quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

EDITORIAL: O AZULEJO TRADICIONAL EM RISCO DE DESAPARECER?

(Imagem retirada, com a a devida vénia, do OLX)





Para umas obras de conservação e restauro, nas últimas semanas, sobretudo na zona de Coimbra, procurei e não encontrei azulejos 15x15, o revestimento de paredes tão tradicional e tão marcado na nossa cultura construtiva. Deslocando-me para a zona de Aveiro, em muitos estabelecimentos de materiais de construção a mesma resposta: “com as novas tendências decorativas a pender para mosaicos de maiores dimensões, a procura de azulejo clássico está em queda livre.
Depois de calcorrear entre Seca e Meca, na Veneza portuguesa consegui chegar à Fábrica Aleluia onde ainda é fabricado o mosaico tradicional pintado à mão, mas apenas por encomenda – naturalmente com um preço elevado em relação ao corrente. Foi nesta grande empresa de tanta memória que então me informaram da existência de uma indústria de manufactura, a Primus Vitória. Foi aqui que, quer com uma simpatia acima da média, quer em variedade de padrões, encontrei o pretendido.
Foi a procura incessante da minha experiência que, de certo modo alarmado, me levou a escrever sobre este assunto. O que está acontecer a uma parte cultural da nossa identidade nacional?
Para me sustentar, tenho na mão dois exemplares da obra “Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI e século XVII, de J. M. dos Santos Simões, uma reedição de 1969 onde se conta toda a história do “Corpus da Azulejaria em Portugal”. Obra patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian “a cuja requintada sensibilidade estética não escapou a mensagem de beleza e de cultura do azulejo”, pelas largas dezenas de estampas de painéis por este Portugal fora, ficamos a saber o que está em causa.
Há pouco tempo lemos na imprensa que vários edifícios antigos na zona de Lisboa estão sistematicamente a ser assaltados para roubar estas tão características placas cerâmicas.
Entre o furto do azulejo antigo e o abandono do seu fabrico, será que o Ministério da Cultura está atento a este fenómeno de desaparecimento?

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