Anónimo
deixou um novo comentário na sua mensagem "UM
COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA":
Sr. Luís, o meu nome é António e juro que não tenho nada a ver com essa discussão aí em cima. Se, mesmo não me conhecendo e desconfiando se não terei outro nome, pudéssemos atentar aqui somente a factos e discutir sobre eles, agradecia. Eu já leio o seu blogue há muito tempo, não só porque é o melhor repositório de memórias da cidade (pelo menos de parte dela), como porque é um sítio onde verdadeiramente se discute a cidade. Tomara haver mais com a sua energia e gosto.
Eu vivi até à adolescência na Rua da Moeda e como o meu pai ainda por cima toda a vida trabalhou na baixa, conheço-a muito bem e a sua evolução. Quer-me explicar porque é que, depois de anos a falar no abandono da Baixa, incluindo sujidade, etc, agora a culpa é dos guias turísticos ou da universidade, que não fazem a sua promoção, ou porque falam mal dela? Nenhum turista deixa de cá vir, porque alguém, numa qualquer sala de Coimbra, ter dito isto ou aquilo.
Quanto aos guias, até eu hesito em levar amigos de fora à zona da baixinha. Tem o efeito contrário de relações públicas da minha cidade…. Se já é assim de dia, quanto mais à noite. Quanto à Universidade, quer se queira, quer não, tem feito uma boa promoção do seu património. Quanto à Rua da Sofia, a universidade até tem o seu património recuperado. Também deve fechar a rua ao trânsito e abrir lá espaços comerciais novos e modernos?
Os comerciantes passam a vida a queixar-se de os conimbricenses se terem passado para os centros comerciais. Qual foi a razão? Falta de guias turísticos para lhes explicarem as maravilhas da Baixa?
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NOTA DO
EDITOR
Começo
por lhe agradecer, António o seu comentário e também algumas
questões que coloca. Passando o seu elogio, que me deixa satisfeito,
vamos então às suas interrogações.
Comecemos
pela primeira:
“Quer-me
explicar porque é que, depois de anos a falar no abandono da Baixa,
incluindo sujidade, etc, agora a culpa é dos guias turísticos ou da
universidade, que não fazem a sua promoção, ou porque falam mal
dela?”
Vamos
por partes, enquanto cidadão trabalhador e residente na Baixa,
sempre escrevi e vou continuar a escrever contra o abandono,
incluindo a sujidade. Sem exagero já plasmei várias vintenas de
crónicas sobre o tema da limpeza. Nunca culpei os Guias turísticos,
ou melhor, os Guias Intérpretes sobre a sujidade das ruas. Acontece
que, provavelmente, também já teria escrito outras tantas sobre o
turismo (viciado) na cidade -sobretudo as suas rotas.
Quando
decidi participar no auditório da Escola da
Noite, no Teatro da Cerca de São Bernardo, na conferência seguida
de debate sobre o lema “A visão do Guia Interprete para
uma Cidade Património da Humanidade", esperava ouvir dos
membros do painel, primeiro, um balanço de três anos de actividade
-depois da classificação de Património Mundial da cidade pela
UNESCO- e depois um plano com medidas para melhorar o que está mal.
Ora
aconteceu que, logo depois da apresentação dos membros da mesa em
representação de várias entidades por Vitor Marques, presidente da
APBC, o representante da Universidade, para além de se ter mostrado
juiz em causa própria -isto é, elogiando o trabalho da entidade a
que pertence, como se estivesse tudo perfeito e sem necessidade de
alterar fosse o que fosse-, por silogismo, começou a atribuir a não
frequência da Rua da Sofia por grupos de turistas como se a causa
fosse por inteiro dos comerciantes e hoteleiros -e citou o (mau)
exemplo de tudo estar fechado às 18h00 de Sábado.
A seguir, os outros
elementos com poder delegado pelas organizações a que pertenciam
continuaram na mesma linha condutora. Ou seja, em vez de se
focalizarem no presente e apontando o futuro -avaliando o que está
mal e seria preciso alterar-, fizeram um rastreio de desastre e com
muitas inverdades à mistura.
