Tendo
em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as
actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam,
diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de
Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política,
poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços
mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo!
Parar
o licenciamento de mais feiras de rua na Baixa (e na cidade) excepto
se a sua realização acontecer ao Domingo; ordenar os certames
actuais com lugares marcados para os vendedores e inscritos
previamente na Câmara Municipal de Coimbra contra pagamento dos
espaços cedidos.
Para
além da Feira dos 7 e dos 23 na margem esquerda, durante mais de uma
década, na Baixa e com periodicidade mensal, a Feira de Velharias,
que se iniciou em 1991 na Praça do Comércio, foi filha única. Pela
mão de Carlos Dias, antiquário e dono do Velhustro, começou como
feira franca, isto é, sem estatutos, gratuita e sem inscrição
antecipada por parte dos vendedores. Depois da centenária Feira da
Ladra, em Lisboa, como foi das primeiras a surgir no país para
animar as cidades com movimento de pessoas, durante pouco tempo foi a
rainha da zona centro. Dentro do mesmo conceito de gratuitidade, logo
a seguir e a multiplicarem-se como cogumelos, nasceriam em Viseu,
Leiria e Águeda e Mealhada. Aveiro criou a sua mas com regras, com
estatutos, com lugares marcados e com inscrição na Câmara
Municipal e com pagamento semestral. Ao longo destes últimos vinte
anos, enquanto todas as outras, que nunca cobraram mas também nunca
investiram nada, foram decaindo e algumas desapareceram, Aveiro com
realização ao Domingo, e com contra-prestação dos expositores que
pode chegar aos 300 euros anuais, é hoje uma das mais pujantes e de
maior importância nacional. Transferindo o certame para o Centro
Histórico, espalhando os vendedores pelas praças, becos e ruelas e
aproveitando para revitalizar ruas pouco frequentadas, é uma romaria
bem concebida entre a dualidade do interesse privado e serviço
público.
A
Feira de Velharias de Coimbra, sem qualquer investimento por parte da
autarquia, sem publicidade, sem lugares marcados e ao sabor de
simpatias, obrigando os vendedores a dormirem lá dentro dos carros
para marcarem o seu lugar, numa teimosia muito própria de barões
mal assinalados, mantendo-se sempre na Praça do Comércio, por força
das esplanadas entretanto geradas, foi encolhendo, encolhendo, até
ao dia em que, por forças das circunstâncias, inevitavelmente
morrerá.
Há
meia-dúzia de anos, no espaço da romaria do Espírito Santo, em Santo António
dos Olivais, surgiu uma de feira mensal de trocas e de usados.
Seguindo a linha da precedente também gratuita e sem inscrição
prévia.
Também
há poucos anos, pela orientação de José Simão e Junta de
Freguesia de Santa Clara, foi criada a Feira sem Regras, junto ao
Convento Velho. Praça de venda de artigos usados e antigos, na mesma
orientação da Feira de Velharias, como o nome indica, sem regras,
gratuita e sem lugares marcados, nascida para reanimar a margem
esquerda, é de prever que, a médio prazo, terá um fim igual à
primeira.
Anualmente
realizavam-se na cidade a CIC, Feira Industrial e Comercial de
Coimbra, ultimamente no Choupalinho, a Feira Medieval, no Largo da Sé
Velha, a Feira das Cebolas, na Praça do Comércio, e a Feira do
Livro e do Artesanato, na Praça da República -que em 2013, sob
ordens do executivo Coligação por Coimbra, passou para o Parque
Verde com uma cabimentação de 70,500 euros e com stands pagos pelos
utilizadores. Em 2014, sob comando do executivo socialista, passou
para o Parque da Cidade com um orçamento de 113 mil euros e
sem onerar os vendedores. Em 2015 o mesmo orçamento e
gratuitidade para vendedores. Em 2016 o mesmo e com um agravamento para os
cofres da edilidade em cerca de 130 mil euros. Este ano de 2017, a
autarquia gastou cerca de 170 mil euros para realizar gratuitamente,
com custos apenas para o erário público, a Feira Cultural de Coimbra.
Por
volta de 2007, pela batuta de Mário Nunes, vereador da Cultura da
Coligação por Coimbra, nasceu a Feira da Flor e da Planta que, sem periodicidade e sem agravo para os expositores, se realizava
ao ar livre nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz. Actualmente,
continuando a ser gratuita para os vendedores, é realizada
mensalmente no mesmo local.
ARMA DE
TIRO PELA CULATRA
Escrevendo
sobre Coimbra, quer o anterior executivo da Coligação por Coimbra,
quer o actual liderado pelo Partido Socialista, cedo verificaram que
a realização de feiras é uma forma fácil, facilitista, de agradar
à maioria constituída pelo público em geral e o que visita o
certame apenas neste dia, pelos vendedores que, vindo de perto e de
longe, nada pagam e pelos hoteleiros que, nestes dias de forró,
facturam sempre mais do que habitualmente. Sabendo-se que para muitos
ganharem, a maioria, alguém, a minoria, terá de perder. Ora este
lugar do morto cabe por inteiro às lojas comerciais implantadas na
Baixa. Isto é, numa visão egoísta, que apenas se sustenta no
sucesso da festa e dos foguetes, e acompanhada pelos hoteleiros,
pelos turistas e pelos vendedores, que vêm de fora fazer
concorrência a quem cá está estabelecido e é obrigado a cumprir
formalidades fiscais, a autarquia não hesita em subsidiar estas
acções mesmo sabendo que o tiro saído pela culatra fere de morte
imensas lojas de artesanato e outras áreas.
Portanto,
pelo que fica escrito, numa espécie de “nós e os outros mas em
nome de todos”, não é de admirar que o presidente da APBC,
Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, sendo hoteleiro,
defenda hoje no Diário as Beiras que “tem mantido contactos
com responsáveis camarários de vários concelhos da CIM -Comunidade
Intermunicipal da Região de Coimbra- com vista à captação de
novos certames ao centro histórico. (…) Iniciativas como estas são
extremamente positivas para nós. Dão vida à Baixa e agitam o
comércio e a restauração. Por mim, tínhamos isto todas as
semanas. (…) Já fizemos esse convite a diversas pessoas e penso
que, no futuro, haverá condições para que esses concelhos possam
vir a Coimbra promover a sua gastronomia, comércio, artesanato e
todas as suas mais-valias.”
Haja
paciência para tanta falta de bairrismo e insensibilidade para quem
cá tenta resistir. Haja
dinheiro no erário público -e que este não se esgote para fazer
punhetas a grilos- para rebentar no ar fogo de
artifício.
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