(Imagem desviada, sem autorização mas com a devida vénia, do site Notícias de Coimbra)
Seguindo
o exemplo do passado no acrescimento, igualmente como no Orçamento Geral do Estado
já com um tradicional desmesurado aumento de impostos, este ano, a
dois dias da festa académica, “mais de mil carrinhos terão
sido furtados para a Latada”, in Diário de Coimbra (DC) de
hoje.
Embora
tenha noção que estou a chover no molhado, até por que já escrevi
vários textos sobre este assunto e, agora, corro o risco de me
repetir, antes de prosseguir, uma pergunta emerge: que adultos
responsáveis esperamos destas crianças imberbes? A resposta óbvia
é que, com o proteccionismo exacerbado que as autoridades lhe
conferem, Câmara Municipal, Universidade, Polícia de Segurança
Pública, jamais vão crescer e não se tornarão homens, cidadãos
respeitáveis e cuidadores da coisa pública, que é de todos. Quando
os dirigentes de uma colectividade, em nome de um (mau) hábito
-contrário ao costume que tem acoplada uma convicção valorativa
de virtude- protege uma classe, permitindo-lhe uma série de
atropelos notoriamente atentatório às boas regras sociais, está a
discriminá-la positivamente e a transformá-la numa casta, grupo
social fechado sobre si mesmo, gozando de privilégios especiais e
atribuindo-lhe um espírito de elite e prerrogativas de
auto-exclusividade. E não se pense que esta aura de divindade na
classe estudantil é recente, tal como o vento já vem de longe. São
séculos de história na (in)cultura portuguesa. Este nepotismo,
sobrelevando e valorizando os alunos universitários, tem levado à
produção em massa de execráveis idiotas da pior espécie. É a
“veneração da cátedra” numa cidade de cócoras perante
uma Torre de Babel, que pretende confundir o geral com o individual.
Enquanto aspirantes, começa logo ao transpor a porta férrea pela
primeira vez e acaba quando, mais tarde, estes discípulos sobem na
hierarquia social e alcançam um lugar decisório de poder. Se
vivêssemos numa colectividade justa, capaz de dirimir o bom do mau,
expurgando naturalmente o mal, há muito tempo que esta situação de
pedantismo local, em exagero negativo, tinha sido denunciada e
colocada uma pedra tumular. Mas não, em vez de se discutir o
essencial como as boas práticas societárias, para desviar a
atenção, perdemo-nos todos em longos discursos sobre a praxe
académica.
A
CUMPLICIDADE TÁCITA
Como
uma construção erguida sobre a água, economicamente, Coimbra, na
sua longa história de sete séculos de Universidade na cidade,
assenta em estacas de suporte estudantil -a recente classificação
de Património Mundial da Humanidade, pela Unesco, veio interromper
o ciclo. Daí se entender que, apesar dos abusos identificados, não
haja um protesto generalizado. Por um lado, os estudantes são a alma
da cidade, logo, por inerência, são intocáveis, por outro, é
assim como a expressão “são crianças, senhor!”.
E, por isso mesmo, são
inimputáveis civilmente. O lema é sujar e destruir que, à custa dos impostos de todos, alguém virá remediar
Mas
não é só uma questão lesiva do social que está em causa e a
identificar uma urbe acobardada, é também económica, política e
de autoridade.
É
económica por que não se entende -ou talvez sim- que cada carrinho
furtado às grandes superfícies, tendo um custo unitário de cerca
de cem euros -que notoriamente lesam as cerca de meia-dúzia de
grandes empresas alimentares que estão implantadas dentro da malha
urbana-, não gere uma reação de repúdio generalizado, sobretudo
com queixas na PSP contra desconhecidos. É evidente que pelo receio
de afrontar desordeiros preferem ser prejudicadas em milhares de
euros. É pena que não procedam do mesmo modo quando um qualquer
“zé-ninguém” furta um artigo de pouco mais de uma dezena
de euros.
É
política porque, tendo a completa cobertura do executivo camarário,
mostra que a edilidade, confundindo o bem comum, está extasiada e
presa nas diatribes organizadas e orquestradas nas festas estudantis.
Ou seja, para caso igual a autarquia procede de modo diferenciado
-veja-se o caso do horário de encerramento das Festas da Latada,
licenciado um evento para terminar às 04h00 encerra às 06h00 -é o
próprio coordenador-geral a admiti-lo, hoje, no DC. Não se pode
compreender que, em face de uma lesão de interesse público -no
caso, ao arremessarem os carrinhos para o rio Mondego, incorrendo num
crime ambiental, se assobie para o lado.
É
uma questão de lesa-autoridade porque, estando à vista de todos o
material furtado -já que os carrinhos são facilmente
diferenciáveis- a apatia, o “dolce far niente”, da
PSP, ao não intervir nem que seja na identificação dos possuidores
dos artigos desviados do seu legal proprietário, mina a
credibilidade e a autoridade desta polícia pública. Em 2014, sem alcançar o ridículo em que se caiu, a PSP chegou a elogiar o promotor da iniciativa "Não Lixes o Mondego".
Até quando vamos
assistir a este espectáculo pouco dignificante para a cidade?
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