(Imagem de arquivo)
Tendo
em conta a continuada situação de aproveitamento político,
de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais
tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às
próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo
medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para
atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo!
Recuperar
o agente policial de proximidade
Para
melhor ilustrar o que defendo vou contar o que se passou hoje. Cerca
das 11h30, na Rua Eduardo Coelho, um idoso com cerca de setenta e
poucos anos, com roupas miseráveis e sebentas e cujo fedor não se
aconselha aos mais sensíveis, apoiado-se em duas canadianas e
transportando numa das mãos uma folha manuscrita A3 batia com uma
das muletas na porta das lojas comerciais a solicitar uma moeda. O
papel, com mensagem escrita à mão dizia mais ou menos isto: Tenho
uma reforma de 264 euros e não chega para eu viver. Ajude-me para eu
poder comer e pagar um quarto numa pensão.
Por,
na mesma altura, um colega comerciante me ter alertado em surdina que
o homem se tinha metido com uma prostituta e esta lhe ter furtado
todo o dinheiro, fui falar com ele. Ora, o que constatei foi um velho
aparentemente desmiolado, com um discurso incoerente, que não dizia
coisa com coisa. Um mendigo das palavras. Era mais um velho do esquecimento, um homem sozinho. Afirmava ser da zona de Condeixa, mas não
se lembrava de que aldeia. Disse ter dormido numa pensão, na Baixa,
mas não sabia onde ficava. Parecia desorientado. Como arrastava as
alpercatas desmazeladas com alguma dificuldade deduzi que não iria
longe e tratei de encontrar um agente da PSP na proximidade. Debalde. Nas
ruas em redor, na Praça 8 de Maio e até na Rua Visconde da Luz não
avistei nenhum cívico. Da Polícia Municipal a mesma coisa. Como
estava a cerca de uma centena de metros da 2.ª Esquadra fui lá e
relatei ao agente de serviço na triagem o que se passava e se podia
mandar um agente que andasse na zona para identificar o mendicante.
Seria o homem um fugitivo de algum lar de idosos? Saberia a família
por onde andava? Tentei inquietar o agente. A verdade é que, tocado
ou não pelos argumentos, ligou para uns subalternos que,
presumivelmente, andariam na zona e ordenou que se dirigissem às
ruas estreitas. A verdade também é que -pelo menos que eu visse-
por estas vielas não se vislumbraram. Do viandante homem sem
identidade pouco se sabe. A sua história, acabada ou recomeçada,
por não ser urgente, esperará por novos capítulos.
Há
cerca de dezena e meia de anos que a Baixa, na mesma linha e
acompanhando o esvaziamento de moradores, foi assistindo ao
desaparecimento do chamado polícia de giro. Certamente tendo
por objecto unicamente a poupança de meios, e provavelmente seguindo
as ordens superiores do Ministério da Administração Interna,
começou por ser retirada a vigilância nocturna -o que em 2007/2008
deu numa enorme vaga de assaltos e, para tapar os olhos com a
peneira, redundou na instalação das câmaras de videovigilância -que na actualidade, pela santa burocracia, estão desactivadas.
Depois, quando os ventos e as levadas ciclónicas acalmaram,
progressivamente, não só se foram os da noite como paulatinamente
foram retirando os agentes da rua durante o dia. É certo que, de vez
em quando, andavam por aqui dois agentes da Polícia Municipal, mas
isso foi Sol de pouca dura. Hoje, na Baixa, numa zona densamente
povoada por turistas nacionais e internacionais, contam-se pelos
dedos de uma mão os profissionais de segurança visíveis.
Pode até pensar-se que o que
está em causa será a segurança física e psicológica de
transeuntes, mas não é só isso. Um ou dois agentes numa zona é um
factor de tranquilidade que enriquece todo o meio populacional em
redor. Para além disso, embora com uma conotação saudosista
negativa mas utilitária, como “polícia de costumes” pode ajudar a cumprir premissas de várias posturas municipais entre
elas, por exemplo, a limpeza. Se houvesse cívicos por aqui, mais que
certo, não continuariam a ser depositados sacos com lixo a qualquer
hora do dia. Outro exemplo, o estacionamento anárquico de automóveis
em zonas proibidas não continuaria a ser uma constante. Outro ainda,
a necessária identificação de pessoas de rostos e comportamentos
mal amanhados -como se sabe, chama-se a isto prevenção.
Vale
a pena pensar nisto?
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