Tendo
em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as
actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam,
diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de
Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política,
poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços
mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo!
Deve
ser criado o estatuto de Loja de Tradição -estabelecimentos,
comerciais, industriais e de serviços, com mais de 20 anos;
(paralelo
a esta ideia, e só assim fará sentido, deve ser implantada a
criação de um bilhete turístico único para todos os monumentos
na Baixa e Alta, incluindo a Universidade, Portugal dos Pequenitos,
todas as igrejas, Lojas de Tradição e Repúblicas. As Lojas de
Tradição, tal como as Repúblicas, estando disponíveis para
receber turistas previamente apetrechados com bilhete de livre
acesso a toda a monumentalidade da cidade terão a sua quota-parte
correspondente, por igual a dividir pelo número de subscritores
contraentes no protocolo, e os visitantes, apresentando o bilhete
nos espaços comerciais, terão direito a um desconto negociado e
anunciado)
Estranhamente,
ou talvez não, está em vigor um bilhete turístico único subscrito
entre apenas duas entidades: Fundação Bissaya Barreto -com visita
ao Portugal dos Pequenitos- e Universidade de Coimbra -com visita à
Biblioteca Joanina e espaços adstritos. A explicação para este
absurdo procedimento, com notório prejuízo para as actividades
privadas e para o desenvolvimento da Baixa, foi-me dado por Luís
Menezes, vice-reitor da Universidade de Coimbra e responsável pelo
turismo, em 22 de Outubro de 2016, no Teatro da Cerca de São
Bernardo, numa conferência seguida de debate sobre o lema “A
visão do Guia Interprete para uma Cidade Património da Humanidade".
À minha pergunta sobre o facto de haver apenas dois subscritores
neste bilhete único respondeu Filipe Menezes que é assim porque,
embora fosse proposto, não houve entendimento com a Diocese de
Coimbra -entidade gestora e responsável pelos monumentos
classificados e dedicados ao culto católico.
Tal
como afirmei, olhos-nos -olhos, na altura a este senhor vice-reitor,
é urgente acabar com o monopólio que a Universidade de Coimbra quer
impor sobre os fluxos turísticos que aportam à cidade. É
vergonhoso constatar que, num circuito viciado, o trajecto continue a
ser entre o hotel Astória, Arco de Almedina e Universidade e vice
versa. Perante a total passividade do executivo municipal, sem se
querer saber da riqueza que deve ser geral e caber a todos e não
apenas a alguns, abandonou-se a Baixa na generalidade e mais
propriamente a Rua da Sofia -parte também classificada pela UNESCO
como Património Mundial da Humanidade. Quando, naturalmente e pela
distinção, se deveria levar os turistas a esta rua dos colégios e
da sabedoria, assobia-se para o lado e faz-se de conta que está tudo
bem. Só que os estabelecimentos a encerrarem nesta rua larga são
como o algodão: não enganam. É a prova provada de que a gestão da
cidade não está ser gerida com imparcialidade. E os ícones vão desaparecendo.
É
preciso ter coragem para bater o pé à Universidade e dizer aos seus
dirigentes que não é nenhum principado independente. A
Universidade, embora com estatutos próprios, faz parte da cidade e
não o contrário. Isto é: não é a cidade que está arregimentada
ao seu alegado desmesurado poder. Sem que nos apercebamos,
lentamente, com total prejuízo para as actividades comerciais de
Coimbra esta entidade está a chamar a si a parte de leão na
rentabilidade turística. Por exemplo, tendo esta faculdade do saber
por objecto a formação intelectual de cidadãos, não se entende
que, concorrendo com os privados na venda de artesanato, possa ter
uma loja aberta no seu espaço histórico. Que aproveite bem,
onerando quem visita as suas seculares instalações, até se aplaude
e entende com razoabilidade. Mais do que isso, a meu ver, é abuso de
posição dominante. E mais: como a marca Universidade é registada,
preparem-se os operadores privados da cidade, na Baixa, para um dia
destes serem proibidos de vender artigos regionais com o seu
logótipo.
Ao
escrever sobre este assunto tenho alguma esperança de que mudem os
procedimentos? Claro que não. Seja este executivo PS, que sobre este
assunto nos últimos três anos de classificação universal nada
fez, seja outro que lhe suceda, o dobrar da espinha, em vassalagem
silenciosa e sem decreto que o fundamente, escandalosamente vai
continuar. Rezemos à porta das igrejas encerradas na Baixa e oremos
a Deus um milagre, que, pelos vistos, destes políticos que nos regem com visão desfocada não levaremos nada.
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