Ao
ver as notícias sobre inundações em vários pontos do país, com a
chuva copiosa que se faz sentir por estes dias, quem mora e trabalha
na Baixa de Coimbra, provavelmente, sobretudo nesta última noite de
Quinta para Sexta-feira, teve o coração ao pé da boca pelo receio
das águas invadirem as suas lojas e habitações, como as ocorridas
em Setembro de 2008, em que vários estabelecimentos foram alagados.
Embora a
preocupação não deva ser colocada totalmente de parte, já que se
prevê outra depressão atmosférica para os próximos dias, há, no
entanto, uma situação e actuação que ressaltam. A situação é
que os cerca de 5 milhões gastos no ano passado no desassoreamento
do rio pela Câmara Municipal parecem ter sido eficazes para suster a
fúria das águas e poupar o Centro Histórico. Ao que tudo indica, somente
com inundações em Ribeira de Frades, uma povoação nos arrabaldes
da cidade, apesar do azar para esta localidade, tudo aparenta correr
pelo melhor. O Mondego, mais conhecido por Basófias, indica ter
aceitado bem o tratamento de extracção de areias nas suas entranhas
– há quem fale que o depósito dos inertes a jusante do rio está
a dar problemas. Quando vemos o que se passa, por exemplo, em
Amarante e comparamos com Coimbra tenho a certeza que ficamos mais
descansados. No que toca à actuação da autarquia, temos obrigação
de admitir, perante o aviso de temporal pela Protecção Civil,
esteve bem ao activar o Plano de Emergência até hoje, Sexta-feira,
à noite.
As
obras do Parque Verde, mais conhecidas por “Docas”, foram
iniciadas, no âmbito do programa Coimbra Polis, por volta do virar do milénio
e ainda no antigo mandato de Manuel Machado – que viria a perder as
eleições para Carlos Encarnação em 2001. Seria Encarnação que
se ocuparia de concluir a obra consignada e a fazer a sua inauguração
em 2004.
Se já se
adivinhava que o projecto tinha sido mal concebido – com a cota do
Parque Verde a cerca de três metros abaixo do Parque Dr. Manuel
Braga -, com vários
alagamentos desde 2004, em 2016, já
com Machado novamente como regedor do Paço desde 2013, com
a água a subir vários metros
e a fazer estragos de milhões
de euros
não só nas “Docas”
como também no Convento de Santa Clara-a-Velha,
ficou-se sem qualquer dúvida do
que nos esperava.
Ora, em face da
destruição à frente
de todos, que aos olhos de qualquer leigo a
solução futura do problema
obrigava a subir a cota
do parque de lazer em pelo menos um
metro, o que viria a edilidade a deliberar? Pedir um parecer ao
arquitecto Camilo Cortesão, que assinou a obra originária. Este viria a sugerir a construção de
um primeiro-andar por cima das instalações existentes. E o
executivo aceitou. Com um primeiro auto de consignação falhado –
a empresa não concluiu os trabalhos dentro do prazo -, em Setembro deste ano foi assinado novo contrato e
promessa de Manuel Machado de os bares abrirem no próximo Verão de
2020.
Por
conseguinte, temos o direito de interrogar: faz sentido manter o
anterior projecto e, com a ampliação, queimar nele mais uns milhões
de euros que, aparentemente, de
pouco servirá? Será esta uma
boa solução para o futuro?
Se dúvidas houver,
basta visionar as fotografias captadas hoje, cerca das 12h30 no
local, em que é visível o nível das águas a bater quase em paralelo com a
construção. Pode ver-se também que foram colocados vários sacos
com areia para tentar o remedeio.
Claro que vozes de
burro – o burro sou eu – não chegam ao Céu!
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