CRÓNICA
ESCRITA A QUATRO MÃOS.
POR
MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES
Coimbra
tem um património de grande valor. A maioria está concentrado na
zona histórica, Alta e Baixa, se bem que alguns monumentos estejam fora desta
área, como é o caso da Igreja de Santo António dos Olivais,
Mosteiro de Celas e os Conventos de Santa Clara, que, dada a sua
beleza, merecem ser visitados. Muito já se criticou neste blogue
sobre o triângulo turístico desta urbe: Largo da Portagem/Arco de
Almedina/Universidade. Os visitantes descem dos autocarros na
Avenida Navarro e é vê-los subir a Rua Ferreira Borges, passando
pelo Arco de Almedina, Quebra Costas e a desaguarem no Largo D. Dinis
-por vezes este percurso é feito no inverso. Algumas vezes
prosseguem a marcha até à Igreja de Santa Cruz (Panteão Nacional)
e voltam para trás para seguirem até à Alta. Estes percursos não
incluem a via larga do conhecimento. A Rua da Sofia, sendo parte
intrínseca que deu origem à classificação de Património Mundial,
pela UNESCO, fica de fora como se não contasse para a enorme riqueza
patrimonial de Coimbra.
Sejamos realistas, com as
igrejas encerradas, com a maioria dos colégios ocupados e
inacessíveis a qualquer turista, com monumentos abandonados à sua
sorte, para não falar da falta de requalificação de muitos
edifícios, é natural que esta importante ligação urbana seja
excluída do itinerário turístico da cidade.
Como
conimbricense, deixa-me triste saber que aqui tão perto um vasto
acervo museológico permanece inacessível e, não sendo explorado,
prejudica todos os operadores em redor. De uma vez por todas é
preciso acabar com ocultação intencional -e temos à porta uma boa
ocasião para, cara-a-cara, dizer isto mesmo aos responsáveis por
este situacionismo, nomeadamente a Câmara Municipal de Coimbra
(CMC), a Universidade de Coimbra e o Turismo Centro de Portugal.
Segundo o Diário de Coimbra (DC) de hoje, promovido pela APBC,
Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, em parceria com a
CMC, no próximo Sábado, 22 do corrente, vai realizar-se no Teatro
da Cerca de São Bernardo, no Pátio da Inquisição, pelas 18h00, o
evento “A Visão do Guia Intérprete para uma Cidade
Património da Humanidade”. Citando o DC, é o tema de uma
conferência que “pretende ver discutida a problemática da
vivência do Centro Histórico de Coimbra pelos seus vários
intervenientes, sejam eles os comerciantes, os transeuntes, a
população da cidade, a população estudantil, os estudantes
abrangidos pelo programa Erasmus ou os turistas”. Para além
da vereadora da Cultura da edilidade, Carina Gomes, e do vice-reitor
da Universidade, Filipe Menezes, estarão presentes altos
responsáveis pela Turismo Centro de Portugal e do SNATTI, Sindicato
Nacional da Actividade Turística, Tradutores, Intérpretes e Guias
Turísticos.
Eu
estarei lá para contar o número e ver, in loco, quantos
operadores, comerciantes e industriais de hotelaria, interessados
nesta problemática estarão presentes. A ver vamos, como diz o
cego!
Há cerca de uma semana reparei em algo que me alegrou a alma.
Cheguei mesmo a pensar se não seria uma alucinação. Verifiquei que
um grupo de turistas vinha da Rua da Sofia em direção ao Panteão
Nacional. Contente, dei por acabado ser uma excepcão, que apenas
confirmava a regra. Mas não. Pouco depois, noutro dia após,
aconteceu de novo. Eureka! Afinal, parece que os guias turísticos
descobriram a Rua da Sofia.
Se
é verdade que, por um lado, a maioria dos visitantes ainda faz o
triângulo turístico, por outro, é com satisfação que se começa
a ver nos roteiros a inclusão da Rua da Sofia. É bom que assim
seja, pelos vistos, o hábito está a mudar o monge. Mas de pouco
vale o esforço se as igrejas e restantes monumentos continuarem
fechados.
Em nome da cidade, em
nome de todo o património classificado, Alta e Baixa, em nome de
todos quantos ganham a vida ligados ao turismo, a Rua da Sofia merece
ser respeitada. Em nome do bom-senso, este abandono tem de ter um
fim. Pela incapacidade, ou desleixo, é uma riqueza que se desperdiça
diariamente. Passando estes motivos fortes, é também a nossa
história, pelo apagamento da memória, que está a ser lesada. Pelos
seus colégios ligados aos sete séculos de existência da
Universidade, aqui reside uma grande parte da identidade de Coimbra.
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