sábado, 16 de dezembro de 2017

COMÉRCIO: O APELO APÓCRIFO





Hoje, começou hoje a circular nas lojas comerciais o apelo apócrifo -”Que não foi reconhecido como devidamente inspirado ou não está incluído no cânone”- que se mostra em cima, para a convocatória de uma manifestação pública, na próxima quarta-feira. Dia 20, em frente à Câmara Municipal de Coimbra.
Vamos a analisar a folha escrita distribuída. Comecemos pelo arrazoado do texto. O que se transcreve no comunicado anónimo, pela imprecisão, é, no mínimo, surreal.
Reparemos nos parágrafos iniciais. Atentemos ao primeiro: “Vai ler ou vai directamente para o lixo e continuar a criticar sem nada fazer?
E no segundo: “Todos falam, outros escrevem mas ninguém haje” (age).
E passemos ao terceiro: “Não interessa quem teve a ideia. Foi de vários comerciantes. Juntos é que somos fortes.
E o quarto: “Em cima da hora? A correr? Talvez mas, estes últimos acontecimentos foram a última gota”.
Mais abaixo: “A Câmara será notificada porque assim tem de ser, a polícia também, e os media.
E logo a seguir a pérola: “Partidos políticos à parte. Se não quiserem dar a cara podem sempre comprar uma máscara de pai natal e até podemos ir todos de gorro. É exactamente alegria e vida que pedimos para a nossa baixa.
Deixando de parte os primeiros pela sua clareza nublada, este último parágrafo mostra como facilmente se dá um tiro no pé. Como é que se pode colocar de parte os partidos políticos se a decisão de revitalizar a Baixa comercial, para além de ser económica, é essencialmente uma questão política e passa pelos agrupamentos partidários representados no Executivo e Assembleia Municipal?
Como é que se pode ironizar com o “dar a cara” quando o autor(a) ou autores o que fazem aqui é exactamente esconder-se atrás de um anonimato?
Afinal, este comunicado não deveria vir identificado?
Quem vai pedir a licença para a manifestação?

OUTRAS PERGUNTAS

Imaginemos, por hipótese escassa, que o presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado, na próxima quarta-feira, larga a reunião do executivo do Plano e Orçamento e aceita receber os responsáveis. Se não estão identificados, vão ser escolhidos em cima do joelho, “ad hoc”, para esse efeito?
Continuemos a sonhar, o grupo sobe as escadas dos Paços do Conselho. Machado, acompanhado com um assessor e um adjunto que conhece bem a zona comercial, está à espera da representação dos protestantes no gabinete da presidência. Depois dos cumprimentos da praxe interroga: O que querem os senhores que a Câmara faça?
Os membros da representação vão reivindicar o quê? Isto?

*Estacionamento nos parques particulares pago pela autarquia?
*Rendas comerciais, de propriedade privada, mais baratas?
*Posse administrativa para as lojas encerradas há muito tempo?
*Obrigar os privados a realizar obras nos seus prédios?
*Trazer lojas âncora (de marcas) para a Baixa?

A velha raposa, cheia de manha, cofiando a pera e todo a rir-se por dentro, com uma voz de tenor bem colocada mas carregada de paternalismo, vai dizer mais ou menos isto: meus senhores a Câmara Municipal não tem legitimidade para interferir nessas premissas que os senhores apresentam. A lei não permite. Não têm outras pretensões que esteja dentro do nosso alcance?
Os protestantes vão olhar-se entre si sem saber o que dizer. O chefe da edilidade, adivinhando a atrapalhação, vai retorquir: as obras que começaram agora no “Bota-abaixo” aconteceram pela urgência que a edilidade tem em abrir a Avenida Central. Para cumprir o prazo da obra consignada mandei começar as obras imediatamente pelo amor que tenho por esta zona e até preocupação pelo que se passa com os comerciantes. Podem ir descansados que estou profundamente interessado na revitalização da Baixa. Tenho noites que nem durmo a pensar nisto. Devem lembrar-se que o meu “Valorizar Coimbra” foi a bandeira da minha recandidatura. Estão lembrados, não estão?

E A APBC? COMO É QUE ESTÁ NISTO?

A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), a única entidade de proximidade junto dos comerciantes, qual é o seu papel nesta manifestação de comerciantes? Foi contactada para intervir?
Se foi, qual vai ser a sua posição? Vai estar ao lado de Machado ou à frente do (talvez) enorme e ruidoso grupo de protestadores?
Se não foi convidada deveria ter sido. É a sua prova de vida que está em jogo. Se não se envolver neste processo vai acabar mais depressa do que se pensava. Estatutariamente, pela falta de outra associação representativa da classe -já que a ACIC faliu-, é a esta entidade que, juntamente com os reivindicativos anónimos, cabia negociar com a Câmara.

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