Estamos
a retratar a última parte de um “espectáculo” político
promovido pela CDU, Coligação Democrática Unitária, em que foram
convidados os comerciantes para, na sede do PCP, na Rua Adelino
Veiga, em Coimbra, serem ouvidos de viva voz e debatidos problemas
graves que assolam a Baixa comercial. Ao convite responderam 12
pessoas. Marcou presença Francisco Queirós, vereador da CDU com os
pelouros da Habitação e do Desenvolvimento no Executivo municipal.
Quem
não foi, alegadamente, pode justificar de várias maneiras: estava
ocupado nas horas indicadas; não foi convocado pessoalmente pelo
vereador; estes convites nunca deveriam ter sido realizados por um
homem com barriga saliente e já entradote, mas, antes, por uma
camarada cheia de convicções revolucionárias e atributos físicos
em conformidade; a reunião deveria ser acompanhada, no mínimo, com croquetes e
bolos de bacalhau e bom tinto; não gostar do anfiteatro onde se
desenrolou a encenação. Sim, porque o que tinha sido anunciado nas
duas semanas antecedentes, sem pretender enganar alguém, era uma
encenação teatral.
I
Estamos
então no desenvolvimento da peça, no terceiro acto. Trata-de uma
espécie de tribunal plenário -por irónico que seja, a fazer
lembrar os julgamentos políticos do Estado Novo. Trata-se do
processo 17-05-2018.
O
arguido (ou arguidos) é o poder local, no caso, por questões
estratégicas, julgado à revelia.
Os
queixosos eram os comerciantes, mas, estranhe-se, ou talvez não, a
CDU, embora implicada no processo até ao pescoço, tinha-se constituído assistente.
Como
juiz estava o vereador da CDU, Francisco Queirós.
A "defender o Estado", em representação do "Ministério Público", estava
o camarada João, também membro da CDU.
Como
se vê, a imparcialidade reinava na sala.
Pelo
desenrolar dos primeiro e segundo actos, deu para verificar que a
culpabilidade, a haver veredicto, caía por inteiro no chefe do
executivo, que não estava presente. Se estivesse, bem à maneira
portuguesa, ser-lhe-ia estendida uma passadeira vermelha.
No
prosseguimento do drama, através da retórica de Queirós, deu para
constatar que a CDU, apesar de fazer parte do executivo socialista,
era uma vítima do algoz Machado, o dono da Câmara Municipal.
A
CDU não tem feito mais pela Baixa porque não pode. Até votou
contra o Aldi, em Santa Clara, disse o representante comunista em
repetição.
Tentando
passar pelos pingos da chuva, disse ainda mais: “eu não consigo
entender o presidente da Câmara. O princípio é ouvir os munícipes
e não tratá-los mal. É fundamental que os comerciantes vão às
reuniões de câmara. Obriguem o Manuel Machado a falar com as
pessoas! Mas uma coisa posso dizer: não vamos deixar morrer a Baixa
de Coimbra!”
II
O
julgamento decorria algo monótono. O juiz , no caso o vereador
Queirós, substituindo a acusação e, ex aequo, chamando a si
a defesa da CDU, pela excelente performance, convencia por inteiro a
assistência constituída pelos poucos comerciantes. A demonstração
de inocência da coligação era total. A reverência ao cordial
vereador manifestava-se em forma de alocução: o stor desculpe,
mas o culpado desta situação é o presidente da Câmara!
Imagina-se
o representante da CDU a esfregar a barriga de contentamento e a
pensar para si: “isto correu melhor do que eu esperava!”.
E
estava quase a tocar a campainha para o correr do pano. É então que
da assistência, eloquente e morna, porque há sempre um louco a
quebrar a modorra societária, um tolo, já velhote e de cabelos
brancos, dirigindo-se ao vereador, atira o seguinte:
“Eu
vim para ouvir. Não era minha intenção intervir. Mas perante o que
estou a assistir não posso deixar de o fazer. Porque já falámos
algumas vezes, a nível pessoal, gosto de si e reconheço-lhe grandes
qualidades humanas muito superiores ao seu antecessor no cargo, mas
já no campo político não posso estar mais em desacordo com a sua
actuação. O que estamos a assistir aqui hoje é uma tentativa de
desonerar a CDU do processo de degradação da Baixa. Ora, como sabe,
o senhor é o vereador da Habitação e do Desenvolvimento desde
2009. O seu precursor esteve no seu lugar durante os primeiros
mandatos de Carlos Encarnação. Na maioria dos casos de aprovação
positiva, o senhor sabe que é graças à sua abstenção continuada
que as medidas têm passado no executivo de maioria socialista.
Por
tudo isto, fazendo de conta que não tem nada a ver com a degradação
da Baixa, a CDU não pode lavar as mãos do que se está a passar.
Enquanto munícipe, o que espero de si é uma posição musculada
perante Manuel Machado, o presidente da edilidade. Que, aliás, do
seu desempenho futuro como vereador também depende o destino da CDU na
cidade. Não esqueça que nas últimas eleições os votos na
coligação caíram. Eu vou estar de olho em si!”
Francisco
Queirós, vereador na autarquia, ali juiz em causa própria,
engolindo em seco, não se deu por achado e retorquiu com argumentos
que ninguém acreditou, mas também não era preciso, Afinal, tudo
aquilo era uma encenação.
Sem
palmas, caiu o pano! Outras peças se seguirão com outros actores. A
miséria humana sempre resultou em excelentes tragicomédias. E quando alguns
choram, cheios de vontade de sorrir, outros fazem cara de enterro. É
o teatro da vida!
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1 comentário:
Bem, o senhor de cabelos brancos, falou, falou, tem aqui o discurso transcrito, terminando em apoteose com "eu vou estar de olho em si", mas o que o Queirós disse resume-se a "argumentos que ninguém acreditou...". Bom truque ;)
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