sábado, 16 de abril de 2022

MEALHADA: HOJE HOUVE REUNIÃO DE CÂMARA (2)

 





O dia estava límpido, com os raios solares a convidarem ao ócio e ao usufruto da felicidade efémera. Como em viagem mental, a levar-nos para paisagens verdejantes acompanhadas do barulho da água transparente que escorre das cercanias da montanha que envolve o nosso olhar, salvo um arremedo ou outro mais acutilante, a harmonia parecia instalada no Salão Nobre. Na parede frontal e cimeira, sob o olhar atento de Marcelo Rebelo de Sousa, o Chefe de Estado, o encontro parecia decorrer na paz dos anjos.

Era manhã de Quinta-feira Santa, dia de Reunião de Câmara Municipal transmitida via YouTube, dito de outra forma, as imagens entravam dentro das nossas casas para quem abrisse a janela (do computador).

Como é uma ideia nova, os munícipes ainda não aderiram em massa ao visionamento público. Com uma variabilidade entre 35 assistentes, por volta das 10h30, e 20, às 13h20, quando terminou o encontro de vereadores, apesar disso, é um primeiro passo para o envolvimento dos cidadãos na política da sua terra.


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São 10h30, como não houve intervenções públicas, depois de ouvir os políticos presentes que pediram a palavra, entrou-se directamente na Ordem do Dia.

Depois da aprovação da acta anterior, estamos agora no ponto número 2: “DGAV - Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – Protocolo de colaboração com a Câmara Municipal da Mealhada”

Traduzindo por miúdos, em face do recente prémio “5 Estrelas” atribuído ao leitão assado, a autarquia pretendia estabelecer um protocolo com a Direção Geral de Alimentação e Veterinária, para assegurar uma qualidade excelsa do produto na Mealhada, que os leitões consumidos nos restaurantes durante o dia devem passar a ser abatidos durante a manhã. Para isso acontecer, as casas de restauração continuam a sustentar a sua parte financeira como até aqui e a edilidade colabora nos pagamentos aos veterinários avençados pela inspecção sanitária.

É um luxo saber que cada pessoa está a comer leitão do dia. Agora, os luxos pagam-se! É um investimento público, de todos nós - enfatizou António Jorge Franco, presidente dos mealhadenses.

E entramos no terceiro ponto, “3. CIM RC – Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra - Concertação de um quadro de políticas públicas com a Região de Leiria - 2.ª Cimeira

Aqui saltou-me ao ouvido a frase lapidar de Rui Marqueiro, ex-comandante da Câmara: “à medida em que as CIM’s tomam mais poder, é mais um passo para a regionalização.”

(…) Ainda não somos suburbanos… mas somos”.


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Passando por cima de temas, a meu ver, sem interesse estamos no ponto 6: “Proposta ao Executivo n.º 31/2022 - Inventário e Documentos de Prestação de Contas do ano de 2021”.

Dirigindo-se a António Franco, deu nas vistas as declarações de Rui Marqueiro, acerca de Hugo Alves Silva, vereador com pelouro, que não estava presente:

(…) O senhor vereador (Hugo Silva) apontou ao Tribunal de Contas caminhos inomináveis…

(…) Enquanto eu aqui estiver o senhor vereador Hugo Silva vai ouvir-me a lembrar o que aconteceu.”

(…) Se o Senhor confia nele, espero que não se arrependa.

O senhor vereador é da minha confiança”. Rematou Franco secamente e dando por encerrado o episódio.

E depois do ponto 8, que foi apresentado logo ao abrir da reunião, passamos agora ao 12: “Requerimento registado sob o n.º 4454 - Cafetaria da Alameda da Cidade

Diz Franco: “Tivemos de fazer algumas correcções, mas não era impeditivo para (o concessionário) abrir.”

(…) Pede um período de carência de 18 meses. Entendo que, em vez dos 18 meses, devemos dar-lhe 45 dias para equipar o estabelecimento.

Interveio Marqueiro: “Esse senhor é um abusador. Maltratou uma funcionária da Câmara. Votarei contra.”


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E estamos agora no ponto 24 da agenda: “Elaboração do Projeto de Reabilitação de Sala Polivalente no Luso e de Requalificação de Escada e Área Envolvente – Projeto de Execução – Fase A e Fase B – Resumo Pareceres Internos ao Projeto de Execução Remetido a 15/10/2021

Partindo a louça toda, referindo as obras aprovadas no tempo de Marqueiro para o antigo cinema de Luso, como se fosse um murro na mesa, atirou Franco: “Não é um projecto para 3 Milhões.

(…) Eu voto contra esta obra de 3 milhões de euros.

(…) Há uns lusenses que estão contra, “que concordam que esta obra não serve, incluindo o presidente e o secretário…

(Lá atrás, na parede, Marcelo, adivinhando tempestade, pareceu encolher-se todo)

Como picado por um escorpião e desse um salto, atira Marqueiro:

Numa reunião em que esteve o senhor presidente da Junta ele concordou… Agora as pessoas são é cobardes…

(Marcelo, como se esticasse o pescoço para ouvir melhor, pareceu dizer: olha o Franco, sem mover um dedo, acaba de ganhar mais uma junta de freguesia aos socialistas.)

Franco, como se não tivesse ouvido o que foi dito, continuou:

(…) Eu não estou disposto a gastar 3 Milhões de euros, sabendo que não vai servir para colmatar as necessidades – e isto é dito pelos técnicos.

Retorquiu Marqueiro: “(…) Estou disposto a ajudar. Eu ajudo!

Depois de uma troca de palavras pouco amigáveis, respondeu Franco: “Nunca levei uma empresa à falência. Nunca defendi obras megalómanas.”

(…) Eu nunca faria as obras do novo mercado pelo montante que foi. Vá a Albergaria…

(Foi aprovado fazer uma reunião com o presidente da Câmara, com o projectista e os serviços para baixar preços. E ainda com a Junta de Freguesia de Luso.)


RESUMO FINAL


Nesta segunda parte, embora o ambiente por vezes estivesse ao rubro, o bombeiro de serviço, Franco, que já aprendeu a usar a mangueira com mestria, soube estar à altura para acalmar as maiores desavenças e debelar os incêndios que pareciam eclodir a qualquer momento. No final da reunião, entre Franco e Marqueiro, originando alguma confusão, em tom jocoso, até foram trocadas promessas de um almoço entre os dois. Com jeito a coisa ajusta-se.


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