segunda-feira, 15 de abril de 2019

EDITORIAL: A BAIXA ESTÁ DE LUTO?







Como foi amplamente noticiado aqui no blogue - e também nos dois diários locais, o Diário de Coimbra e Diário as Beiras – há uma semana, um operador (ou vários), que assinava no final de um pequeno texto como “Comerciante desesperado”, portanto sem se identificar, desafiava os colegas a colocarem faixas negras nos estabelecimentos no dia 15 de Abril, “em sinal de luto pela nossa Baixa, de modo a chamar a atenção de todos os residentes de Coimbra para a nossa realidade.
Hoje é 15 de Abril. Tendo em conta o declínio que está acontecer no comércio de rua, mesmo sendo o convite inserto na mensagem a coberto do anonimato, será de supor que, no leque de cerca de quatro centenas de estabelecimentos existentes, muitos, mas muitos, terão aderido à convocação. Teria sido assim? Ou antes pelo contrário?
É assim, se não houve seguidores no apelo, mais que certo, é porque não se sentiram representados por alguém que não se dignou dar a cara. Seria esta a razão?
A ser assim, por silogismo, na próxima Quinta-feira, dia 18, pelas 17h00, na qualidade de munícipe, identificado e de rosto descoberto, como vou estar na sessão de câmara e levar ao executivo o desastre que se está a assistir na Baixa, está de ver que o pequeno salão das sessões não vai chegar para albergar tantos comerciantes que, por se se sentirem representados, vão fazer questão de marcar presença. Será assim? Claro que não. Se aparecer uma dúzia de operadores será muito.
Sublinho que esta reunião de câmara, que vai acontecer na próxima Quinta-Feira, esteve inicialmente marcada para o dia 08 deste Abril. Depois passou para amanhã, terça 16. Agora, a pedido da oposição, foi remarcada para a próxima Quinta-feira, dia 18. Tal qual como a dilação de amanhã, sem que o adiamento me fosse comunicado oficialmente, as inscrições de munícipes para intervir no executivo continuam a não merecer qualquer respeito.


MAS A BAIXA, ALEGADAMENTE, NÃO ESTÁ DE LUTO?


Como escrevi há dias, dentro da principal perturbação comercial cabem outras crises muito mais profundas e que, ocultas do público em geral, transformam a decadência económica num detalhe de mero pormenor. Sem união, sem carácter de autenticidade, com guerrilhas no seu seio, internas, e desconhecimento intencional de alguma envergonhada representação de classe, conseguir reivindicar melhores condições de vida profissional para o comércio é o mesmo que pretender um ambiente perfumado num lago de águas putrificadas e mal-cheirosas. Com a maioria a empobrecer e uma minoria a enriquecer, os comerciantes em depauperada insuficiência económica, pela falta de coragem em se afirmarem, têm o que merecem! Ponto e parágrafo!
A haver algum luto nesta Baixa será pela memória dos que faliram e, depois de uma vida de trabalho, saíram mais pobres do que entraram.
Dos que (ainda) exercem (incluindo-me no lote) não reza a história. De vontade pusilânime, fracos de hombridade, caminham de espinha curvada e como na síndrome de Estocolmo, pelo prolongado tempo submetidos ao agressor, adoram curvar-se à cerimónia do beija-mão (para não dizer beija-cu).


MAS, AFINAL, QUANTOS COLOCARAM FAIXAS PRETAS?


Como era de calcular, embora passível de erro de contagem, apenas 25 operadores colocaram hoje tarjas pretas nas montras dos seus estabelecimentos.
Não deixa de ser curioso o que acontece nas ruas principais onde, alegadamente, a fiscalização camarária está actuar com maior repressão. Apenas duas lojas colocaram faixa preta: a Portugal Moedas e a Sportino, na Rua Visconde da Luz. Na Rua Ferreira Borges nem um único estabelecimento se manifestou.
Na Rua da Sofia quatro lojas ostentam a marca do protesto.
No Terreiro da Erva um estabelecimento manifestou-se em solidariedade.
Na Rua Dr. Manuel Rodrigues um único operador contesta.
No Largo da Freiria duas lojas declaram-se a favor dos protestantes.
Na Rua Adelino Veiga quatro montras ostentam a fita preta.
Na Rua da Louça quatro lojas juntaram-se ao grupo de reclamantes.
Na Praça do Comércio quatro lojas reclamam deste estado apático – aqui com uma nota de profunda admiração para Manuel Mendes, um dos mais idosos comerciantes em actividade. Como a dar uma bofetada sem mão aos mais novos, este homem, sem necessidade financeira para o fazer, renegando submeter-se ao sistema de abandono a que a Baixa está votada, solidariza-se com os seus três estabelecimentos para os que mais precisam.
No Adro de Cima um ponto de venda demarca-se dos acomodados e protesta.
No Largo de Sargento-mor um lojista manifesta-se com fita preta.
Na Rua da Gala um conhecido restaurante ostenta uma larga faixa e associa-se ao manifesto.
Como diria o meu avô Crispim, são poucos mas bons.

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