(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Ao
que parece, na última semana de Queima das Fitas do Porto, ocorrida
há poucos dias, uma rapariga foi violada, com introdução de uma
mão masculina nas partes genitais, dentro de um autocarro de
transportes colectivos no Porto. Este acto, que nos deve fazer pensar
a todos, foi visionado pelos passageiros do veículo e filmado pelos
colegas do agressor. Pelos vistos, ninguém moveu um dedo para acudir
à rapariga -no vídeo não se percebe se o ataque foi, ou não,
consentido pela vítima. Aparentemente, pelo descontrolo da mulher,
parece não ter sido com consentimento. Mesmo a sê-lo, a passividade
dos ocupantes do veículo deve fazer questionar o que está acontecer
com a sociedade. Alegadamente, as imagens foram difundidas nas redes
sociais.
O
jornal Correio da Manhã noticia o facto e colocou o vídeo online
salvaguardando as identidades das pessoas envolvidas em causa. Pode o
jornal ser acusado de estar a fazer um jornalismo de caserna por
difundir o vídeo e fazer disso uma notícia? Pode sim. Nas redes
sociais, por muita gente, a direcção do jornal foi acusada do pior,
de aproveitamento, e até de patologia mental.
Começo
com duas ressalvas. A primeira, só agora visualizei o vídeo -e isto
pode até parecer que não o fiz anteriormente para não entrar na classificação
de voyeur, mas não é nada disso. Por acaso, escrevi este
texto antes de o ver. Quero dizer que ao manifestarmos uma opinião
temos obrigação de começar por ler a notícia -ou neste caso ver o
vídeo. Depois, se não tivermos hipótese de outro contraditório,
tendo em conta os factos apresentados, maturar as premissas até
chegar à (nossa) conclusão. Espicaçando o nosso espírito crítico,
devemos perguntar-nos se, passivamente, aceitamos a explicação
dada, ou seja, se, dentro da ilicitude e prevaricação humanas, nos
parece razoável e não entra nos mitos criados nas redes sociais
-que faz com que se embandeire em arco em sindroma de carneirada. Na
segunda emenda, declaro que não sou leitor diário do Correio da
Manhã (CM).
Isto
tudo para dizer que, apesar de alguns apregoados erros de informação
dados pelo CM -e quem não os dá?-, tenho um enorme respeito por
este órgão de informação. Goste-se ou não do género popular (ou
populista), é o único meio de informação nacional que está em
todas -com o devido exagero, naturalmente. Sabendo todos a
acentuada crise que se está a verificar na imprensa escrita -que, na
generalidade, só noticiam casos em que se verifiquem mortes ou muito
sangue-, o CM é um caso de estudo num país com cerca de 8% de
iliteracia pura e dura. Tiro o chapéu a este jornal diário pelo
serviço público que presta a Portugal.
Passando ao caso em concreto do vídeo, agora que já o visionei, devemos matar o mensageiro e absolver os vândalos que lhe deram origem? Quem está doente e a precisar de tratamento? O jornal ou a sociedade? Imagine-se que o CM não dava notoriedade a este caso que afronta as mais elementares regras societárias, será que alguma vez este assunto seria ponto de discussão? Por uma questão de pudor social (muitas vezes assente numa elevada hipocrisia) devemos assobiar para o lado e fazer de conta que não se passa nada? Então, entre um DEVER (de escolher as notícias, entre as que não provoquem choque e outras) e um DIREITO público de informar, a seu ver leitor, qual o que deve prevalecer? O DEVER ou o DIREITO?
Passando ao caso em concreto do vídeo, agora que já o visionei, devemos matar o mensageiro e absolver os vândalos que lhe deram origem? Quem está doente e a precisar de tratamento? O jornal ou a sociedade? Imagine-se que o CM não dava notoriedade a este caso que afronta as mais elementares regras societárias, será que alguma vez este assunto seria ponto de discussão? Por uma questão de pudor social (muitas vezes assente numa elevada hipocrisia) devemos assobiar para o lado e fazer de conta que não se passa nada? Então, entre um DEVER (de escolher as notícias, entre as que não provoquem choque e outras) e um DIREITO público de informar, a seu ver leitor, qual o que deve prevalecer? O DEVER ou o DIREITO?
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