quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA




 CRÓNICA ESCRITA A QUATRO MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES

Coimbra tem um património de grande valor. A maioria está concentrado na zona histórica, Alta e Baixa, se bem que alguns monumentos estejam fora desta área, como é o caso da Igreja de Santo António dos Olivais, Mosteiro de Celas e os Conventos de Santa Clara, que, dada a sua beleza, merecem ser visitados. Muito já se criticou neste blogue sobre o triângulo turístico desta urbe: Largo da Portagem/Arco de Almedina/Universidade. Os visitantes descem dos autocarros na Avenida Navarro e é vê-los subir a Rua Ferreira Borges, passando pelo Arco de Almedina, Quebra Costas e a desaguarem no Largo D. Dinis -por vezes este percurso é feito no inverso. Algumas vezes prosseguem a marcha até à Igreja de Santa Cruz (Panteão Nacional) e voltam para trás para seguirem até à Alta. Estes percursos não incluem a via larga do conhecimento. A Rua da Sofia, sendo parte intrínseca que deu origem à classificação de Património Mundial, pela UNESCO, fica de fora como se não contasse para a enorme riqueza patrimonial de Coimbra.
Sejamos realistas, com as igrejas encerradas, com a maioria dos colégios ocupados e inacessíveis a qualquer turista, com monumentos abandonados à sua sorte, para não falar da falta de requalificação de muitos edifícios, é natural que esta importante ligação urbana seja excluída do itinerário turístico da cidade.
Como conimbricense, deixa-me triste saber que aqui tão perto um vasto acervo museológico permanece inacessível e, não sendo explorado, prejudica todos os operadores em redor. De uma vez por todas é preciso acabar com ocultação intencional -e temos à porta uma boa ocasião para, cara-a-cara, dizer isto mesmo aos responsáveis por este situacionismo, nomeadamente a Câmara Municipal de Coimbra (CMC), a Universidade de Coimbra e o Turismo Centro de Portugal. Segundo o Diário de Coimbra (DC) de hoje, promovido pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, em parceria com a CMC, no próximo Sábado, 22 do corrente, vai realizar-se no Teatro da Cerca de São Bernardo, no Pátio da Inquisição, pelas 18h00, o evento “A Visão do Guia Intérprete para uma Cidade Património da Humanidade”. Citando o DC, é o tema de uma conferência que “pretende ver discutida a problemática da vivência do Centro Histórico de Coimbra pelos seus vários intervenientes, sejam eles os comerciantes, os transeuntes, a população da cidade, a população estudantil, os estudantes abrangidos pelo programa Erasmus ou os turistas”. Para além da vereadora da Cultura da edilidade, Carina Gomes, e do vice-reitor da Universidade, Filipe Menezes, estarão presentes altos responsáveis pela Turismo Centro de Portugal e do SNATTI, Sindicato Nacional da Actividade Turística, Tradutores, Intérpretes e Guias Turísticos.
Eu estarei lá para contar o número e ver, in loco, quantos operadores, comerciantes e industriais de hotelaria, interessados nesta problemática estarão presentes. A ver vamos, como diz o cego!
Há cerca de uma semana reparei em algo que me alegrou a alma. Cheguei mesmo a pensar se não seria uma alucinação. Verifiquei que um grupo de turistas vinha da Rua da Sofia em direção ao Panteão Nacional. Contente, dei por acabado ser uma excepcão, que apenas confirmava a regra. Mas não. Pouco depois, noutro dia após, aconteceu de novo. Eureka! Afinal, parece que os guias turísticos descobriram a Rua da Sofia.
Se é verdade que, por um lado, a maioria dos visitantes ainda faz o triângulo turístico, por outro, é com satisfação que se começa a ver nos roteiros a inclusão da Rua da Sofia. É bom que assim seja, pelos vistos, o hábito está a mudar o monge. Mas de pouco vale o esforço se as igrejas e restantes monumentos continuarem fechados.
Em nome da cidade, em nome de todo o património classificado, Alta e Baixa, em nome de todos quantos ganham a vida ligados ao turismo, a Rua da Sofia merece ser respeitada. Em nome do bom-senso, este abandono tem de ter um fim. Pela incapacidade, ou desleixo, é uma riqueza que se desperdiça diariamente. Passando estes motivos fortes, é também a nossa história, pelo apagamento da memória, que está a ser lesada. Pelos seus colégios ligados aos sete séculos de existência da Universidade, aqui reside uma grande parte da identidade de Coimbra.

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