COMÉRCIO TRADICIONAL
Apesar
dos últimos dados da Nielsen, uma consultora internacional que
analisa o consumo, mostrarem indicativos claros que a preferência do
consumo pelas famílias começa, em crescendo, a incidir no comércio
tradicional -cuja fatia em percentagem vale 8% do consumo total-, a
verdade é que o negócio na Baixa continua anémico. É certo que a
duração de um estabelecimento comercial novo, a meu ver, passou de
seis meses para nove, mas, mesmo assim, a confiança dos mercadores
conimbricenses, em último sopro no futuro, em decadência, prossegue pelas ruas da amargura.
Continua a assistir-se nesta zona a
uma viragem nitidamente do comércio para a indústria hoteleira.
Tudo dá a entender que pelo fluxo turístico, cujo passante pouco
compra nas lojas, o futuro desta parte da cidade velha, fora de
muros, nitidamente e tal como a zona do Quebra Costas, passará pelo
surgimento de novas casas típicas em que o fado, a canção de
Coimbra, marcará presença e identificação estudantil.
A QUEIMA DE ALGUMAS
ELEMENTARES NORMAS
A
Queima das Fitas, a festa maior dos estudantes, está aí à porta da
Lusa Atenas. Recentemente, um grupo de hoteleiros da Baixa
manifestou-se na Câmara Municipal de Coimbra contra a proibição
de, durante a festa, os estabelecimentos se poderem estenderem e
colocar na rua postos de venda de cerveja e outras bebidas.
Respeitando outras opiniões contrárias, a edilidade fez muito bem
em limitar a bagunça a que se assistiu nos últimos anos. Se
os profissionais de hotelaria detêm um espaço físico para venderem
os seus produtos, a meu ver, é um contra-senso virem colocar na via
pública colunas de cerveja e outros afins. Mas há um porém, esta
limitação só faz sentido se a autarquia proibir as marcas
cervejeiras de, como em anos anteriores, fazendo concorrência
selvagem e em completo desrespeito por quem está, espetando uma
lança em África, colocarem postos de venda a esmo e com
distribuição anárquica e em contraste com o ordenamento monumental
que se espera de uma zona protegida e classificada como Património
Mundial.
PRAÇA DO COMÉRCIO
Depois
de muito se ter escrito sobre o futuro da Praça do Comércio, e há
poucos meses uma cidadã ter posto em prática um abaixo-assinado
para repor a ordem perdida e acabar de vez com o estacionamento
selvagem na antiga praça, eis que, de repente e sem nada o fazer
prever, o executivo faz anunciar a reclassificação do nobre largo
da Baixa.
Pode parecer que estou
contra. Nada disso. É uma necessidade de obra que só peca por tardia. Tendo
em conta o virar do milénio, pela ascensão da Coligação por
Coimbra em 2001, há 16 anos que, de promessa em promessa, se espera
uma alteração que faça renascer das cinzas a dignidade ofuscada do
mais antigo mercado da cidade, que já vem do início da Idade Média.
Por parte da Câmara Municipal, há um senão que convinha esclarecer
e que não foi noticiado aquando da boa-nova: o que vai acontecer aos
vendedores ambulantes, instalados há décadas junto à Igreja de
Santiago, e à Feira de Velharias, nascida em 1991 e uma das
primeiras no país?
Se seguirmos o curso
histórico de Coimbra, as mudanças são sempre desastrosas e
catastróficas para um ou mais grupos envolvidos. Se é certo que
para uns ganharem outros, indubitavelmente, terão de perder, tenho
para mim que há uma grande insensibilidade e desrespeito por quem
precisa de ganhar a vida. Sendo um pouco pessimista nesta nova
alteração, ninguém me tira da cabeça que estamos perante uma
medida eleitoralista, sem plano de pormenor que convença, e, pelo formato disruptivo, descontextualizada. Oxalá esteja enganado. Mas
se a minha tese estiver certa, esta decisão executiva, com o
argumento das obras e “chico-espertismo” de com uma cajadada
matar dois coelhos, a coberto das alterações paisagísticas, visa
duas intenções maléficas: retirar e transferir os vendedores
ambulantes e a Feira de Velharias para o Parque Dr. Manuel Braga. Devendo ser antagónicos pelo princípio político, acabam por ser instrumentos a favor do vazio e da desertificação.
