sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

EDITORIAL: A (IN)TRANQUILIDADE CAUSADA POR UM RIO INDOMÁVEL







Ao ver as notícias sobre inundações em vários pontos do país, com a chuva copiosa que se faz sentir por estes dias, quem mora e trabalha na Baixa de Coimbra, provavelmente, sobretudo nesta última noite de Quinta para Sexta-feira, teve o coração ao pé da boca pelo receio das águas invadirem as suas lojas e habitações, como as ocorridas em Setembro de 2008, em que vários estabelecimentos foram alagados.
Embora a preocupação não deva ser colocada totalmente de parte, já que se prevê outra depressão atmosférica para os próximos dias, há, no entanto, uma situação e actuação que ressaltam. A situação é que os cerca de 5 milhões gastos no ano passado no desassoreamento do rio pela Câmara Municipal parecem ter sido eficazes para suster a fúria das águas e poupar o Centro Histórico. Ao que tudo indica, somente com inundações em Ribeira de Frades, uma povoação nos arrabaldes da cidade, apesar do azar para esta localidade, tudo aparenta correr pelo melhor. O Mondego, mais conhecido por Basófias, indica ter aceitado bem o tratamento de extracção de areias nas suas entranhas – há quem fale que o depósito dos inertes a jusante do rio está a dar problemas. Quando vemos o que se passa, por exemplo, em Amarante e comparamos com Coimbra tenho a certeza que ficamos mais descansados. No que toca à actuação da autarquia, temos obrigação de admitir, perante o aviso de temporal pela Protecção Civil, esteve bem ao activar o Plano de Emergência até hoje, Sexta-feira, à noite.


E AS DOCAS? FAZEM SENTIDO AS OBRAS DE AMPLIAÇÃO?





As obras do Parque Verde, mais conhecidas por “Docas”, foram iniciadas, no âmbito do programa Coimbra Polis, por volta do virar do milénio e ainda no antigo mandato de Manuel Machado – que viria a perder as eleições para Carlos Encarnação em 2001. Seria Encarnação que se ocuparia de concluir a obra consignada e a fazer a sua inauguração em 2004.
Se já se adivinhava que o projecto tinha sido mal concebido – com a cota do Parque Verde a cerca de três metros abaixo do Parque Dr. Manuel Braga -, com vários alagamentos desde 2004, em 2016, já com Machado novamente como regedor do Paço desde 2013, com a água a subir vários metros e a fazer estragos de milhões de euros não só nas “Docas” como também no Convento de Santa Clara-a-Velha, ficou-se sem qualquer dúvida do que nos esperava.
Ora, em face da destruição à frente de todos, que aos olhos de qualquer leigo a solução futura do problema obrigava a subir a cota do parque de lazer em pelo menos um metro, o que viria a edilidade a deliberar? Pedir um parecer ao arquitecto Camilo Cortesão, que assinou a obra originária. Este viria a sugerir a construção de um primeiro-andar por cima das instalações existentes. E o executivo aceitou. Com um primeiro auto de consignação falhado – a empresa não concluiu os trabalhos dentro do prazo -, em Setembro deste ano foi assinado novo contrato e promessa de Manuel Machado de os bares abrirem no próximo Verão de 2020.
Por conseguinte, temos o direito de interrogar: faz sentido manter o anterior projecto e, com a ampliação, queimar nele mais uns milhões de euros que, aparentemente, de pouco servirá? Será esta uma boa solução para o futuro?
Se dúvidas houver, basta visionar as fotografias captadas hoje, cerca das 12h30 no local, em que é visível o nível das águas a bater quase em paralelo com a construção. Pode ver-se também que foram colocados vários sacos com areia para tentar o remedeio.
Claro que vozes de burro – o burro sou eu – não chegam ao Céu!

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