domingo, 22 de dezembro de 2019

EDITORIAL: BAIXA, ESTÁS BEM DE SAÚDE, AMIGA?






Por um lado, é da psicologia social, quem está fora
de muros tem tendência a sobrevalorizar pequenos
indícios e fazer deles um resultado final. Por outro, quem está
a viver as coisas com a frieza da prática tem inclinação
para avaliar em função da idade e experiência adquirida.”



São 15h00 deste Domingo, 22 de Dezembro de 2019. Uma chuva incómoda e teimosa persiste em fustigar quem se aventura a percorrer a calçada. Por que é preciso escrever qualquer coisa, podemos perguntar: nesta altura de Natal e final de ano, a nível económico, como vai a nossa amiga Baixa?
Obviamente, como coisa, não pode responder, pelo que vemos, porque vivemos e trabalhamos no seu ventre, aventamos cenários. Começando pelo que lemos nos jornais locais, a Baixa, com mais estabelecimentos abertos, sobretudo de hotelaria, está em franca recuperação - escrevem eles. Claro que, como se trata da célebre teoria do copo meio-cheio/meio-vazio, vale o que vale. Os jornalistas opinarem sobre a Baixa tem o mesmo peso que eu ou outro qualquer leitor afirmar que a imprensa regional está em notada recuperação. Quero dizer com isto que “quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro”.
Por um lado, é da psicologia social, quem está fora de muros tem tendência a sobrevalorizar pequenos indícios e fazer deles um resultado final. Por outro, quem está a viver as coisas com a frieza da prática tem inclinação para avaliar em função da idade e experiência adquirida. Sendo pessoa nova, naturalmente por força do ânimo e sangue na guelra, sem termos comparativos, terá tendência em ver cenários cor-de-rosa. Já sendo pessoas de meia-idade, com memória de referência de outros tempos, fatalmente cai no discurso negativo.
Com esta explanação, quero dizer que, sendo a verdade uma mera convicção, será difícil atingir a realidade. Em acrescento, diremos que, mais que certo, o melhor é adicionar todas as premissas e depois obter o resultado em média. Isso não obsta que não se valorize, por si só, qualquer opinião -já que, à luz de uma leitura individual, todas terão o mesmo peso.
E, então, podemos interrogar: e qual é a minha? Antes de responder, ensaio com uma ressalva e uma introdução. Na ressalva, já sou velhote. Logo, por isso mesmo, como disse em cima, o meu depoimento, irremediavelmente tenderá (embora não obrigatoriamente) em cair para o pessimismo.
Na introdução, começo por dizer que, depois de falar com vários comerciantes, este terá sido, porventura, a pior quadra natalícia dos últimos vinte anos. Para além da falta geral de dinheiro da maioria dos consumidores, para além da concorrência agressiva dos centros comerciais, para além do comércio online, este ano o mau tempo manifestado com inundações no Baixo-mondego e previsão de alagamento de algumas partes baixas no Centro Histórico -que felizmente, salvo um ou outro caso pontual não se verificou -, acabou por reduzir a procura nesta época para níveis mínimos e preocupantes.
Mas há questões que me deixam a interrogar os astros: sendo hoje Domingo, à distância de três dias do Natal, porque é que tão poucas lojas abriram portas? Se na Calçada a maioria está pronta a receber clientes, nas ruas estreitas contam-se pelos dedos de duas mão os comerciantes que estiveram de atalaia. Salienta-se que, sendo poucos ou muitos os que aderiram à causa, os clientes também não marcaram presença. E é aqui, com este resultado igual, que ficamos com as voltas trocadas. Antigamente dizia-se que se tratava de uma pescadinha de rabo na boca. Ou seja, os compradores não vinham porque todo o comércio estava encerrado. Agora, mesmo nas vésperas da Festa do Deus-menino, em que era normal haver um índice de procura acima da média, nem os comerciantes vieram nem os consumidores deram sinal. Como avaliar o comportamento de um e outro grupo?
Por parte dos comerciantes, adivinha-se que terão perdido a esperança. Pensarão, se não vendi nos dias antecedentes, o que venho fazer para aqui ao Domingo?
Já no que toca à parte da procura, mais que certo, teriam pensado: o tempo para além de não estar convidativo, a maioria das lojas estão encerradas. Então, o melhor é ir ao centro comercial.




E NA HOTELARIA?


Quando se fala na mudança para melhor da Baixa, infalivelmente, aponta-se o acréscimo da hotelaria na zona como a amostra de um desenvolvimento que parece tangível sem óculos de aumento. Mas será mesmo assim?
É verdade que este ano, como multiplicação dos pães, os estabelecimentos de café e restaurante cresceram exponencialmente, mas, tomemos nota, já encerraram três. Pode servir de paradigma este claudicar? Não sei. O que sei é que nem tudo são flores. Posso afirmar também que, com a concorrência desenfreada que se adivinha, a vida não está fácil para muitos. Alguns já baixaram preços. É preciso não esquecer que a Baixa trabalha bem, por força do turismo, durante seis meses, de Abril a Setembro. Mas o ano tem doze meses, este é que é o verdadeiro problema.

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