(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Segundo
a Wikipédia, “A
hipocrisia é o ato de fingir ter crenças,
virtudes, ideias
e sentimentos
que a pessoa na verdade não as possui. A palavra deriva do latim
hypocrisis e do grego
hupokrisis ambos significando a representação de um ator, atuação,
fingimento (no sentido artístico). Essa palavra passou mais tarde a
designar moralmente pessoas que representam, que fingem
comportamentos.”
O
país e o mundo ao longo da história antiga e contemporânea estão
cheios de exemplos. Só para exemplificar um caso recente, basta
relembrar o artigo de opinião de M. Fátima Bonifácio, com o título
“Podemos? Não, não
podemos”, publicado no
último Sábado, no jornal PÚBLICO
– para quem não leu, tratava-se
de uma análise da historiadora, e colunista, ao pressuposto do tema “PS
quer discriminação positiva para as minorias étnico-raciais”.
O que perorava Fátima Bonifácio? Tão só uma opinião, que,
concordemos ou não, é a dela, e, pelos direitos civis e
constitucionais, que a assistem, temos de (deveríamos) respeitar. Em
nome do pluralismo de opinião, cujo resultado final resulta do
debate entre prós e contras, todos deveríamos pugnar pela liberdade
de manifestação individual.
Ora,
numa intolerância a todos os níveis, estamos a verificar uma
catadupa de asneiras que ainda vai acabar mal. Seja em nome do “politicamente
correcto”, ou talvez
porque a maioria, olhando
para este caso como se não lhe dissesse respeito, a
verdade é que os alegados membros da defesa das minorias partem
a loiça toda e, numa intransigência inqualificável, ostracizam
e prometem
acções judiciais contra a escritora. Está
na moda sobrevalorizar os minoritários e desvalorizar os que,
pensando pela sua cabeça, discordam de
teses estúpidas e formatadas.
Numa espécie de reviralho legalista, tendo em conta que o respeito
se conquista, tenta-se impor pela
força coercitiva o
reconhecimento através da lei.
Para
piorar, e podermos conjecturar que as liberdades de opinião e de
livre-expressão estão ameaçadas por estes perigosos
polícias censores, no dia a
seguir, ou seja, no Domingo, o director do PÚBLICO, Manuel Carvalho,
em editorial, espetando uma faca na barriga publicamente
– em metáfora, é claro -,
veio pedir
desculpa aos leitores por ter permitido a publicação da
historiadora no jornal em que é (um mau) director. Uma
tristeza que faz doer -pelo menos a mim, que sou leitor diário do
matutino.
E
agora, largando atentados à
dignidade que nos deveriam
envergonhar a todos, vou prosseguir no caso que me levou a escrever,
e que também se insere na coluna da hipocrisia social que nos domina
e, pela não intervenção cobarde da maioria que prefere não se
manifestar, que há-de acabar por institucionalizar uma ortodoxa doutrina
dominante.
Também no jornal Público de
ontem, na edição em papel, na
página 14, sob o título “A
cidade enquanto laboratório de democracia”,
em texto de opinião, insignes subscritores advogavam a defesa da
revitalização da democracia, e que “urge
aproximar os cidadãos da tomada de decisões e credibilizar o
sistema político”.
Acontece
que um dos signatários do manifesto é o
conimbricense José
António Bandeirinha. Sendo
figura de proa na cidade dos
estudantes, é professor catedrático
e investigador do Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra. Para
além das suas funções
de Pró-Reitor para
a Cultura da Universidade de
Coimbra e outros cargos de
relevo que tem ocupado,
Bandeirinha, em 2013, foi
também deputado municipal, em representação do movimento Cidadãos
por Coimbra. Em 2008, foi ainda membro activo do movimento nascido
em Coimbra “Pelo
direito à cultura e pelo dever de cultura!”,
postado num blogue na Internet, em que se pedia a assinatura
online, apelidado de “Amigos
da Cultura”.
É
preciso esclarecer que este tempo foi entre 2001 e 2013, ou
seja, no período do governo local, PSD/CDS/PPM, conotado com a
direita.
Acerca
da possibilidade de intervenção política dos munícipes na Câmara
Municipal de Coimbra, Executivo e Assembleia Municipal, qualquer
citadino minimamente informado sabe o que se passa actualmente
nos dois fóruns da cidade. E,
diga-se sem pejo,
com a descarada conivência da imprensa local.
Então
deixo umas interrogações ao professor Bandeirinha: estando farto de
saber o que se passa na cidade, por que razão ainda não ouvi uma
frase sua a denunciar esta violação do direito individual e colectivo
dos cidadãos? Será por a cadeira do poder municipal estar a ser ocupada
pela esquerda?
Não
acha ridículo vir, através dos jornais, apelar aos portugueses que
se movimentem no sentido de ouvir a sua voz individual e agrupada quando na sua própria terra o governo local, com subterfúgios,
impede a participação política e faz pouco de todos?
Confesso
que me apetece mandar-lhe um manguito, na forma de cruzar os braços
`do “Zé Povinho”,
na figura estilizada de Bordallo Pinheiro. Mas não. Como o conheço
há muitos anos e tenho algum respeito por si, fico-me só pelo
pensamento.
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