quarta-feira, 27 de outubro de 2021

BAIXA DE COIMBRA: CHEGOU A INFANTARIA

 




Estava o dia a fazer a cama para se ajeitar e a noite a impor a sua ronda, ali na zona da Rua Eduardo Coelho, a artéria comunicante entre duas praças históricas, uma onde D. Afonso Henriques passa pelas brasas para esquecer a ruindade da mãe e outra onde a Inquisição experimentou a primeira caixa de fósforos para assar um herege em lume brando no Pelourinho, faltariam p’ra aí poucos minutos para as 19h00 de hoje, foi quando se ouviu um grito feminino de espanto: “há quanto tempo, senhores polícias! As saudades que eu já tinha de vos ver da minha janelinha!

Era “menina” Efigénia, uma solteirona já entradota, que passa os dias e as noites pregada à vidraça na expectativa vã de avistar um uniforme. Por aqui, toda a gente sabe do segredo que já foi: o seu fascínio por fardas.

Quando era mais nova, para seu deleite, havia os grumetes que trabalhavam para os hotéis, e desapareceram. A seguir vieram e foram-se os guarda-noturnos. Diz-se até, no diz-que disse, que um deles até morreu esticadinho nos seus braços mas consoladinho. Para sua tristeza, há muitos anos que os agentes da PSP, como fumaça numa tarde de verão, desapareceram também desta zona. Daí perceber-se a alegria encaracolada em descarado assédio feito pela velhota.

Compreende-se perfeitamente a perplexidade. Quando foi a última vez que se viram na Baixa vários grupos, em par, de agentes da PSP? Até eu, que já sou velhote, quase tão idoso como a Efigénia, e, por mais esforço mental que faça, não me lembro.

Mas isso não interessa nada. O que importa é que o Miguel, o proprietário da Peixaria Pinguim, que já foi assaltado seis vezes este ano, finalmente vai conseguir pregar olho durante a noite inteira.

Durante quanto tempo vamos vê-los por cá? Não sei, nem vou querer saber, enquanto o pau vai e vem folgam as costas


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