Então aconteceu uma
coisa gira, eu que até nem vou à bola com a vereadora da
Cultura, Carina Gomes, por aquelas acusações centralizadas -, sem
ofensa para os visados, a parecerem orquestradas-, de repente, vi-me
ao seu lado, indignado, a defender a Baixa e a cidade de tanta
acusação a esmo e ao desbarato. Eu que levava armamento pesado na
sacola para acusar a edilidade de nada fazer pelo turismo na Baixa,
perante tais tiros de artilharia pesada provindos do painel, acabei
(pelo menos na primeira parte) ao lado da representante da Casa da
Cultura. Só quem lá esteve pode aferir: parecia um ataque cerrado à
Câmara Municipal. Por várias vezes aquilo me surgiu como uma
encenação. Julgava que não era verdade o que ouvia, vindo de quem
vinha.
Se há coisas que não
prescindo é tentar ser justo. E ali, naquele auditório, perante as
minhas barbas, praticava-se uma clamorosa injustiça. Explicando de
outra forma, desviava-se o essencial para o acessório, do centro
para a periferia.
“Nenhum turista
deixa de cá vir, porque alguém, numa qualquer sala de Coimbra, ter
dito isto ou aquilo.”
Não estou
certo de que assim seja, pelo menos quando tais afirmações de
“bota-abaixismo” são proferidas pelos mais altos
dignitários do turismo.
“Quanto
aos guias, até eu hesito em levar amigos de fora à zona da
baixinha. Tem o efeito contrário de relações públicas da minha
cidade…. Se já é assim de dia, quanto mais à noite.”
Com todo
respeito pela sua opinião, mas cada um tem a sua. Uma coisa é eu
pugnar por uma cidade mais limpa e mais atractiva, outra é eu, numa
qualquer conferência -sendo eu o conferencista- afirmar que a cidade
é porca, ou até insegura. Este mesmo princípio aplico-o quando
falo com turistas que nos visitam e me perguntam sobre a Lusa Atenas.
É óbvio que digo que Coimbra é, de facto, uma cidade segura e
linda, com toda a sua monumentalidade e gente acolhedora e pacífica.
Qualquer um de nós, perante um desconhecido que nos visita, deve ser
um embaixador de boa-vontade. Se disser o contrário o que estou a
fazer? A empurrar o turista para outra cidade. É isso que quero? É
isso que me convém?
“Quanto à Universidade, quer se queira, quer não, tem feito
uma boa promoção do seu património. Quanto à Rua da Sofia, a
universidade até tem o seu património recuperado.”
Nunca
escrevi que a Universidade não tivesse feito uma boa promoção do
seu património. O que disse é que não está aproveitar devidamente
a Rua da Sofia, que é, como sabemos, um dos polos que deu origem à
classificação pela UNESCO. Escrevi também que, em metáfora, está
muito centralizada no seu umbigo -como quem diz, na área da
Universidade, incluindo a Biblioteca Joanina, e esquecendo toda a
Baixa como um todo, ou uma parte, se considerar a Rua da Sofia.
Disse também que a criação do Bilhete Único, acordado entre a
Universidade e a Fundação Bissaya Barreto (com o Portugal dos
Pequenitos) pecava por ter olhos curtos. Este protocolo deveria
abarcar todas as Igrejas. Fiquei a saber que foi assim implementado
por falta de resposta dos interessados. Não gostei foi de ouvir pelo
vice-reitor, Filipe Menezes, que antes de eu referir o lado “coxo”
do protocolo deveria ter-me informado previamente. Erro crasso seu,
meu caro Menezes, o senhor é que tinha e tem obrigação de explicar
tudo ponto-por-ponto à comunidade. Para isso, na sua função, é
pago.
“Também deve fechar a Rua (da Sofia) ao trânsito e abrir lá
espaços comerciais novos e modernos?
