quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

EDITORIAL: COIMBRA SEMPRE EM FESTA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Parecendo haver uma intenção clara de manipular e alienar,
concentrar os indivíduos no acessório
evitando que pensem no essencial, está construída
uma sombra que obscurece a luz.”


No último Domingo, com o argumento de inauguração das iluminações natalícias, foi criado um motivo forte para a Câmara Municipal de Coimbra oferecer gratuitamente uma grande festa para toda a população. Segundo o site camarário, milhares de pessoas acorreram ao concerto da Phartuna, Tuna da Faculdade de Farmácia de Coimbra, e Bárbara Tinoco, uma das revelações do concurso televisivo “The Voice”, da RTP1. Para a noite da passagem de Ano velho para Novo já estão anunciados Pedro Abrunhosa e Os Azeitonas, com mais espectáculos de outros artistas de menor nomeada.
Tomando o tempo de outro tempo em que nada acontecia em Coimbra, nos últimos anos, com a edilidade a tomar o leme, a cidade está transformada numa espécie de Altice Arena colectivo onde a boémia assentou arraiais em todas as épocas e estações. Inscrito na divina providência, sem custos para averbar, tudo indica caído do céu. Parecendo haver uma intenção clara de manipular e alienar, concentrar os indivíduos no acessório evitando que pensem no essencial, está construída uma sombra que obscurece a luz.
A meu ver, o problema é que esta continuação de festividades faz escola em tudo o que sejam instituições, políticas, nomeadamente juntas de freguesias, e sociais, como quem diz, associações profissionais. Numa mimética de carneirada, fazendo de conta que, como prova de sobrevivência, para mostrar obra basta aparecer nos jornais, em metamorfose, o mediatismo em torno da animação dá-nos uma falsa realidade. Em metáfora, é como se o circo estivesse sempre presente e substituísse o lado social na defesa e reivindicação de medidas necessárias ao desenvolvimento. Ou seja, em vez de haver uma preocupação política em melhorar a vida das pessoas, aperfeiçoando os instrumentos que promovem a prática diária, como por exemplo, reforma de jardins, arranjos de passeios e calçadas que apuram a locomoção e a mobilidade. Assim como o restauro de prédios camarários há muitos anos encalhados na Baixa, substituição da frota automóvel na Polícia Municipal. A ideia que prevalece é que há dinheiro para o que não interessa e para o fundamental fecha-se o cofre.
Tal como aconteceu nesta festa das lâmpadas de Natal, o povo, sempre sedento de uma boa exaltação gratuita, acorre em massa. Mas uma pergunta subjaz: economicamente o que trouxe esta vinda de um milhar ou de milhares de pessoas? Pouco ou nada. Se esta fosse a chave para a reabilitação da Baixa, estou certo, já há muito que a zona estaria equilibrada. Acontece que tudo continua igual. Como na festa do padroeiro na aldeia, há folguedo, acorre-se em massa. Quando acaba a celebração do santo o lugar perdido nas entranhas permanece isolado e quase sem vivalma. É assim Coimbra. Mas isso não interessa nada. O que importa é que estamos sempre em festa, pá!
Vale a pena pensar nisto?

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