sábado, 6 de julho de 2019

EDITORIAL: A NOSSA IMPRENSA LOCAL, OS NOSSOS ELEITOS E O BATER EM FERRO FRIO

(Vídeos realizados por Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra -para quem endereçamos o nosso mais profundo agradecimento)




Conforme dei conta em várias crónicas, há cerca de uma semana, depois de devidamente inscrito, marquei presença na Assembleia Municipal de Coimbra. Como, alegadamente e e se pode depreender, era intenção do presidente do parlamento local, Luiz Marinho, boicotar a minha prestação, numa cena próxima de um país terceiro-mundista, acabou por, a contra-gosto, no meio de gritos histéricos, ter de me incluir na ordem de trabalhos.
Admito que, trazendo este assunto outra vez à colação, já canso quem me lê. Mas, mesmo assim, pedindo uns minutos de reflexão ao leitor, rogo mais uns momentos de atenção.
Começo pelos parlamentares na assembleia, perante a medíocre prestação do maestro que conduzia a orquestra, não deveria ser obrigação de todos os representantes políticos indignarem-se e chamarem a atenção para o que ali aconteceu? Ao calarem a agressão a um cidadão, o que os nossos políticos eleitos no fórum da cidade fizeram, legitimando a acção, foi dar um voto de confiança a uma pessoa que, alegadamente, não possui qualidades para ser um “juiz” que, conjuntamente com outros, comanda, arbitra e fiscaliza um grupo de eleitos num órgão importantíssimo. Por que o fizeram, sobretudo a maioria de eleitos PSD/CDS, já escrevi um texto a explicar: ninguém é contra a brutalidade se já fez o mesmo quando era poder e ocupou o mesmo lugar.
Ainda neste vale de lágrimas, vale a pena fazer um resumo acerca dos comentários nas redes sociais, de onde vêm e para onde querem ir – sobretudo na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial), que, salvo melhor opinião, deve ser o sítio que melhor espelha a idiossincrasia dos conimbricenses interessados na vida da polis. Foram muitos os que se indignaram com veemência contra o desrespeito do senhor Luiz Marinho. A maioria destes comentadores são cidadãos sem rabo preso a partidos. Opinam pela paixão que os une à cidade e pela ilegalidade que lhes toca a sensibilidade à flor da pele.
Dos nomes sonantes da urbe, com peso no aparelho partidário, lugares de topo, nomeadamente lentes do ensino superior e directores gerais, nem um só se manifestou a insurgir-se contra aquela atrocidade. Mas, a meu ver, também não admira, Coimbra é uma cidade que, num classicismo notório, gira a dois movimentos: a classe Baixa, onde cabem todos os desapontados com este sistema discriminador, onde me incluo, e a classe Alta. Nesta classe Alta, incluem-se professores universitários, profissões bem remuneradas, políticos partidários e famílias abastadas. Estes grupos raramente se manifestam - e se o fizerem é sempre na linha dinástica da sua consanguinidade – porque, por um lado, temem ser prejudicados em investimentos futuros, por outro, sabem que amanhã irão estar no poder, ou ter algum familiar no mesmo grupo decisório.
Curiosamente, vale a pena analisar as forças partidárias locais que interagem nesta página pluralista, não oficial, de - embora grupo fechado e carecendo de inscrição prévia - expressão pública aberta a todos.
Falando apenas do início deste milénio, com o PS a governar a cidade desde 2013, embora todos os vereadores façam parte e tenham acesso à página virtual, raramente algum deles desce à terra (isto é, ao nível do cidadão comum) para comentar qualquer assunto. Porquê? Podemos perguntar? Porque teme o confronto democrático com os munícipes. Os cidadãos que criticam, a seu ver, são inimigos a abater. São os que, por serem do contra, colocam o “pau na roda”.
E o PSD? Durante três mandatos autárquicos, entre 2001 e 2013, coligado com outras forças políticas, foi poder na cidade. Em 2013, num choque que ainda não recuperou, perdeu as eleições para o PS. Como desempenhou e deu azo a mais de uma década de completo marasmo para Coimbra, perdendo uma oportunidade de ouro para o desenvolvimento local, não ousa vir para a praça pública confrontar os cidadãos. Para além disso, na Lusa Atenas, aparentemente, o futuro não se mostra auspicioso para combater o PS. Daí, a meu ver, raramente se expor na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial).
E o CDS/PP? Apesar de coligado com o PSD durante os doze anos de mandato, embora aqui e ali, sem dar muito nas vistas, o seu líder local, assumindo o papel de charneira que lhe cabe e sabendo encaixar as críticas, não se escondendo atrás do biombo, vai publicando e comentando crónicas e comentários de munícipes.
A CDU, através do seu vereador ou algum membro de topo da direcção local da coligação, que me lembre, nunca comentou ou publicou qualquer notícia. E porquê? Bom, as explicações poderão ser tantas quanto a simpatia que cada um nutre mas, a meu ver, a CDU, sofrendo do complexo colaboracionista, que, se não abreviar caminho, a há-de fazer perder o único vereador que detém na Câmara Municipal, teme ser ridicularizado pelos cerca de sete mil membros que compõem o sítio virtual.
O CpC (Cidadãos por Coimbra), que, embora elegendo dois deputados para a Assembleia Municipal, perderam o seu único vereador no executivo, ainda estão a digerir o desastre que os atingiu em 2017. De certo modo também, digo eu, por se julgarem de esquerda e mais iluminados, acima do comum mortal, é seu entender que os que não comungam das suas opiniões são contra a sua doutrina. Portanto, considerando a página virtual como inclinada à direita, para eles, não é sítio recomendável.
O PPM e o MPT, em que cada um elegeu um deputado à Assembleia, cultivando uma certa superioridade moral de elite e sendo, à sua maneira, marginais do sistema eleitoral, poucos conhecendo os seus representes na cidade, também não se esforçam muito para fazer passar a sua mensagem. Por esta e outras razões, está tudo dito.
E, no espectro partidário, falta então falar do movimento Somos Coimbra. Sabendo que a sua sobrevivência futura, a recomeçar em 2021, assenta em, no mínimo, manter os seus dois vereadores; no suficiente mais, furtar um eleito ao PSD e eleger mais um; no intermédio, passar a quatro representantes, roubando um ao PS e outro ao PSD; e, no máximo, ganhar a Câmara Municipal com cinco vereadores. É esta prova de vida que faz correr contra o tempo o seu coordenador. Uma forma histórica de proceder na cidade já conseguiu: sem medo de se apresentar à crítica social, o interagir com outros cidadãos marca a ferros esta época pouco diferenciadora.


