(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Parecendo
haver uma intenção clara de manipular e alienar,
concentrar
os indivíduos no acessório
evitando
que pensem no essencial, está construída
uma
sombra que obscurece a luz.”
No
último Domingo, com o argumento de inauguração das iluminações
natalícias, foi criado um motivo forte para a Câmara Municipal
de Coimbra oferecer gratuitamente uma grande festa para toda a
população. Segundo o site camarário, milhares de pessoas acorreram
ao concerto da Phartuna, Tuna da Faculdade de Farmácia de
Coimbra, e Bárbara Tinoco, uma das revelações do concurso
televisivo “The Voice”, da RTP1. Para a noite da passagem
de Ano velho para Novo já estão anunciados Pedro Abrunhosa e Os
Azeitonas, com mais espectáculos de outros artistas de menor
nomeada.
Tomando
o tempo de outro tempo em que nada acontecia em Coimbra, nos últimos
anos, com a edilidade a tomar o leme, a cidade está transformada
numa espécie de Altice Arena colectivo onde a boémia assentou
arraiais em todas as épocas e estações. Inscrito na divina
providência, sem custos para averbar, tudo indica caído do céu.
Parecendo haver uma intenção clara de manipular e alienar, concentrar os indivíduos
no acessório evitando que pensem no essencial, está construída uma
sombra que obscurece a luz.
A meu ver, o
problema é que esta continuação de festividades faz escola em tudo
o que sejam instituições, políticas, nomeadamente juntas de
freguesias, e sociais, como quem diz, associações profissionais.
Numa mimética de carneirada, fazendo de conta que, como prova de
sobrevivência, para mostrar obra basta aparecer nos jornais, em
metamorfose, o mediatismo em torno da animação dá-nos uma falsa
realidade. Em metáfora, é como se o circo estivesse sempre presente
e substituísse o lado social na defesa e reivindicação de medidas
necessárias ao desenvolvimento. Ou seja, em vez de haver uma
preocupação política em melhorar a vida das pessoas, aperfeiçoando
os instrumentos que promovem a prática diária, como por exemplo,
reforma de jardins, arranjos de passeios e calçadas que apuram a
locomoção e a mobilidade. Assim como o restauro de prédios camarários há muitos
anos encalhados na Baixa, substituição da frota automóvel na
Polícia Municipal. A ideia que prevalece é que há dinheiro para o
que não interessa e para o fundamental fecha-se o cofre.
Tal
como aconteceu nesta festa das lâmpadas de Natal, o povo, sempre
sedento de uma boa exaltação gratuita, acorre em massa. Mas uma
pergunta subjaz: economicamente o que trouxe esta vinda de um milhar
ou de milhares de pessoas? Pouco ou nada. Se esta fosse a chave para
a reabilitação da Baixa, estou certo, já há muito que a zona
estaria equilibrada. Acontece que tudo continua igual. Como na festa
do padroeiro na aldeia, há folguedo, acorre-se em massa. Quando acaba
a celebração do santo o lugar perdido nas entranhas permanece
isolado e quase sem vivalma. É assim Coimbra. Mas isso não interessa
nada. O que importa é que estamos sempre em festa, pá!
Vale
a pena pensar nisto?
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