Passavam
uns minutos das 18h00, perante uma plateia pequena mas interessada,
quando o Mário Jesus, o organizador, deu as boas-vindas aos
clientes e amigos da Aguinalda -Guida, como gosta de ser tratada. Na
sala do Café Sofia, na Rua da Sofia, o silêncio tomou de assalto
aquele espaço histórico da cidade. O tema da tertúlia era
“Encontro de antigos e actuais clientes do Café Sofia”
.
E o Mário abriu o
encontro com “histórias da minha vida” onde o Café Sofia
foi parte preponderante. “O Café Sofia, nos anos de 1960 e
início de 70 era vigiado pela PIDE”, atirou o Mário para
prender a assistência. E prosseguiu, “há alguns
trabalhadores da hotelaria, dessa altura, que ainda estão no activo.
Às vezes encontro amigos que deixei de ver durante algumas décadas.
Ainda há dias aconteceu. “Estás bom, pá?!? Não te lembras de
mim? Sou o Adelino, que estudava Direito”. Num primeiro olhar foi
de surpresa e em busca da memória. O Adelino, o Adelino... Ah pois,
o Adelino. Claro, o Adelino! Então não me havia de lembrar do
Adelino?! Mas ele estava tão diferente, pensei para mim. O tempo,
para além da memória, arrasa tudo. Começámos a relembrar
episódios dessa época e depressa já estávamos sintonizados. Fiquei
a saber que é advogado e está em Anadia onde tem um escritório.
Houve outros que
andaram aqui na tropa, neste quartel situado aqui na rua e que já desapareceu. É tão bom
encontrar amigos da nossa geração!?!”. E
o Mário pareceu suspirar e procurar apoio com os olhos em alguém da
assistência.
Continuou,
“a primeira música do “Zeca” Afonso que ouvi foi a
“formiga no carreiro”. Lembro-me bem. Havia também o doutor
Santos -era comunista-, e ficámos a saber a razão de ele frequentar
o Café Sofia. Na altura, a sede do PCP, Partido Comunista
Português, era aqui quase em frente e do outro lado da rua. Muitos
militantes vinham aqui ao café por razões de proximidade. Nesta
importante via dos colégios de finais da Idade Média, por volta dos anos de 1960, havia aqui dois importantes cafés: também com
fabrico de pastelaria, a Sírius e o Café Sofia. Tenho dois amigos
que arranjaram aqui namoradas e, por este conhecimento, casaram.
Por alturas de 1974,
antes do 25 de Abril, eu era operador cripto no Quartel-general, na
Rua Antero de Quental. Quando me juntava aqui, no café, eu vinha
passar informações. Não estou arrependido. Algumas que dei ajudaram
a resolver algumas situações. Algumas resultaram. Não me arrependo
de nada.
Há cerca de 50 anos
eu trabalhava aqui na rua, num consultório de um advogado, o Dr.
César Abranches -estagiou lá o Dr. Lucas Pires. Quando era preciso
ir chamar o Dr. Pires eu ia e ele dava-me sempre dinheiro para
comprar um croissant. Ainda havia gente boa. Ninguém passava fome,
mas havia muita gente a passar mal.
Todos os Domingos, de
onde quer que estivesse, eu vinha sempre ao café Sofia. Era uma
espécie de catedral onde os fiéis não podiam faltar à homilia. Se
viesse alguém de fora, era aqui que nos encontrávamos. O café
Sofia era o ponto de encontro. Tenho tanta saudade desse tempo!”
A seguir, outro assistente relatou partes da sua vida. Por vezes até pareceu que uma lágrima balouçava nos olhos do relator.
Parabéns, Guida, pela iniciativa de trazer histórias de antanho. Foi bonito de ver.
A seguir, outro assistente relatou partes da sua vida. Por vezes até pareceu que uma lágrima balouçava nos olhos do relator.
Parabéns, Guida, pela iniciativa de trazer histórias de antanho. Foi bonito de ver.
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