Escusado será dizer que,
a ser assim, uns e outra, desterrados para a sombra paradisíaca de
um cemitério, sem futuro que se veja, vão desaparecer a curto prazo. É triste se assim
acontecer. Mas também é verdade que, no tocante aos vendedores
ambulantes, vem trazer à tona, preto no branco, que os executivos
social-democratas e socialistas nunca tiveram um pingo de bondade e
consideração para quem exerce o seu trabalho de sobrevivência na
rua ao vento e à chuva. Uns e outros, PSD e PS, sempre
desconsideraram estes resistentes como cardos espinhosos e malvistos
numa cidade formatada ao acaso e ao deus dirá e sem atenção pelos
vendedores mais carenciados. Sem levarem em conta o passado e a
história, em vez de integrar, respeitando a idiossincrasia de todos,
excluem por regulamento. É um baralhar e dar de novo.
Já
no tocante à Feira de Velharias, se for transferida para o silêncio
das acácias em flor, este presidente, Manuel Machado, que esteve na
sua fundação, vai ficar com o encargo de escrever o epitáfio no
coval em que se vai enterrar o popular certame de coisas antigas e
usadas.
Já muito escrevi sobre o
colete de forças a que está sujeita esta feira. O seu encolhimento
continuado está a matar o seu ideal rejuvenescimento. Não se
contesta e até se concorda com o aparecimento de novas esplanadas na
Praça do Comércio. O que não se vê com bons olhos é que não se
respeite a base genética deste evento. Se nasceu aqui, tendo em
conta outros interesses, no mínimo, deve manter-se e estender-se
para as ruas largas e ruelas estreitas em redor. Se tivéssemos
pessoas responsáveis que amassem a Baixa e estivessem interessadas
na prossecução da conveniência de todos, operadores, consumidores
e cidadãos em geral, seguindo o exemplo de Aveiro, seria assim que
se faria. Acontece que, nem antes nem depois, não temos gente na
cultura com visão holística. Como os governantes do país, têm uma
vista curta de conveniência para alguns e egoísta do ponto de vista
da reeleição.
Só para melhor
exemplificar: em Coimbra a ocupação de espaço público para venda
na feira é gratuita -claro que se nada se cobra, é óbvio, nada se
faz em prol da sua continuidade. Em Aveiro, este ano, o custo por
metro quadrado duplicou. Há vendedores a pagarem por ano mais de 200
euros, e a feira continua a estender-se pelo Rossio e com cada vez
maior procura. Não era melhor inscrever algumas destas pessoas de Coimbra num
curso rápido de economia social?
TRÂNSITO
Depois
de cerca de 600 milhões de euros orçamentados para a construção
da “rotunda” do Continente, aliás do Arnado, verifica-se que o
trânsito na Avenida Fernão de Magalhães, diariamente, está um
caos. Entre a Estação Nova e a nova oval, num percurso de um
quilómetro, facilmente, a qualquer hora do dia, se pode demorar mais
de quinze minutos. Não fazemos ideia se os sinais luminosos já
estariam incluídos neste novo projecto. Se não estão,
forçosamente, terão de fazer parte e passar a estar.
CANDIDATOS À CÂMARA
Se
é certo que já se ouve o troar dos motores, ainda não foram
ligadas as máquinas em toda a sua plenitude. Batendo levemente como
se chamassem por nós, eleitores, os novos vendedores eleitorais de caça ao voto, com
as bíblias debaixo do braço e apregoando a mensagem do Messias, o
salvador, todos prometem recuperar a Baixa do atoleiro em que se
encontra. De repente, esquecendo a amizade de muitos anos, todos
apontam o cano da espingarda ao actual presidente da autarquia
acusando-o de muitas malfeitorias. É de supor que Manuel Machado,
sem dormir há muitas noites pelos telefonemas desculpabilizantes a
horas impróprias dos até aqui amigos, é de imaginar, esteja farto
desta campanha que antes de o ser já foi.
Por
parte da máquina do recandidato socialista, tendo por objecto o seu
principal opositor representante da coligação PSD/CDS/PPM, já
começou o recurso ao passado emporcalhado. Como diria o Diácono
Remédios, para um e outro: “não havia necessidade!”
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