(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
FACTO I
Segundo
o Jornal Económico de hoje, “A economia portuguesa cresceu
2,8% no primeiro trimestre deste ano, face ao mesmo período do ano
passado, segundo as estimativas rápidas publicadas hoje pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta é a taxa mais elevada
em sete anos. A economia nacional não crescia a este ritmo desde o
quarto trimestre de 2007, quando o PIB expandiu também 2,8%. No
quarto trimestre de 2016, o PIB tinha registado uma variação
positiva de 2% em termos homólogos.”
FACTO II
Nesta
última quinta-feira, alegadamente por falta de cumprimento no
pagamento de ordenados de vários meses, os funcionários de uma loja
implantada há cerca de 30 anos na Baixa abandonaram o posto de
trabalho. Como pantomina de um comércio exangue, débil e sem
forças, que faz tudo para parecer o que não é, mostrando-se muito
forte e em grande crescimento, o estabelecimento, embora encerrado,
permanece de montras feitas e como se nada tivesse acontecido.
Tudo indica que, no maior
dos segredos, são mais dois funcionários que vão para o
desemprego.
FACTO III
No
último semestre do ano passado, num grande e histórico
estabelecimento, com mais de meio-século de actividade, também com
sede no Centro Histórico, cinco empregados abandonaram o posto de
trabalho alegadamente por falta de pagamento de honorários.
FACTO
IV
Conseguir
falar com os intervenientes é impossível. Os primeiros, os credores
funcionários, talvez à espera que a situação se resolva por
milagre de Fátima, recorrem ao ACT, Autoridade para as Condições
do Trabalho, e fecham-se num mutismo incompreensível e da sua boca
não se arranca um pio. Dos segundos, os empresários devedores, nada
há a declarar.
Que
dos últimos, dos patrões em incumprimento, não se fale do que está
acontecer nas suas empresas, de certo modo, até se entende pelo
sentimento de falhanço e vergonha social, já dos primeiros, dos
funcionários, custa a compreender o envolvimento num silêncio de
conluio económico. Digo eu, se pensassem menos em si, no seu umbigo,
não procederiam assim. Basta perceber que o seu mutismo acaba por
beneficiar uma certa ordem económica falsamente implantada de que
tudo está a correr pelo melhor e, em vez de se acautelar e partir
para a prevenção de casos futuros, nada se faz porque o que não é
noticiado não acontece.
EM CONCLUSÃO
Apesar
dos últimos dados da Nielsen, uma consultora internacional que
analisa o consumo, mostrarem indicativos claros que a preferência do
consumo pelas famílias começa, em crescendo, a incidir no comércio
tradicional -cuja fatia em percentagem vale 8% do consumo total-, a
verdade é que as transacções no comércio de rua continuam
anémicas e, sobretudo, as casas mais antigas continuam a cair.
Sabemos que os dados
apresentados agora do INE incidem sobre o todo nacional e, neste
caso, esta entidade não se debruça sobre áreas específicas ou
regiões. O que queremos dizer é que a coberto de uma média se pode
infringir a maior das injustiças e mostrar-se um quadro nacional que
não corresponde à realidade. Como tento descortinar, o que se
verifica na prática é uma outra veracidade. E desta ninguém fala,
escreve, ou defende.
O
que é estranho, ou talvez não, é que, por parte dos envolvidos,
não se houve lamentos profundos. Aqui e ali há um ou outro suspiro,
mas sempre em surdina. A pergunta que deveríamos fazer é a razão
deste nevoeiro, deste apagamento colectivo. Porque acontece?
1 comentário:
A crise do comércio tradicional na baixa de Coimbra não tem a ver com a saúde da economia ou falta dela, ou do poder económico dos consumidores. Tem a ver, somente, com a falta de atratividade do comércio da baixa.
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