Como
foi amplamente noticiado aqui no blogue - e também nos dois diários
locais, o Diário de Coimbra e Diário as Beiras – há uma semana,
um operador (ou vários), que assinava no final de um pequeno texto
como “Comerciante desesperado”, portanto sem se
identificar, desafiava os colegas a colocarem faixas negras nos
estabelecimentos no dia 15 de Abril, “em sinal de luto pela
nossa Baixa, de modo a chamar a atenção de todos os residentes de
Coimbra para a nossa realidade.”
Hoje
é 15 de Abril. Tendo em conta o declínio que está acontecer no
comércio de rua, mesmo sendo o convite inserto na mensagem a coberto
do anonimato, será de supor que, no leque de cerca de quatro
centenas de estabelecimentos existentes, muitos, mas muitos, terão
aderido à convocação. Teria sido assim? Ou antes pelo contrário?
É
assim, se não houve seguidores no apelo, mais que certo, é porque
não se sentiram representados por alguém que não se dignou dar a
cara. Seria esta a razão?
A
ser assim, por silogismo, na próxima Quinta-feira,
dia 18, pelas 17h00,
na qualidade de munícipe, identificado e de rosto descoberto, como
vou estar na sessão de câmara e levar ao executivo o desastre que
se está a assistir na Baixa, está de ver que o pequeno salão das
sessões não vai chegar para albergar tantos comerciantes que, por
se se sentirem representados, vão fazer questão de marcar presença.
Será assim? Claro que não. Se aparecer uma dúzia de operadores
será muito.
Sublinho
que esta reunião de câmara, que vai acontecer na próxima
Quinta-Feira, esteve inicialmente marcada para o dia 08 deste Abril.
Depois passou para amanhã, terça 16. Agora, a pedido
da oposição, foi remarcada para a próxima Quinta-feira, dia 18.
Tal qual como a dilação de amanhã, sem que o
adiamento me fosse comunicado oficialmente, as
inscrições de munícipes para intervir no executivo continuam a
não merecer qualquer respeito.
MAS
A BAIXA, ALEGADAMENTE, NÃO ESTÁ DE LUTO?
Como
escrevi há dias, dentro da principal perturbação comercial cabem
outras crises muito mais profundas e que, ocultas do público em
geral, transformam a decadência económica num detalhe de mero
pormenor. Sem união, sem carácter de autenticidade, com guerrilhas
no seu seio, internas, e desconhecimento intencional de alguma
envergonhada representação de classe, conseguir reivindicar
melhores condições de vida profissional para o comércio é o mesmo
que pretender um ambiente perfumado num lago de águas putrificadas e
mal-cheirosas. Com a maioria a empobrecer e uma minoria a enriquecer,
os comerciantes em depauperada insuficiência económica, pela falta
de coragem em se afirmarem, têm o que merecem! Ponto e parágrafo!
A
haver algum luto nesta Baixa será pela memória dos que faliram e,
depois de uma vida de trabalho, saíram mais pobres do que entraram.
Dos
que (ainda) exercem (incluindo-me no lote) não reza a história. De vontade pusilânime, fracos de hombridade, caminham de espinha curvada e como na síndrome
de Estocolmo, pelo prolongado tempo submetidos ao agressor, adoram
curvar-se à cerimónia do beija-mão (para não dizer beija-cu).
MAS,
AFINAL, QUANTOS COLOCARAM FAIXAS PRETAS?
Como
era de calcular, embora passível de erro de contagem, apenas 25 operadores colocaram hoje tarjas pretas nas
montras dos seus estabelecimentos.
Não
deixa de ser curioso o que acontece nas ruas principais onde,
alegadamente, a fiscalização camarária está actuar com maior
repressão. Apenas duas lojas colocaram faixa preta: a Portugal
Moedas e a Sportino, na Rua Visconde da Luz. Na
Rua Ferreira Borges nem um único estabelecimento se manifestou.
Na
Rua da Sofia quatro lojas ostentam a marca do protesto.
No
Terreiro da Erva um estabelecimento manifestou-se em solidariedade.
Na
Rua Dr. Manuel Rodrigues um único operador contesta.
No
Largo da Freiria duas lojas declaram-se a favor dos protestantes.
Na
Rua Adelino Veiga quatro montras ostentam a fita preta.
Na
Rua da Louça quatro lojas juntaram-se ao grupo de reclamantes.
Na
Praça do Comércio quatro lojas reclamam deste estado apático –
aqui com uma nota de
profunda admiração para Manuel Mendes, um dos mais idosos
comerciantes em actividade. Como a dar uma bofetada sem mão aos mais
novos, este homem, sem necessidade financeira
para o fazer,
renegando submeter-se ao sistema de abandono a que a Baixa está
votada, solidariza-se com os seus
três estabelecimentos para os que
mais precisam.
No
Adro de Cima um ponto de venda demarca-se dos acomodados e protesta.
No
Largo de Sargento-mor um lojista manifesta-se com fita preta.
Na Rua da Gala um conhecido restaurante ostenta uma larga faixa e associa-se ao manifesto.
Na Rua da Gala um conhecido restaurante ostenta uma larga faixa e associa-se ao manifesto.
Como
diria o meu avô Crispim, são poucos mas bons.
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