Segundo informação aqui recolhida, numa destas travessas da Internet que, tal como se dizia antigamente que todos caminhos vão dar a Roma, tudo vai ao encontro do conhecimento, “em Portugal existem 350 Mercados Municipais, dos quais apenas 37 são geridos por entidades privadas ou comissões de vendedores, estando a gestão dos restantes 313 a cargo das Autarquias”.
Ainda continuando a citar, “Os mercados municipais são estruturas tradicionais de comércio retalhista de proximidade presentes em praticamente todo o território nacional, com a excepção de 16 dos Concelhos.”
E comecei com esta introdução para escrever sobre a popular “praça”, que se realiza todos os Sábados na Mealhada.
Hoje, véspera de Domingo, fosse por estarmos a meio do mês ou não, pareceu-me com pouca afluência de clientes. Mesmo assim, na diversidade de oferta, verificavam-se vários negócios.
Como se sabe, com a conclusão do novo mercado junto do Complexo Desportivo da Mealhada, e que teve um custo de edificação de mais de dois milhões de euros, o velho sítio de transações junto da Igreja de Sant’Ana está dar as despedidas.
Para os mais distraídos, a transferência deste local para outro decorreu da obrigação de entregar aquele terreno à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, proprietária do lote onde se insere a catedral que venera a Santa.
Em boa verdade, a construção de outra instalação para o efeito era mesmo uma necessidade premente. O chão em terra-batida do velho popular, salpicado por cordas e ferros a esmo que sustentam os toldos, para protegerem os artigos dos vendedores das intempéries, faz do visitante um caminhante frequentador de labirintos.
Como já temos lido, se isso importa alguma coisa, a questão é saber se a localização da nova estrutura em termos de centralidade é a melhor. É sempre uma discussão longa e sem fim. Se é certo que a nova estrutura foge ligeiramente do centro da urbe, é também passível de ser uma boa zona, uma vez que vai constituir um incentivo para um novo polo de desenvolvimento comercial para toda a área envolvente.
Se vai ser um sucesso para os clientes e expositores? A seu tempo se verá. Mas, visto por fora, apresenta-se com boa pinta, moderno e atractivo.
PÔR OS OLHOS NA VIZINHA
Diz-nos a prática que nem sempre a modernidade é sinónimo de êxito garantido. E posso falar de uma experiência que conheço bem: o Mercado Municipal Dom Pedro V, em Coimbra. Reconstruido e inaugurado em 2000, substituindo até aí condições improprias para consumo, constata-se, no entanto, que depois da operação plástica, progressivamente, foi sendo abandonado pelos compradores e, em consequência, pelos vendedores. Agonizante há mais de uma década, de tal modo foi assim que a autarquia conimbricense, numa última tentativa de recuperação, tal como tem acontecido em outros similares, concessionou parte do espaço a uma empresa privada para lhe puxar as orelhas para uma nova vida.
Claro que, com objectividade, não podemos atribuir totalmente a culpa à requalificação. Em 2000 havia duas grandes superfícies comerciais - com espaço de cupação superior a 2000m2. Em 2021 há sete grandes áreas. Por outro lado na periferia da cidade, como cogumelos, cresceram as médias áreas comerciais - entre 400 e 2000m2 -, uns e outros com estacionamento gratuito.
Por parte da classe política gestora da cidade, dando de barato o pequeníssimo comerciante numa bandeja de latão, a troco da promessa de novos empregos – que na prática se mostraram maioritariamente precários – para agradar a um eleitorado de vistas curtas, licenciando tudo o que era grande, afectaram um equilíbrio comercial que, por ser absolutamente necessário para a (con)vivência de pequenos e grandes tendeiros, nunca mais terá arranjo. Falar dos custos económicos destas medidas arbitrárias na contribuição da desertificação, nem valerá a pena. São incomensuráveis.
É também uma certeza, o consumidor de hoje, muito mais egoísta, sem laços de fidelidade à amizade e fiel ao princípio de “amigos, amigos, negócios à parte”, pouco se importando com a sobrevivência dos mais necessitados, é totalmente diferente daquele de há vinte anos. Por outro lado, cada vez mais comodista, apenas olha para o seu umbigo nas conveniências pessoais.
Por outro lado ainda, maioritariamente a clientela destes mercados tradicionais é formada por pessoas acima dos “cinquenta”.
Isto para dizer que, o novo executivo e vindouros, se não houver cuidado com o licenciamento de novas superfícies comerciais para a cidade, tal como o que se verifica na vizinha Coimbra, este novo investimento, não por força da sua localização, mas por más decisões em contrário ao interesse comum, podem ditar a sua morte e transformar este empreendimento em mais um “elefante branco”.
Vale a pena pensar nisto?
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