São José, Hugo Santos, um burriqueiro nascido no sopé da Serra do Bussaco, no Luso, mas gentilmente acolhido e acarinhado pelo povo da Póvoa, bom samaritano, em muitas noites de insónia, começou a engendrar uma forma de dar a mão à venerável criação divina, começando por restaurar a pequena ermida.

Se melhor o pensou mais depressa levou a ideia à prática. Contactou um grupo de amigos “carolas”, que estão sempre prontos a ajudar, falou com algumas firmas locais para ajudarem nos materiais de construção civil e de repente, o homem sonha e a obra nasce. E pronto, a capelinha estava um “brinquinho”.

Mas o nosso homem, como a primeira obra correu bem, não descansou enquanto não partiu para outra. A seguir iria recuperar a velha festa de São José, que há muito não se realizava. É óbvio que iria criar engulhos em alguns humanos e concorrência pouco virtuosa entre a classe milagreira.

Os locais, com língua afiada, e que não podem ver uma camisa lavada a uma imagem santifica, acusaram o “Santos” de estar a beneficiar a família… dos Santos.

Por sua vez, Sant’Ana, a cerca de uma centena de metros mais abaixo na catedral com o mesmo nome, foi tomada de ciúmes pouco edificantes e, pronta abrir uma guerra entre trabalhadores do mesmo ofício, na falta de seu marido, São Joaquim, falecido há muito tempo, pôs logo o digníssimo Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada ao barulho.

Alegadamente, a venerada, mãe de Maria de Nazaré, entendia que, sendo mais importante na cidade que São José, estava a ser discriminada. Não se sabe como é que o responsável pela irmandade “descalçou a bota”.

E CHEGOU O DIA DO SANTO


E veio o dia 19 de Março, Dia de São José e Dia do Pai.

O largo estava todo engalanado. A capela das “Alminhas”, com novo “lifting”, refulgia no cruzamento de vários destinos desta vida. Como se fosse uma tapeçaria persa, um tapete de flores naturais, duplamente, enaltecia no chão a veneração ao Dia do Pai e ao padroeiro da festividade.

Dentro do oratório, São José, que só tinha vistas de enleio para o benfeitor Hugo Santos, de olhos brilhantes e faces rosadas, parecendo rejubilar de alegria, só lhe faltava falar e dizer o quanto estava agradecido, e, já recuperado da melancolia, estava pronto para as curvas.

Ao bater das 10h00, realizou-se uma caminhada solidária em torno da Póvoa, Reconco e São Romão.

Pelas 14h00, com a colaboração do pároco local, houve uma cerimónia para homenagear os fundadores do pequeno templo de oração e seguindo-se uma arruada com a Banda Filarmónica da Pampilhosa.

Pelas 18h00 houve missa na igreja dirigida pelo padre Rodolfo Leite,

E o culminar da alegoria foi o fogo de artifício, pelas 19h30.

Hugo Santos está eternamente agradecido a todos, à sua equipa “faz tudo”, Câmara Municipal, União de Freguesias da Mealhada, Ventosa e Antes, empresas e particulares, aos que permitiram a realização deste evento.

Este ano largas dezenas de pessoas participaram. Para o ano, se tiver quem me acompanhe, vamos fazer um grande arraial e contar com várias centenas”, enfatizou Hugo Santos.


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