(IMAGEM DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)
(REPUBLICANDO UM
AMONTOADO DE
LETRAS
ESCRITAS EM
2008)
UMA
FOLHA CAÍDA NO NATAL
É
Dezembro…
Uma folha cai…
lentamente…
Ziguezagueia por
entre a amálgama de gente,
gente apressada,
escrava do tempo,
insatisfeita, faces
duras sem contento,
pisam a folha,
alinhados em parada, com tacões,
ecoam na calçada…
como centuriões,
as pedras vibram,
com tanta precisão,
uma pedrinha
solta-se na multidão,
alguém a pontapeia,
ao acaso, em estopada,
e ela rolando, por
cá e lá, vai sendo chutada;
O
vento sopra, cortante, e a folha voa,
e de cima, olha para
baixo, vê à toa,
este exército mal
ordenado,
como se estivesse
condenado,
a andar, a andar,
sem se render,
mesmo sabendo que
vai desaparecer,
continua a querer
mais, a ambicionar
mesmo que por um
metro de terra tenha de matar
e o menino de olhos
tristes, cara meiga, faça chorar,
o que importa nesta
guerra é o feito, o vencer,
a infelicidade não
conta, mesmo sabendo que se vai morrer;
E
de novo a folha cai… lentamente…
Um louco ri sozinho…
desalmadamente,
pega na folha, com
carinho, o anormal,
afaga-a com a mão,
como se fosse um pardal,
faz caretas,
gesticula, dança ao vento com nobreza,
embala a folha,
dá-lhe beijos, filha da natureza,
nem o frio, a
refrear o ímpeto, lhe faz mal,
ele sabe que é
festa, não sabe que é Natal,
não sente a
solidão, não conhece abraços,
não compreende a
razão de tantos laços,
E de tantos rostos
fechados com ar formal;
Alguns
presentes e sacos enfeitados,
tantas almas
embrulhadas,
tanto amor
materializado,
tanto calor humano…
desperdiçado
entre o dever e o
ser,
só é gente com…
o ter,
e a folha…
lentamente,
nos braços de um
demente,
sorri… para a
turba disforme,
e pensa a folha, se
eu falasse… uma frase conforme,
mesmo com a voz do
tonto rouco, gritaria em altos berros:
AFINAL QUEM É O
LOUCO??!!
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