quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

REPUBLICAR UM BONITO POEMA (2013)

(Imagem da Web)



POR “ZÉ DA BRENHA”
(Alonso Sayal)


RECORDAÇÃO”
Fui um dia de mansinho
ao sótão dos trastes velhos
tentar reviver sozinho
o já distante caminho
que me separa de mim;


Degraus velhos, carcomidos,
o ranger da fechadura,
os gonzos apodrecidos,
o bafio dos tempos idos
impregnados de ausência
eram a certeza dura
da minha vida em falência;


Entrei…
Reinava a desolação, a agonia.
e tudo o dantes era o meu mundo de quimera,
jazia só,
em contornos imprecisos
sob montanhas de pó;


Silêncio…
Envolto em recordação,
arquitectura de delicados fios dourados
envolviam a moldura de sonho leve e candura
que foram tempos passados;


O Pião de tão lindas melodias,
como eu ficava contente
quando ele girava, girava,
velozmente...
Agora sou eu que giro mas…
de maneira diferente;
O triciclo já sem rodas…
das corridas no jardim
dessa alegria sem par,
hoje corro atrás de mim
sem as conseguir agarrar!


O carro da bomba, vermelho,
sem bombeiros,
desmanteladas as rodas
em três bocados a escada.
Talvez por isso, talvez,
que ao cimo não chegarei
de tão íngreme escalada;


E aquele aeroplano
que me fizera o avô
e que tão alto subia?
Jaz sem asas e sem leme.
Quis voar também um dia
e as minhas asas quebradas
por lhe faltarem as forças;
Coitadas!...
Não me levaram por cima
dos montes que ao longe via;


Recordações,
bocados do tempo antigo,
retratos velhos,
o baú das ilusões
da minha alma a sorrir.
Tanta, tanta saudade morta,
por detrás daquela porta,
que eu não voltarei a abrir!...


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