O Diário as Beiras de hoje, em primeira
página, noticia “Bares e restaurantes do
Parque Verde em rota de colisão com a Câmara de Coimbra”. Em continuação,
na página 5, escreve-se o seguinte: “O
administrador do complexo de bares e restaurantes do Parque Verde do Mondego
referiu ontem que os prejuízos das inundações de 11 de janeiro ascendem a
valores entre 2,5 e três milhões de euros, acrescentando que os seguros não
cobrem estes danos, o que mereceu imediatamente uma reação enérgica da Câmara
Municipal de Coimbra. Ler aqui o comunicado da edilidade. O
representante dos comerciantes de restauração, Rogério Emídio Silva, disse que
não está a ser equacionado avançar já com obras de recuperação das instalações –parcialmente
destruídas nas inundações de 11 de janeiro- porque não faz sentido executar
agora o investimento para que “daqui a 15 dias, haja uma nova cheia”. O
administrador do condomínio comercial acrescentou que, desde 2004, já se
registaram inundações por 14 vezes, o que leva as seguradoras a não aceitar
fazer “seguros contra cheias”, devido ao “excesso de sinistralidade”.
LAVAR AS MÃOS COMO
PILATOS
Vamos por partes. Esta inundação foi única na
última década? Não, nos últimos tempos o fenómeno repete-se ano-após-ano, e desde
2001 que os alagamentos são uma constante. São somente os hoteleiros do Parque
Verde que estão lesados? Não, a margem esquerda, junto ao Liceu D. Duarte,
continua a ser fustigada pela invasão das águas e, segundo parece, muitas
pessoas sofreram elevados prejuízos decorrentes da água em excesso. A própria
Baixa, segundo se consta, com o assoreamento das areias no rio está cada vez
mais ao nível do lençol freático e sofre a ameaça de vir a ser transbordada.
Perante o grande caudal do Mondego neste mês de Janeiro esteve na iminência de,
mais uma vez, ser alagada. A última grande cheia, que inundou vários
estabelecimentos, foi em 24 de Dezembro de 2013. Mas houve outros dilúvios anunciados que causaram grande
preocupação aos comerciantes.
Mais uma pergunta: os
responsáveis da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) não sabem o que se passa? Podem
passar a bola para os prejudicados, lembrando que estão obrigados a ter
seguros, e lavando daí as mãos? Lá poder podem, mas politicamente, já para não
falar em moral e ética, só lhes fica mal. Numa altura em que, na generalidade,
os empresários e comerciantes sofrem as agruras de cinco anos de austeridade e
estão completamente descapitalizados, esta posição do executivo da CMC
demonstra, preto no branco, que se está a marimbar para as dificuldades dos
operadores económicos do concelho. Aliás, nem será de estranhar, já este mês também procedeu assim em relação ao pagamento de licenças de esplanada. Numa
interrogação bacoca, é caso para perguntar: será que esta autarquia socialista,
confundindo os pequeníssimos operadores como representantes do grande capital,
odeia os criadores de riqueza e, esquecendo que faz parte do problema, aparentemente
faz tudo para os enterrar ainda mais? Parabéns! Está a conseguir levar o seu
intento avante!
LÊEM TODOS PELA MESMA
CARTILHA?
Poderemos indagar se esta forma de laxismo, no
deixar correr na resolução de grandes problemas para a cidade, é património
exclusivo deste poder liderado pelo PS? Não! Claro que não! Basta lembrar o aviso, em 2012, da administração da empresa que gere o barco "Basófias", que opera no lençol de água, quando pela dificuldade de manobrar ameaçou largar de Coimbra para outra cidade. Recordemos também as
cheias de 2013 quando, por várias vezes, o leito do rio transbordou e alagou
casas e estabelecimentos na margem esquerda e no Parque Verde e, por parte da
edilidade, nada foi feito. Diga-se a propósito que, perante a catástrofe de
particulares e empresas, o anterior executivo camarário, liderado por Barbosa
de Melo, fez a mesma coisa: limitou-se a assobiar para o lado. Nem mesmo quando,
em Março de 2013, a então ministra do Ambiente, Assunção Cristas, publicamente
anunciou dar luz verde para se desenvolverem os estudos necessários e, segundo
as suas declarações na altura, sem custos para a Câmara Municipal de Coimbra.
MINISTÉRIO DO AMBIENTE
CHUTA PARA DEUS
Depois de tudo alagado, neste Janeiro, já com
o actual Governo como timoneiro, veio a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) afirmar
“que a ocorrência de cheias no vale do
Mondego, sobretudo na zona do Baixo Mondego, é uma «situação recorrente» e que
acontece quando há períodos de grande precipitação”.
PASSAGEM PARA A EDP
“Uma alegada
“descarga abrupta” na barragem da Aguieira para produção de energia
elétrica pela EDP estará na origem das cheias que inundaram Coimbra e o Baixo
Mondego, na segunda-feira. A denúncia foi feita, ontem, pelos autarcas dos
quatro municípios mais afetados -Coimbra, Soure, Montemor-o-Velho e Figueira da
Foz – que enviaram um pedido de esclarecimento à Agência Portuguesa do Ambiente
(APA), autoridade nacional para a segurança das barragens, com o conhecimento
do ministro da tutela”.
QUINZE MILHÕES A METER
ÁGUA
“A informação não chegou em tempo útil para podermos agir”, disse Manuel
Machado, autarca de Coimbra. Entre as zonas afetadas está o Convento de Santa
Clara-a-Velha, que nos anos 90 do século passado foi restaurado com um custo
para o Estado de 15 milhões de euros”.
A CULPA VAI CASAR COM
QUEM?
Para terminar, neste passar de responsabilidades, acho que só falta mesmo culpar a Rainha Santa Isabel. Quem sabe, do alto da sua eminência e do seu poder intemporal, talvez lá para 2036, comemoração de sete séculos da sua morte, em Estremoz, a dificuldade esteja resolvida. Até lá, vamos todos rezando para que a situação não piore.
TEXTO RELACIONADO
"Editorial: a destruir de Coimbra parta o país"
Para terminar, neste passar de responsabilidades, acho que só falta mesmo culpar a Rainha Santa Isabel. Quem sabe, do alto da sua eminência e do seu poder intemporal, talvez lá para 2036, comemoração de sete séculos da sua morte, em Estremoz, a dificuldade esteja resolvida. Até lá, vamos todos rezando para que a situação não piore.
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