MAS, DIGA-ME, NÃO ERA PARA FALAR DA IMPRENSA LOCAL?


De facto, comecei a escrever esta crónica apenas com intenção de focar o desempenho da imprensa local na última Assembleia Municipal. Acontece que, como o escrever é o meu mundo desconhecido de prazer, muitas vezes nunca sei onde vou parar.
Mas, mesmo já sendo este texto comprido como o raio que me ilumine na vida, ainda lá vou. Quem leu os jornais diários locais do último Sábado, nomeadamente o Diário as Beiras e o Diário de Coimbra, apercebeu-se que nenhum deles fez qualquer referência ao histerismo do presidente do parlamento. Preferindo ambos por centralizarem o meu desempenho, optaram ambos por passar por cima do que do ponto de vista jornalístico aconteceu. Isto, esta reiterada opacidade é bom para a cidade? É assim que o leitor médio, aquele que busca informação em papel, vai fazer aumentar as tiragens? Bem sei, sem esquecer, que me publicam as minhas cartas nas suas páginas do leitor, mas, com franqueza, gostava de ter em Coimbra uma imprensa independente, aguerrida, sem receio de confronto com o poder.
No semanário Campeão das Províncias, num hábito que se vai tornando mais costume, nem uma linha nas “Vinagretas”. Os contraventores agradecem o curvar de espinha dorsal.
Por último, não posso esquecer aqui o Fernando Moura – o único jornalista, interventor, que soletro o nome -, do jornal online Notícias de Coimbra. Sem ele, sem as suas imagens gravadas em vídeo nas sessões de Câmara, Coimbra seria sempre a cidade do Desconhecimento.



1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde Luis,já perdi a conta ás vezes que vi este video(particularmente os minutos iniciais) e estou chocado,não tenho outra palavra para descrever o que sinto.Será que quando estava no parlamento europeu,a «mamar» uns milhares euros dos contribuintes,este senhor tinha este comportamento e educação? Tenho acompanhado com interesse a odisseia do Luis Quintans em fazer-se ouvir,em defender os interesses dos residentes da baixa e especialmente os comerciantes.Mas nada como um video,as imagens e o audio falam por si! Uma coisa é ler um post destas «reuniões» outra é ver e ouvir numa gravação,pois nesta as declarações,o tom jocoso,ironico,ordinario mesmo,já para não falar nos tiques ditatoriais espelhados nas exigências e regulamentos camararios usados da maneira que lhes convem,de modo a calar os municipes,nomeadamente o Luis que por alguma razão lhes é tão incomodo.
Luis desejo toda a força para continuar a sua luta,por todos os conimbricenses,em fazer-se ouvir.É um direito democratico a liberdade de expressão,nem que seja para dizer as maiores palermices ou asneiras,mas tentar calar um municipe desta maneira e com esta frequência,começa a roçar o ridiculo.De que tem medo este executivo? estranho este comportamento!

Um abraço,Marco