(Imagem de arquivo)
CENA I
Ontem,
terça-feira, pouco passava das 21h00 na Praça 8 de Maio. O tempo
estava ameno, sem brisa fria a correr, fazia lembrar uma noite de
verão. O antigo Largo de Sansão estava composto com algumas
pessoas sentadas no lancil do lago central e instalado em frente ao
Panteão Nacional. A esplanada do Café Santa Cruz tinha vários pares de estrangeiros a tomar uma bebida e à sua volta, em moldura humana,
algumas pessoas, entretidas a ver a paisagem, estavam acomodadas no
corrimão de pedra que serpenteia o espaço ocupado com mesas e
cadeiras.
Um casal de estrangeiros já curvados sob o peso dos anos,
com ar molengão e despreocupados, em passo lento de passeata, quando
passava em frente à Igreja de Santa Cruz foi abordado por um indivíduo
novo, esguio e de cerca de uma trintena de anos, cabelo rapado e com
aspecto de toxicodependente. Em inglês pedia uma moeda ao par de
turistas. No percurso de vinte metros, entre o patim da igreja e a
rampa que dá acesso à Rua Visconde da Luz, o assédio foi subindo
de tom. Quando os três chegaram ao prédio do desaparecido BES,
perante a calma dos ingleses, o energúmeno, inclinado e muito irado,
já gritava a plenos pulmões: “give me a coin... CARALHO!”.
E prosseguia: “CARALHO... CARALHO!, estão a ouvir ingleses
de merda?”
Ao lado, no banco de
pedra onde costuma estar sentada a Adelaide a vender pistáchios, um
grupo de de três malfeitores iguais e com o mesmo tipo de rosto
façanhudo, talvez a darem cobertura à besta, gozavam a cena.
Encolhidos sobre si mesmo, mais que certo tentando fazer do medo
forças hercúleas, caminhando na direcção do Café Santa Cruz em
busca de ilusória protecção pela molhe humana, as únicas palavras
que se ouviram dos viajantes em trânsito pela cidade foi: “we
do not speak English” (não falamos inglês).
Com a 2.ª Esquadra
escondida pelo edifício da Câmara Municipal, a pouco mais de
cinquenta metros, nem um agente da PSP se avistava nas redondezas.
CENA
II
Ontem,
em Coimbra, realizou-se a comemoração do 139.º aniversário da PSP
. Segundo o Diário de Coimbra, “A cerimónia solene, que
decorreu no Convento São Francisco, foi encerrada por Isabel Oneto,
com a governanta a centrar atenções nos desafios que se colocam às
forças policiais.”
Continuando a citar o
jornal, “A melhoria de condições passa, notou o
superintendente Pedro Teles, “pelo reforço e qualidade dos
equipamentos e também, de uma forma especial, por conferir
funcionalidade e dignidade às instalações, quer em Coimbra (2ª
Esquadra e Esquadra de Trânsito), quer na Figueira da Foz.”
E ainda no
desenvolvimento da notícia, Manuel Machado, presidente da autarquia,
“assinalou uma acção policial “que tem contribuído para
caracterizar Coimbra como uma cidade de paz -o que motiva a visita, a
actividade económica, a cidadania, e conforta a vida aos cidadãos”.
CENA
III
Imagina-se
o casal de turistas incomodado pelo pedinte malfeitor a chegar ao
Reino Unido, todo feliz e contente, a espalhar na sua comunidade as
poderosas palavras securitárias do superintendente Pedro Teles e Manuel Machado, o
presidente da Câmara Municipal.
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