Os comerciantes passam a vida a queixar-se de os conimbricenses se terem passado para os centros comerciais. Qual foi a razão? Falta de guias turísticos para lhes explicarem as maravilhas da Baixa?“
Os comerciantes passam a vida a queixar-se de os conimbricenses se terem passado para os centros comerciais. Qual foi a razão? Falta de guias turísticos para lhes explicarem as maravilhas da Baixa?“
A Rua da
Sofia, no meu entendimento, tem bons estabelecimentos, tradicionais e
modernos. Quanto a mim, não deve ser encerrada ao trânsito. O que
deve é manter apenas um corredor estreito somente para uma fila de
trânsito, ascendente ou descendente -sem esquecer os espaços para
paragem de transportes colectivos e carga e descarga.
Quanto ao comparar os centros comerciais aos Guias só pode estar a
ironizar. Sabe muito bem que o cu não tem nada a ver com as
calças. Entre vários factores que empurram os conimbricenses
para as grandes superfícies -são tantos que não tenho tempo para
explicar-, falo-lhe apenas de um: evolução do comércio, com
alteração dos hábitos e costumes. Será de supor que, num eterno
retorno, um dia desaparecerão -ou pelo menos terão pouca expressão-
e, com diferenças substanciais, tudo voltará a ser como dantes.
Quando acontecerá? Dar solução a esta pergunta, é a resposta de
um milhão de euros.
1 comentário:
Sr. Luis, obrigado pelo diálogo. Vou aproveitar e abusar mais um bocadinho.
Eu não disse em lado nenhum que a baixa não era segura. Eu ando na baixa a qualquer hora do dia e da noite, sem medo de assaltos. As razões pelas quais acho que a Baixa não é exatamente um pólo turístico atrativo, são as mesmas que o senhor tem avançado ao longo dos anos aqui no seu blogue. Nem mais, nem menos. É precisamente porque gosto da minha cidade e quero dar dela uma boa imagem, e não o contrário, que hesito em recomendar passeios pela baixinha a quem vem de fora. As críticas e as imagens estão no seu blogue. Portanto, fico eu sem percebe-lo.
Neste ponto, passamos para o eventual impacto para o turista das críticas na tal reunião. O impacto é próximo do zero. São muito escassas as hipóteses de um francês ou um japonês estarem atentos a uma reunião promovida pela APBC, no Teatro da Cerca de São Bernardo, com sumidades locais. Mas, se for como diz, o sr. Luis terá também de ter cuidado com as críticas que coloca aqui no seu blogue, ainda com mais razão, até porque até são ilustradas. Eu recomendaria antes aos leitores que passem pelo site da Câmara Municipal, onde não se vê nada disto, muito pelo contrário.
Aliás, era o que faltava que o cidadão comum, instituições, o que seja, não pudessem fazer críticas públicas, com receio de que o turista as vejam. É a primeira vez que leio tal coisa.
Eu não sou procurador da Universidade, mas ainda não percebi igualmente o que se pretende que a Universidade faça, em concreto, na Rua da Sofia e na Baixa em geral. Estou a ser sincero, não percebi mesmo. Para além disso, tem noção de que a maior parte dos turistas que vão à baixa, vieram já, ou estão a caminho, da universidade? Portanto, faz já mais a Universidade pelo turismo em Coimbra do que qualquer outra instituição.
Passando, finalmente, para razões pelas quais a Baixa não chama mais consumidores, não é difícil. Falta gente a habitar na baixa. Falta vida local. Em primeiro lugar estão os habitantes, depois o turista. Este sente-se bem a passear em locais com gente a viver, com ruido, com luz. Mas para terem gente, é preciso várias coisas: recuperação das casas, comercio variado de proximidade, bons equipamentos, limpeza, iluminação, etc.
Eu não sei bem se, ao dizer que é bom e variado o comércio na Baixa está na sua veste de “não dizer mal para os de fora ouvirem”, ou se está a ser mesmo sincero. É que o eixo Portagem-Praça Oito de Maio, ainda vá que não vá, embora eu continue a achar que tem demasiadas lojas de recuerdos. Mas a parte das ruas estreitas da baixinha? A sério?
Quanto aos guias turísticos e centros comerciais, estava obviamente a ironizar. Nós, os habitantes e consumidores, sabemos bem as razões pelas quais vamos ou não vamos a um lugar, não precisamos que nos expliquem.
António
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