(Imagem da Sapo Mag)
Quando
há cerca de um ano Portugal foi Campeão Europeu de Futebol ninguém
ligou o feito a um milagre dos Pastorinhos de Fátima. Apesar dos
últimos Censos de 2011 mostrarem que 75 por cento de portugueses são
católicos, a verdade é que, pela não ligação do nexo de
causalidade entre o terreno e o metafísico, ao colocar o facto para
detrás das costas e a declarar preto no branco que somos maioritariamente cristãos
não praticantes, divididos entre o cepticismo e a conveniência,
demonstrou-se ao mundo que o país é absolutamente herege. E mais: que é mal agradecido.
Nem mesmo quando os
milagres estão à vista de todos e à mão de semear, são poucas as
vozes que se levantam em defesa da verdade suprema sem contestação.
De pouco vale ver-se um governo socialista, de esquerda e laico,
converter-se ao catolicismo apostólico romano. Para esta cambada de
fariseus sacrilégios é pouco e não chega. Para quem não acredita
e tudo serve para protestar, de pouco interessa o gesto magnânimo e
tão cristão do executivo em dar tolerância de ponto aos
funcionários públicos na próxima sexta feira para que todos, em
conjunto, possam ir ver e rezar com o Papa Francisco.
Mas
Fátima, com o seu incomensurável poder temporal, não dorme e está
atenta. E para provar que não se brinca com a sua força, deu-nos
mais um milagre: levar à final do Festival da Eurovisão uma canção
que, não tendo grande rasgo de originalidade -facilmente confundida
com uma composição de Rodrigo Leão-, pode muito bem sair
vencedora. E mais: não é por acaso que o nome do intérprete é
Salvador, Salvador Sobral de seu nome. Se fosse um acaso do destino,
está de ver, chamar-se-ia António ou Manuel, que são os nomes
identificativos deste país à beira-mar plantado. Levar à final um
Salvador é mostrar ao mundo que há sempre um salvador espiritual que
nos salva em todas as situações.
Ninguém
se admire se, no futuro próximo, assistirmos a outros milagres dos Pastorinhos. Por exemplo em Coimbra, nas próximas eleições
autárquicas, que vão decorrer em Outubro, como está tudo ao
contrário -e o que parece não é-, é bem possível que Manuel
Machado, recandidato pelo PS, se mantenha no cargo mesmo contra a
vontade de muitos seus correlegionários que, a ser verdade, vão
engolir um frasco de óleo de fígado de bacalhau.
Ninguém
se abespinhe contra os santos que vão ser canonizados se não houver
surpresas na Praça 8 de Maio e o executivo, em função partidária,
se mantiver quadripartido -uma força perderá a sua representação
e a sua cadeira será substituída por outra.
Mas
haverá muitos mais prodígios por obra e graça dos Santos
Pastorinhos. Que ninguém se ria se, nas próximas eleições
presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa, o actual Presidente da
República, que esteve sempre ligado ao PSD, Partido Social
Democrata, e chegou a ser seu secretário-geral, for apoiado pelo PS,
Partido Socialista, e o PSD lhe fizer um manguito.
Fátima
vela por todos nós, herege povo humilde de Portugal.
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