domingo, 24 de abril de 2022

BAIXA DE COIMBRA: FALECEU O “MANEL DA CARAVELA”

(Imagem retirada da edição de hoje do Diário de Coimbra)



A Baixa de Coimbra está de luto. Com cerca de 90 anos, faleceu o comerciante Manuel Guerra da Silva, mais conhecido por “Manel da Caravela”, com estabelecimentos na Rua da Louça.

Figura muito conhecida no Centro Histórico, o senhor Manuel Guerra, natural da zona de Penacova, fazia parte de um lote de grandes comerciantes que, provindo da aldeia recôndita e empobrecida com uma mala de cartão a tiracolo, subiram a corda a pulso e, com extraordinário rasgo para o negócio, viram a luz brilhante do sucesso entrar pela porta e mantê-la até ao fim da vida. Um dos mais antigos operadores, e que muito contribuiu para uma imagem de grandeza da Baixa de outros tempos que teima em ocupar parte da nossa memória colectiva, leva consigo uma parte da história comercial da cidade nas últimas oito décadas.

O proprietário da sapataria Caravela, sendo um homem que viveu activamente os seus negócios – todos os dias era presença assídua, até há pouco mais de um mês -, sentiu o pulsar do comércio de rua em toda a plenitude nas décadas de 1970/80, o seu declínio no final de 1990 e “morte anunciada” em 2016, com a total liberalização do sector terciário.

Algo reservado, sereno e directo e de poucas falas, era, no entanto, simpático para aqueles que se lhe dirigiam, pelo menos até Dezembro de 2011, aquando do falecimento da sua esposa, Maria Alice Rodrigues. Após o desaparecimento do “Sol resplandecente da sua existência”, viu-se e pressentiu-se a tristeza e a melancolia tomarem conta dos seus dias. Mais de uma vez vi correr as lágrimas pelo seu rosto tocado pelo sofrimento. Chegou a dizer-me que não conseguia passar uma única semana que, por duas vezes, não levasse flores à sua campa, no cemitério. Quando, uma ou outra vez, lhe dizia que assim, com essa rotina, nunca iria conseguir ultrapassar o luto, olhava para mim e replicava: “não consigo. Foi o amor da minha vida”, e mais uma vez o pranto, como a água a escorrer livremente pela montanha, invadia a sua face espelhada pela infelicidade.

O seu funeral será amanhã, Segunda-feira, pelas 15h00, com cerimónia religiosa no Centro Funerário Nossa Senhora de Lurdes, seguindo depois para o Cemitério de Santa Clara.

À sua família enlutada, em meu nome e da zona comercial, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Descanse em paz, e até sempre, senhor “Manel”.

Sem comentários: