(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
O
dia
18 de Abril do ano da graça
de 2019 vai ficar na história de um país pacóvio, atrasado, do opróbrio, onde o
desrespeito pelos eleitos ao munícipe cidadão assentou praça e,
pelos vistos, promete continuar. Ontem, na sessão de câmara aberta
à intervenção do público bateu-se um recorde que deveria constar
no Guinness.
Segundo
o Regimento das Reuniões da Câmara Municipal de Coimbra, artigos
10º e 14º ponto 1,
“As
reuniões ordinárias da Câmara Municipal são públicas, com o
período de Intervenção do Público a que se refere o artigo 10.º
a ocorrer pelas 17h00m”.
Ontem,
facto
anormal para o costume,
havia
três munícipes
inscritos para
intervir.
Para melhor se perceber a postura democrática, o sentido de
imparcialidade do
presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel
Machado, vale
a pena resumir o desempenho de cada um.
O
primeiro, uma
senhora pertencente aos corpos gerentes da Associação de Ginástica
do Centro,
começou a falar às 21h15. Portanto quatro horas e quinze minutos
depois da hora aprazada. Durante
12
minutos, sem que fosse interrompida, expôs o motivo que a levou ali.
A
seguir ocupou a cadeira pública um gestor da empresa Renovalar.
Durante cerca
de 30 minutos
este representante empresarial tomou a palavra. Sem
grande intenção de o demover da leitura, já para o final, Machado
alertou o munícipe para concluir – vale a pena contar os passos
perdidos que este senhor ali, no hemiciclo, percorreu durante as mais
de quatro horas para fazer valer o seu direito a intervir. Sem darem
nas vistas, os adjuntos da presidência fizeram tudo, incluindo
dizer-lhe repetidamente que não estava inscrito – ao que ele, com
persistência digna de nota, por várias vezes levantou o
requerimento de inscrição. Embora nervoso, pelo (des)tratamento
recebido, andando de um lado para o outro e chegando a interromper a
sessão, manteve-se firme na sua convicção e acabou a defender a
sua tese. Para quem se apercebeu, foi notório o esforço por parte
dos adjuntos camarários para que este empresário não se sentasse
na cadeira do “suplicante”.
A
seguir fui eu. Levando ao executivo um assunto que preocupa
demasiadamente os operadores da Baixa, em meu nome e em representação
de mais cinco comerciantes, propus-me ler um texto com a duração de
oito minutos – fiz o teste de
tempo antecipadamente.
Comecei
por uma ressalva: que o presidente deveria mandar erguer uma estátua
naquela sala alegórica ao munícipe sofredor resistente. Como eram
22h00, portanto há 5h00 na sala, quem pagava o jantar? Interroguei
com uma pitada de humor. Quando
estava sensivelmente a meio da
exposição,
portanto cerca de cinco minutos depois, comecei a ser interrompido
por Machado para
finalizar.
Como eu continuasse serenamente,
o edil
recorreu ao
sistema de microfone para provocar ruído e impedir a minha
continuação. De pouco valeu a minha argumentação de que estava a
ser injusto, já que para os anteriores interlocutores não
manifestou o mesmo procedimento.
MAS
VALE A PENA CONTAR O QUE VINHA DE TRÁS
Inscrevi-me
na Secção de Atendimento ao Munícipe no dia 29 de Março para
intervir na sessão camarária anunciada para o dia 8 de Abril. Neste
dia, por volta das 17h00, dirigindo-me à sala de reuniões, dei com
a porta trancada. Sem uma comunicação prévia a avisar-me, a sessão
tinha sido adiada para o dia 16, uma semana e pouco depois. Novamente
sem qualquer aviso dos serviços do Gabinete de Apoio ao Presidente,
a sessão foi adiada para o dia 18, ontem, Quinta-feira.
Agora,
por favor, respire que vai ficar pasmado. Às
15h46 desta Terça-feira, antes de ontem, portanto a menos de
quarenta e oito horas da reunião, recebi um e-mail do Gabinete de
Apoio ao Presidente em que
se transcrevia:
“Na
sequência do requerimento que deu entrada nesta Câmara Municipal
(…) vimos informar o seguinte:
(…)
No entanto, verifica-se que não indica qual o assunto especificado
que pretende tratar, nem é remetida qualquer documentação de
suporte, nem a que lhe confere legitimidade para representar os
comerciantes, nem identifica quais os comerciantes que pretende
representar.
(…)
Assim, não se verificam os requisitos para que possa participar na
próxima reunião da Câmara Municipal.”
Ou
seja, para além de, contrariamente ao plasmado, o requerimento de
inscrição ter o assunto especificado, durante 19 dias não houve a
preocupação de informar dos vários adiamentos da reunião e para
verificar se o processo de inscrição estava completo com documentos
de suporte necessários. No entanto, a menos de quarenta e oito
horas, para dar um aspecto legal ao procedimento, informava-se que,
como não se verificavam os requisitos, não podia participar.
Acontece
que, embora quase todos conheçam a besta superficialmente – que
sou eu, naturalmente -, em boa verdade, sobretudo quando tentam
espezinhar-me, não imaginam do que sou capaz. A toda a pressa,
consegui reunir as procurações em falta e, cerca das 16h00 de
Quarta-feira, apresentei-me na autarquia e exigi a conclusão do
processo e que me fosse garantida a inscrição para a reunião de
ontem. Em especulação, Caiu o Carmo e a Trindade. Não estavam à
espera desta minha reacção.
Começaram
por dizer que não era possível, que não havia tempo, e mais isto e
mais aquilo. Como estava certo da minha razão, disse apenas: se não
me for garantida a inscrição para amanhã (ontem), vou elaborar um
protesto no Livro de Reclamações e apresentar uma exposição à
entidade reguladora que fiscaliza o procedimento das Câmaras
Municipais. Pediram-me que não elaborasse a queixa e
que lhes desse uma hora para me comunicarem a decisão.
Impreterivelmente, uma hora depois tinha a resposta: podia participar
na sessão pública.
ESTE
MURO DE DIFICULDADES É, OU NÃO, INTENCIONAL?
Para
fazer analogia, vale a pena recorrer ao passado. No “Ancien
regime”, como quem diz no tempo da Coligação PSD/CDS,
só uma reunião por mês era aberta ao público. Já nesse tempo me
manifestei contra o desrespeito que havia pelos munícipes. Veio 2013
e, com novo governo autárquico, Manuel Machado, com pompa e
circunstância, alterou o Regimento da Câmara Municipal para todas
as sessões abertas ao público.
Acontece
que, apesar de se aparentar uma maior liberdade de acesso, com este
poder socialista, as regras de ingresso estão muito mais
dificultadas. Sem conseguir disfarçar, o presidente faz tudo para
“enxovalhar”
os munícipes que ali se deslocam – já fez o mesmo comigo. Estando
eu regularmente inscrito, virou-me as costas sem mandar verificar.
Até hoje não houve um pedido de desculpas. Por isso mesmo, agora, estou em todas as reuniões.
E
ainda mais, é normal o presidente no início da explanação do
munícipe avisar que “tem
3 minutos”
para apresentar o assunto. Como se lê no Regimento, o tempo
regulamentar é de 10 minutos.
Mais
ainda: ontem, durante cerca de três horas, a sala das reuniões foi
pequena para tão grande assistência. Durante mais de três horas
muitas pessoas estiveram em pé, sem direito a uma cadeira para se
acomodarem – quando ao lado, com uma porta a separar, cerca de uma
centena de assentos permaneciam no silêncio do Salão Nobre.
Para
dar maior dignidade ao acto, por que não se transferem as reuniões
do executivo para o Salão Nobre?
Por outro lado, o que esperam para passarem o período reservado à intervenção do público para o início das sessões? Ou, mantendo-se assim, dá jeito para desmotivar o citadino? Mas, não é verdade que, sobretudo em tempo de eleições, andam sempre a apelar à participação política do cidadão? Por que nos fazem perder tempo? Vale mais dizerem claramente: Não venham chatear quem cá está, que não temos tempo para vos ouvir!
Por outro lado, o que esperam para passarem o período reservado à intervenção do público para o início das sessões? Ou, mantendo-se assim, dá jeito para desmotivar o citadino? Mas, não é verdade que, sobretudo em tempo de eleições, andam sempre a apelar à participação política do cidadão? Por que nos fazem perder tempo? Vale mais dizerem claramente: Não venham chatear quem cá está, que não temos tempo para vos ouvir!
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