segunda-feira, 15 de maio de 2017

EDITORIAL: UM ESTRANHO CRESCIMENTO ECONÓMICO

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




FACTO I
Segundo o Jornal Económico de hoje, “A economia portuguesa cresceu 2,8% no primeiro trimestre deste ano, face ao mesmo período do ano passado, segundo as estimativas rápidas publicadas hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta é a taxa mais elevada em sete anos. A economia nacional não crescia a este ritmo desde o quarto trimestre de 2007, quando o PIB expandiu também 2,8%. No quarto trimestre de 2016, o PIB tinha registado uma variação positiva de 2% em termos homólogos.

FACTO II

Nesta última quinta-feira, alegadamente por falta de cumprimento no pagamento de ordenados de vários meses, os funcionários de uma loja implantada há cerca de 30 anos na Baixa abandonaram o posto de trabalho. Como pantomina de um comércio exangue, débil e sem forças, que faz tudo para parecer o que não é, mostrando-se muito forte e em grande crescimento, o estabelecimento, embora encerrado, permanece de montras feitas e como se nada tivesse acontecido.
Tudo indica que, no maior dos segredos, são mais dois funcionários que vão para o desemprego.

FACTO III

No último semestre do ano passado, num grande e histórico estabelecimento, com mais de meio-século de actividade, também com sede no Centro Histórico, cinco empregados abandonaram o posto de trabalho alegadamente por falta de pagamento de honorários.

FACTO IV

Conseguir falar com os intervenientes é impossível. Os primeiros, os credores funcionários, talvez à espera que a situação se resolva por milagre de Fátima, recorrem ao ACT, Autoridade para as Condições do Trabalho, e fecham-se num mutismo incompreensível e da sua boca não se arranca um pio. Dos segundos, os empresários devedores, nada há a declarar.
Que dos últimos, dos patrões em incumprimento, não se fale do que está acontecer nas suas empresas, de certo modo, até se entende pelo sentimento de falhanço e vergonha social, já dos primeiros, dos funcionários, custa a compreender o envolvimento num silêncio de conluio económico. Digo eu, se pensassem menos em si, no seu umbigo, não procederiam assim. Basta perceber que o seu mutismo acaba por beneficiar uma certa ordem económica falsamente implantada de que tudo está a correr pelo melhor e, em vez de se acautelar e partir para a prevenção de casos futuros, nada se faz porque o que não é noticiado não acontece.

EM CONCLUSÃO

Apesar dos últimos dados da Nielsen, uma consultora internacional que analisa o consumo, mostrarem indicativos claros que a preferência do consumo pelas famílias começa, em crescendo, a incidir no comércio tradicional -cuja fatia em percentagem vale 8% do consumo total-, a verdade é que as transacções no comércio de rua continuam anémicas e, sobretudo, as casas mais antigas continuam a cair.
Sabemos que os dados apresentados agora do INE incidem sobre o todo nacional e, neste caso, esta entidade não se debruça sobre áreas específicas ou regiões. O que queremos dizer é que a coberto de uma média se pode infringir a maior das injustiças e mostrar-se um quadro nacional que não corresponde à realidade. Como tento descortinar, o que se verifica na prática é uma outra veracidade. E desta ninguém fala, escreve, ou defende.
O que é estranho, ou talvez não, é que, por parte dos envolvidos, não se houve lamentos profundos. Aqui e ali há um ou outro suspiro, mas sempre em surdina. A pergunta que deveríamos fazer é a razão deste nevoeiro, deste apagamento colectivo. Porque acontece?

1 comentário:

Anónimo disse...

A crise do comércio tradicional na baixa de Coimbra não tem a ver com a saúde da economia ou falta dela, ou do poder económico dos consumidores. Tem a ver, somente, com a falta de atratividade do comércio da baixa.